quarta-feira, agosto 29, 2007

in[San]os


"Ela amava o muro de concreto frio como se fosse o lençol mais quente e macio de um hotel luxuoso de Paris"

Minha In[San]idade mais bela e verdadeira.
Se a "morte-me" vier, nas asas dessa onda nostálgica fica registrado nos bytes desse mundo virtual um amor lírico, uma paixão sóbria (sem drogas), na dor do aprendizado;aprendemos e ensinamos, um ao outro, a arte de amar e de se apaixonar no escuro. E isso, o tempo não apaga, meus caros.

domingo, agosto 26, 2007

"All that days"


Todos aqueles dias. Um desabafo da madrugada, da insônia.

Quando Yumi faleceu, inesperadamente, não compreendia qual funcionalidade teria ela em minha vida. Parece-me as palavras que deixei de dizer ano atrás começam agora ressonar em minha mente, minha própria voz, com as respostas que eu mesmo ocultei. Pra me apagar os antigos fantasmas in[san]os, só mesmo ela, Yumi, e o destino, mesmo não crendo-lhe, me impossibilitou.

Aparentemente ela levou consigo, pro caixão, meus últimos sopros de vida. Que absurdo, isso é Beckett, absurdamente beckettiano. Na foto, outra vez, aquela que o tempo não me concedeu. Beleza instigante, justo pra mim, tão dono do obscuro e dos enigmas, por tantas vezes. Como queria, ter mais fotos dela. (fto-Teresa Yumi)

"That days"

Estou feito "That Days", de Beckett, por Gerald, para Julian Beck, escutando vozes do passado, como transmissões velhas de rádios, com aqueles chiados peculiares das antigas FM e AM´s, ressonando permanentemente evocações de minha vida, outras além, quem sabe, são alucinações esquizofrênicas. Poderia me pôr num palco, sentado num sofá, poltrona, melhor seria, ao lado uma mesinha arredondada, com tres livros capa dura e antigos, sobre os livros um cinzeiro vazio, de um não fumante, pura frescura, uma lata de aluminio de um refrigerante famoso e pop, marketing, ao fundo escuro, imagens vagariam, projetadas de um projetor, é óbvio, fantasmas, entre os ruídos das estações de rádio, no qual o locutor, é minha própria voz, do antes, brincando e dialogando com aquele estorvo, esquelético ali, sentado, quase se deitando na poltrona, irritado, enfastigado, angustiado, ora de pernas pro alto, com a cabeça quase tocando o chão, ora de lado, visivelmente, incomodado com a vida; pagariam ingresso, na bilheteria para vê-lo - não se preocupem, nem respondam, colocarei vossos nomes na lista de convidados.
Um Conto qualquer

segunda-feira, agosto 20, 2007

contos pra boi dormir

Meu nome é Alguma Coisa da Silva. Não estranhe, pois a mim é tudo que sou. Foi repentino que me descobri assim, o próprio mundo me fez de tal jeito. Eu nasci com nome próprio, registrado com certidão no tabelião, mas não me perguntaram se assim eu desejava, alias, nenhum pai ou mãe espera o filho aceitar sua graça, que lhe caberá por todo sempre. Mas meu problema não era um trivial desgosto pela alcunha de minha filiação, bem mais profundo, sempre busquei mais que os nomes, e sim, identidades, com os quais pudesse me recriar. Passei a assinalar-me de tantos trejeitos, personas, como pode, um personagem criando tantos outros, é insensatez, é complicar o evidente, de repente, nada faz real sentido, nada se alterou. Falar do vazio que dá, na solidão do presente é comum, o incomum é aceitar, que tantos nomes e sobrenomes não resolvam a questão. Meu nome é Alguma Coisa da Silva, até que o próximo causo se desenrole, ou vá se casar de véu e grinalda na Igreja Imaculada Icosagonal do Nada.

domingo, agosto 19, 2007



Não sei pra que fiz essa coisa aí. Uma ilustração que talvez, inconscientemente representa a atualidade; um nada, sem razão, de valores inexistentes, de carcaças falantes, um conjunto de cópias sobrepostas, colagens de outras colagens, conteúdo insípido, com fins lucrativos. Em todo caso, está aí.

Já não sei mais como me auto assinar, meus alter-egos já não me representam nada.

