terça-feira, novembro 27, 2007

É tão difícil ganhar um Nobel quanto produzir um curta metragem que não seja bandido e mocinho ou rico e pobre. No país dos desdentados escrever livros, roteiros, sobre moral, existência e introspectividade é falar grego e tupi pra brasileiros ianquis da sessão da tarde. Entendam isso como um desabafo resignado. Outra hora eu volto como um novo ensaio sobre Felice, namorada/noiva de Franz Kafka (dá pra imaginar) ?????

quinta-feira, novembro 22, 2007

Ensaios Históricos - Beckett e Thomas

1984. Aquele ali não é Beckett? Sim, o próprio Samuel Beckett, afinal ele mora aqui em Paris, o que eu esperava encontrar em Paris, Godot? Não, não, encontro Beckett. E aquele outro cabeludo conversando com ele, é do teatro também - Gerald Thomas, geniais. Ah, de que será que eles falam? Será que estão usando metáforas para xingar Miterrand ou a Dama de Ferro...nada disso - não perderiam tempo falando de "neo-liberais".

Eu queria ser uma mosca e passar por ali, mas pela postura becketiana me parece ser uma sabatina. Feito todas as vezes que me imaginei tomando um café na fazenda de Riobaldo conversando com Guimarães. Ah, não vamos misturar as biografias - são todos mestres. 1984, foi-me prudente essa viagem, mesmo sendo onírica. Esse ano tem cheiro de fim de partida (endgame Mr. Beckett - no dice).

Antes que partam vou tirar uma fotografia, sim, preciso reguardar isso pra daqui uns 20 anos escrever memórias de um desmemoriado.

Nota do Autor - Fotografia do arquivo de Gerald Thomas, baseado numas informações que o próprio me forneceu a respeito dessa proveitosa conversa com Beckett em Paris. Eu só rabisquei umas palavrinhas com pitadas de ficção intransitivas. Em 1984 eu tinha 4 anos. Obrigado Gerald...

quarta-feira, novembro 14, 2007

Ensaios Históricos - Simone de Beauvoir


Era 1950 na cidade de Chicago, Simone conhece Art Shay, por intermédio de seu amigo Nelson Algren. Art Shay fotografava personalidades que julgava serem interessantes. Por suas lentes passavam grandes e futuros nomes de biografias do século XX.
Shay convidou Simone para uma reunião com outros intelectuais da época numa casa que pertencia a um amigo do fotógrafo. Simone sequer conhecia o dono da casa, mas se encantou ao ver que numa das suites havia uma banheira. Ela logo quis experimentar.
Na sala, conversavam Sartre e outros homens que não me recordo quem eram - de fato senhores distintos, vestiam ternos bem cortados, pertenciam a burguesia americana e Sartre os olhava com indiferença, quem diria o comunista na toca dos lobos do novo mundo. Havia um homem vestindo uma camisa listrada e com suspensórios fumando um maldito charuto. Diziam ser um mafioso mecena.
Mas Simone havia subido ao seu aposento, dissera ao marido que iria descansar da viagem estafante, verdadeiramente deitou-se um pouco. Mas logo recobrou a consciência - havia uma banheira e ela estava muito empolgada com a idéia. Deita-se numa água morna para relaxar as tensões de uma época tão avassaladora.
Shay com faro de fotógrafo caminhava inquieto pelos corredores, abrindo portas, de quartos vazios da velha mansão. Parecia sentir o cheiro de uma nova fotografia prestes a nascer. Somente se ouvia o bater do sapato no açoalho de madeira e ruídos das fechaduras de bronze. Ele adentrou um dos quartos, na penumbra do fim de tarde, entre sombras ganhou o dia. Assim descreveu-me a cena - " ela havia tomado seu banho. Depois, enquanto ela se arrumava na pia, tive um súbito impulso. Ela sabia que eu a havia fotografado porque ouviu o clique da minha confiável câmera Leica Model F. - Homem travesso, disse ela."


