sexta-feira, setembro 28, 2007

Um pequeno Conto e um recado

Era 1964, estação do trem Itapevi. Andava com minha mãe. O trem do meio sempre trazia a boiada. A manhã fria esfumaçava uma neblina gélida. Estava com aquela blusinha pobre de lã, um cachicol feito por minha mãe, que não era prendada coisa alguma - odiava afazeres do lar, era mesmo boa cabeleleira. De repente, as 7:45 escaparam. Vacas e bois soltos pelos trilhos. Eram umas 10 ou uns 40, grandes e gordos. Eu que era caipira não sabia que eram aqueles bixos. Justo eu, que nasci no interior, mas mudei-me logo. Corri, corri, de tamancas velhas, pobre e magrela. Ainda hoje me sinto assim; desboiada. (Pablo Montevideu)

E eu estou indo a fundo, descendo a ladeira de pedras, descalço, esfolando os pés no chão duro e resistente. Vou escrevendo minhas lamentações, meus desassossegos - que chateação. Eu vivo as melancolias plenamente. Leitores ou fantamas, estou quase terminando meu livro - um monólogo chamado "Nada mais que a verdade". E desenfreado que sou, entre minhas revisões gramaticais perfeccionistas já escrevo outro monólogo - "Além de mim, ninguém". E megalomaniaco que sou, penso noutro livro/monólogo, que será chamado de "Perto do fim". E por finalmente, terminarei minha saga de monólogos infindáveis. Se publicar, não sei, poderão ler. Não há garantias, ser escritor é ser como uma pedra no caminho ou se tropeça ou fica ali até virar pó. E depois disso talvez eu me exile no templo budista de Cotia ou matarei-me finalmente.

Ilustração - Pablo Montevideu

quarta-feira, setembro 26, 2007

Estórias

Meus olhos nada véem, mas não sou cego. Minha espinha é uma continuação de meu cérebro, é tão pensante quanto meus neurônios, na verdade, eles se ramificaram por todo meu corpo. Assim, sou nervos à flor da pele, sou sensível por inteiro. No coração, bombeia sangue, bate, meço no pulso, quando consigo encontrar as batidas, nem sempre com sucesso. Meu corpo reflete, sim, reflete meu mundo, de coisas inadmiráveis, parece então que tudo é cinza, as pessoas que me falam, as mesmas que me véem. As palavras nada dizem, embora qualquer palavra diz coisas, ou coisa alguma. Eu vou durmir na esperança de morrer, sem temer ausências e não prazeres. Carregar o peso do contemporâneo é muito sofrível. Viajar sem passsagens pelo corpo é enriquecedor. E quem deseja um fardo assim. Minha espinha pensa, porque ela é meu cérebro, e meus ossos são continuações de neurônios. Sou todo assim, todo pensamento.

terça-feira, setembro 25, 2007

HP e MTV for a new notebook limited collection

Recado - Estou participando do concurso mundial "New Design" para uma série de notebooks da HP para 2008. Ao lado minha ilustração que já fazia parte de uma coleção de ilustrações que fiz meses atras.

domingo, setembro 23, 2007

resignado

Estou resignado, cansado, meu corpo não entristece nem se alegra além da conta. Não há sonhos ou desejos, quer dizer, pequenos fragmentos de vontades, nada demais, somente corriqueiros mandos e desmandos da rotina. Época estranha que vivo. Será o mal dos trinta anos ou o coisa de início de século??? Quem responde, quem concentra sabedoria suficiente para me responder? Duvido que há.

sexta-feira, setembro 21, 2007

Estórias

É um corpo ao chão. Pode estar morto ou não. Quem sabe está dormindo, mas de uma maneira tão serena, não se nota a respiração, é quase morto. As moscas já rodeiam, se ele ainda vive, não sente absolutamente nada, nem as minúsculas patas da mosca de padaria que circundava os sonhos. E as pessoas passam, passantes, notam algo no caminho, no caminho de todo dia, da rotina, um obstáculo, e como tal, ultrapassam, vencem o empecilho. É isto, tornou-se empecilho, nome dado a quem morre ou adormece morto na rua, no caminho, no rastro de cada jornada, do árduo e dignificante trabalho. As pessoas passam, pulam, vencem a coisa ao meio, ohhh "estapor" - grita alguém sem brios, sem classe. Calçam, eles, sapatos de couro brilhantes, sapatos de salto agulha ou tenis urbanos de pano multi-coloridos. Jeans, saias, meia-calças, calça comprida, curta, social, street, contemporaneo, passos apertados, esguios, rápidos, ríspidos, desengonçados, saltitantes, nossa, alguém consegue caminhar na vida saltitando; não se duvida da diversidade. (conto/roteiro, para micro curta, em fase de produção)

terça-feira, setembro 18, 2007

Muros sempre se quebram

E o muro que era de concreto,

intransponível, gélido e "burro"

partiu-se ruindo toda dor

em muitos pedaços estilhaços de lágrimas.






E só restam os entulhos.
Do que um dia foi um muro de concreto.





E quando sobra apenas escombros de nostalgias


e tão abaixo deles, não se pode respirar,

sufoca, sufocando, sufocante,

ninguém aparece,

nem o Resgate

é sinal da Morte

"lhe," "me," fazendo uma visita. (Maurício Filho)

sábado, setembro 15, 2007

Shouting...

É assim que estou e sou, faz quase dois anos.

Reconhecer-me, tem sido doloroso.

Ilustração de 2005 - "that year".
Estou cansado, do mundo "fogo de palha" que faz um estardalhaço e logo se transforma numa fumaçinha ridícula, enquanto meu mundo queima feito lava vulcânica incandescente a mil graus na sombra.
Estou letárgico, sem criações, artes, poemas, lirismos, nada além de uma vontade de deitar num canto e fechar os olhos, não abrí-los pra nada.