Assinado: alguma coisa

sexta-feira, agosto 17, 2007

contos pra boi dormir

Hoje passei lá, aonde meus sonhos estiveram presentes, coisa que não valorizei, sou ignorante, paciência, olhei por fora o prédio, imaginei por dentro, adentro, do apartamento, os móveis, o quarto, a mesinha da TV, o computador, a cozinha e o banheiro, de banhos quentes, quem sabe quem lá está, um novo casal, nova estória, filhos, um alguém outro, solitário, esse sou eu, desculpe, você não mais, esqueci de resgatá-la, você, quem dera, eu mesmo, trancou-me por dentro e levou as chaves - mulher ?

quarta-feira, agosto 15, 2007

Reis ou Rainha, todos são Mentira


Eu tenho Reis de mentira, outros Rainhas, Gerald teve uma avó de Mentira. The Queen Liar, com sotaque alemão, ou melhor sem sotaque, isso foi apenas efeito especial de teatro. E sobre mim, pesou-me alguma verdade oculta, eventualmente de plantão no espetáculo. Num dado momento, peões moveram-se no meu tabuleiro. No lugar do rei, havia meu rosto, com uma venda, me cegando para que eu caminhasse entre as trevas, com sombras grotescas e demônios sedutores, me acariciando, degustando carne viva - um horror. Era alguma culpa, auto proclamada, mas não era eu a vítima?! Havia um frio, não, isso era o ar condicionado em desajuste, reclame na saída, o frio era proposital do diretor espetáculo então, queria nos fazer sentir no inverno alemão dos campos de concentração, absurdo novamente, esse frio era sua mente presa ao passado. O que seu pai fez ou aquilo que não fez, deixou sozinho, um menino na gaiola, lembrou até do pássaro preto aprisionado, um dia tentou abrir a jaula, mas o pequeno corvo não saiu, prefiriu a solidão. Tanto que desprezou o amor da musa amada, outro fantasma, de olhos orientais que lhe tentou na cadeira H7, vaga pelo senhor que nos quinze do intervalo, pegou a senhora dele e escafedeu-se pra casa. É o pai, é a musa, é a sua mãe, tantos carcereiros esse menino carrega. E hoje, Ele, jovem adulto envelhecido na alma, por fora a pele é vitoriosa, caminha a sós, junto ao passaro preto da velha gaiola, dentro de outra ainda maior, no quintal quadrado da antiga casa, sobrado germinado ou de sua mente conjugada 2 quartos, sala, banheiro, cozinha copa. O qual ele paga a duras prestações, por mais cem anos com juros.


Conto [des]inspirado em alucinações a peça Rainha Mentira - de Gerald Thomas

domingo, agosto 12, 2007

Ano UM (despercebido) Um ano de Blog

Passou-me despercebido, era Julho de 2006 recomeçava minha saga. Não é somente um ano de blog, textos, estórias, resmungos e tentativas frustradas, mas um ano de um exílio necessário para a vida; a minha vida. Porque é na solidão que se mantém contato com o inconsciente, tão desprezado em nosso tempo pela humanidade, é na melancolia residente, o indivíduo pode tocar a si próprio, enxergar erros, defeitos, existenciais e ocasionais, para se possível evoluir.
A existência humana não deveria ficar à cargo apenas do consciente e cotidiano, como a maioria de transeuntes desse planeta o fazem. A vida é muito mais que o tão esperado fim de semana, compras no shopping, baladas e bebedeiras. Mas o que ficou, depois de tantos milênios de civilização é o que tem-se, as banalidades de seres humanos, carcaças desalmadas e superficiais. Eles, ao menos, são mais felizes, e sendo a vida um eterno jogo em busca da felicidade, o errado sou eu, sempre fora eu, um eterno desafeto da vida plena, um grande menestrel solitário do absurdo, um fracassado senhor de um castelo arruinado, de trevas e luz, formadores de belas figuras de natureza morta.
Sou isso, um equívoco da natureza, mas a vida também necessita dos descasos, portanto, justifico minha presença. Mas queridos fantasmas, ainda resguardo em mim momentos de fraternidade, para destilar ironias e sarcasmo. E dou graças, aos bons passeios no parque, em dias ensolarados na companhia de minha linda pastora alemã - Hanna, amor incondicional, e meus escritos desesnfreados.
Estou trabalhando em muitas coisas, literatura, cinema, artes visuais, não garanto absolutamente nada, quem sabe, algo apareça, seja concebido, enfim. Esse blog não é o primeiro que desenvolvo, já deve ser o terceiro, pois cada espaço criado por mim é um motivo para se desconstruir. Isso eu faço perfeitamente. Agradecido aos fantasmas que aqui entram eventualmente. Au revoir a tout le monde