Ensaios Históricos - Simone de Beauvoir Chicago 1950
(Fonte: site-www.simonebeauvoir.kit.net)
Nota do autor - Cansei de falar de mim, então, essa série "ensaios" aborda personagens reais em episódios verdadeiros com pitadas de ficção, sempre através de um registro fotográfico, quando possível. É a primeira vez que faço tal coisa e iniciei com a grande escritora Simone de Beauvoir, fotografada por Art Shay - ela uma das primeiras feministas filósofas existencialistas da primeira metade do século XX. Espero que aos fantasmas, apreciem ou não. Au revoir a tout le monde.

Qual o sabor da derrota?

A normalidade não me cai bem...travo, travo batalhas contra ela. Pra mim é difícil me comercializar e fazer apenas a simplicidade mundana. E quando então ouço o mugir do FRACASSOOOO...

sábado, novembro 10, 2007

Uma idéia na cabeça, uma arma na mão




Por mais mil bocas que eu beije ou mil mulheres que conquiste, nada e ninguém me faz aliviar o vazio da alma. Como se numa experiência subjetiva - mergulhei dentro de um abismo sem fundo, continuo a cair para dentro de mim vagarosamente. Eu olho pra cima, tento me estabelecer numa plataforma de vida cotidiana, eventualmente com êxito, mas não demoro a perceber - é inútil, não funciona de verdade, é somente uma impressão. Eu volto pro meu caminho não mais pensando, já ultrapassei essa questão. Agoras os pensamentos estão dentro dos pensamentos, difícil explicar. Será que ela suportaria tudo isso, como assim tenho feito, não creio. Então tenho certeza que a escolha feita por mim foi correta. Eu tenho suportado, sabe-se lá como, mas ainda não apertei o gatilho.

sexta-feira, novembro 09, 2007

Senhora implacável me persegue.

Hoje acordei stalinista - o mundo não precisa ser salvo pra essa ralé humana.

quarta-feira, novembro 07, 2007



Há quem tenha duas caras. Tenho eu umas três ou quatro ao mesmo tempo. Desde quando inseri um nariz dos Incas que ficou muito bem simétrico ao meu nariz mouro permanente, dando-me um aspecto robusto e excêntrico. E quando me observam com tamanha insensatez, lhes falo - são vítimas da ignorância e do excesso de prudência - TOLOS. Eu que não me canso, de retalhar-me feito estilhaço. Gosto mesmo é de pedaços de mim, todos vivos e mortos. Sou todo assim destruído, trechos ou fragmentos imperfeitos, feio mesmo, se preferir.
E se lhes parecem um tanto bizarro, ter duas bocas, saiba que no Bacanal do Fim do Mundo terei duas línguas para falar e lamber feridas e vulvas é claro, de anjas com seios triplos e siliconados que descerão dos céus pra me agraciar. E que tolos como vós serão condenados à insignificância até logo desaparecer.
(arte e texto por Mau Fonseca 2007)

quinta-feira, novembro 01, 2007

Bacanal do fim do mundo


"Reza" lendas do lá Bem pra de lá que no fim do mundo São Picasso irá nos desenhar com feições cubistas e todos teremos cara de [Cu]bismo. Faço caras e bocas, já dizia Tia Ziza caolha - mas meu relato, meu resmungo veredito é sobre o julgamento final. Quero ter duas bocas, uma pra mentir e a outra pra mentir mais ainda. Mas quero bocas diferentes, porque sou todo assim Assimétrico e me orgulho disso.
Quero ter uma pinta na testa, e noutra testa duas sombrancelhas. Sentiu o estilo, pois não sinta, guarde tudo pro bacanal do fim do mundo, donde homens terão quatro línguas pra ouriçar mulheres com duas vulvas, ah que loucura, e teremos dragões fêmeas de pernas abertas soltando fogo pelo sexo. E vai chover na terra 100 dias 100 noites 100 tardes 100 madrugadas, sem parar. Quando então, meu caro amigo e amiga, todos os pecados serão lavados com água corrente.
(Ilustrações neo cubistas parafraseadas por minicontros - Arte e texto por Mau)