Mini-conto

Saudades da Tevê ligada, do filme pela metade, da pizza quente esfriando, da cama desarrumada, da janela aberta, da noite fria, banho quente, na penumbra, das brincadeiras, conversas afiadas, mesmices delicadas, mãos dadas, do orvalho, da manhã, do bater da porta, fechar da fechadurada, chegada do elevador, silêncio, passos, ligar do motor, primeira marcha, saio, disparado,vazio.
contos para boi dormir

sexta-feira, agosto 10, 2007

Mini-conto

Cartas: sonhei contigo esses dias, por isso lhe pergunto se você ainda toca violão, pois no sonho você estava numa festa, numa mansão circundada por muitas piscinas, que adentravam dentro da sala, com móveis na cor branca, espelhos e vitrais, de onde entravam uma luz muito forte e cheio de paz. Muitos lírios em vasos e jardins em formato de grandes círculos e pequenos mosaicos, dentro e fora, como se o externo e o interno se misturassem. Haviam muitas pessoas, você estava lá tocando violão, foi tão estranho, de uma sensação difícil de explicar através de palavras. "Foi então, após ler sua carta, descobri que ia morrer."
contos para boi dormir

quarta-feira, agosto 08, 2007

Mini-conto

Varrendo-se, gasta-se o dia. Toda tarde, marco um tempo comigo, após o baixar do Sol, estou eu em meu quintal. Meu quintal é irregular, ao longos dos anos o chão áspero se desfez, o que faz acumular as folhas da árvore de sete copas, avermelhadas e grossas, que dá sombra mas nenhum fruto, meu pé de folha. Toda tarde, meu encontro é comigo e a vassoura, varrendo as folhas pra num amontoado depositar no saco de lixo preto pensamentos que resguardo e aguardo. Após, digo adeus ao senhor Outono, estará ele de prontidão pela manhã, amanhã, depois de amanhã, sabado, domingo, até seu fim. E minha vassoura descabelada, em pé, na espreita, enquanto ventos intrusos cobrirão meu quintal com as mais belas folhagens secas, meu quintal irregularmente sou eu.
Contos para Boi Dormir
Ao som de Ulver

terça-feira, agosto 07, 2007

Mini-conto

Televisão ligada para as paredes. Nestas, três quadros, uma paisagem pintada em óleo, comprada de um artista de rua, outro um retrato, um senhor do século 19 aristocrata, o terceiro completando a fileira, uma arte concreta e geométrica. A luz é baixa, o sofá de couro ou imitando, da sala um corredor para a cozinha, na mesma ainda, uma escada em mármore que leva aos aposentos. No centro da sala uma mesinha, uma taça com vinho pela metade, um livro de capa dura antigo e o telefone sem fio sobre. No sofá uma manta verde comprada em alguma feirinha beira-mar. No canto do sofá outra mesinha, a base do telefone, ao lado cadernos com anotações, acima disso, óculos para leitura empoeirado. A televisão ligada, som baixo, quase mudo. Tudo empoeirando-se. No outro canto a cortina busca formas de vida levada pela brisa. A sala, isso é tudo.
Contos para
boi dormir

segunda-feira, agosto 06, 2007

Mini-conto

A colação de grau era um dia a mais. Para o resto, era O Dia. Para um, nada além do que um dia depois de ontem, antecedendo o amanhã. Falta de ânimo, desencanto, desembaraço, calor de trinta graus em pleno inverno, aquela roupa preta, pesada, o chapéu de formando típico, tipicamente idiota, a gravata de seda na cor azul. Fotógrafos em linha reta, cada sala atravessada, uma pose, pedem para sorrir, estica a boca, franzindo os lábios, sorriso desconcertante. O ato final, finalmente, a entrada no salão, familiares e amigos, flashes de câmeras, felicidades, nem todos, mais um dia, antes da noite. Tomam-se os lugares respectivos, por ordem alfabética, agora é esperar ser chamado. Não é o OSCAR, mas bem que uns assim desejam. Senhor Amadeus Moreira Albuquerque Brandão Filho, ainda está no A, porque meu pai não me chamou de Abel, seria tão rápido, suor, calor, todos apertados, finalmente chegou, vai acabar. Nada vai fácil, o que foi difícil conseguir, novas paradas, fotografias, de canudo em mãos, aqueles beijinhos trocados do cerimonial, os para... como é que é aquele nome? E fim, o locutor, depois de horas grita os parabens aos formandos, todos se abraçam, nem todos. Onde está minha gravata, você viu uma gravata, escoregou por meu pescoço, terei de pagar 15 contos, ah me dê licença, preciso encontrar minha gravata, devolver essa beca, pegar meu cheque calsão e ir jantar.
Mini-conto
pra boi dormir