terça-feira, maio 27, 2008

O insustentável mundo das pessoas

Palavra chave do mundo atual - sustentabilidade. Lugar chave do Brasil atual - Amazônia. Situação chave do ser humano no século 21 - fingir que é feliz. Não sei mais, as palavras daqui por diante não são o certo, nem o errado. Não tirem qualquer conclusão - outra premissa do nosso século - não conclua. Vou descer um parágrafo pra não confundir mais...

Cena de ontem segunda-feira, dia 27 de Maio de 2008 (esse Maio não termina faz 40 anos). Mulher de uns 40 e poucos anos desce a rua correndo desesperada, atrás dela vem o marido, um senhor meio gordinho, de mesma idade. A princípio parece uma cena corriqueira - um assalto, um desses moleques que passa e bate carteira, bolsa de mulher, enfim. Mas não, o marido alcança a mulher, segurando-a pelo braço, contém um pouco o desespero dela, sentam-se na calçada. Surge uma terceira, uma senhora, de uns 60 e poucos, parecia ser a mãe da esposa, ela entra no bolo - conversam. Aparentemente o causo terminaria aí, tudo estava ajeitando, deveria ser um assalto. Passado alguns segundos a mulher enfurecida avança sobre o marido, ouve-se gritos, as pessoas retornam para suas janelas e portões. Ela esbofeteia o marido, que pede "pelo amor de deus pare". Alguém da rua grita - "vou chamar a polícia" e a esposa diz "chama mesmo". Sai alguém para apartar os sopapos - ela então fala - "ele me trai faz 20 anos" o marido foge, corrido, amedrontado. Ela desequilibrada vai rua acima, sem rumo, sabe-se lá.

Cena dois, ontem ainda, mulher bancária dirige na contra-mão uns 8 km, é parada pela polícia e tenta morder e agredir policiais. Vai pro hospital amarrada numa maca, completamente enfurecida. Ela sofre de distúrbios de humor e havia parado com os remédios.

Cena de ontem ainda, aparece na TV o legista do antigo e não solucionado caso do PC Farias, o legista "show man" chama seus amigos legistas de mediocres e aponta que tudo investigado no famoso e dramático caso atual da menina Isabela é falso, errado, equívoco. Deduzimos então que os acusados são inocentes e teria o Estado e o Ministério Público determinado a culpabilidade de alguém para apenas apresentar para Sociedade uma resposta a essa violência - seria o absurdo maior. Ou então, os advogados, lançando mão de vencer a batalha no judiciário, doa a quem doer, tentam cartadas finais pra colocar em liberdade dois assassinos. Mais absurdo ainda, alguém que sequer viu o corpo da menina afirmar com tanto conhecimento e atestar laudos.

É muito fácil escrever laudos hoje em dia...há laudos para tudo, pra todos os gostos, pra descaracterizar qualquer coisa - diante disso, não há mais em quem acreditar, nem na Justiça, muito menos no poder público, tampouco na mídia.

Dentro dessa onda, a instituição familiar entra em oposição ao tema - sustentabilidade. Volte ao primeiro parágrafo. O impossível é sustentar a vaidade humana, sem acabar com o meio ambiente, que já está acabado. A gente fica se enganando, que estamos conscientes do estado do planeta, que nossos esforços individuais fazem efeitos, mas ainda estamos à bordo de nossos carros enfeitando ruas e pontes, em congestionamentos kilométricos, soltando fumaça preta, parados no tempo, no espaço - isso também é mediocre. Já tive acessos de loucura, não tanto como a mulher que dirigiu na contra-mão. Mas já pensei em desligar o carro num congestionamento infernal e sair, à pé, deixando lá o automovel ao deus dará - que se dane - passem por cima se conseguirem (quando fizer isso, eu mesmo me interno).

A sociedade formada numa base familiar é parasita, ela gasta suprimentos, porque se baseia no bem-estar dos seus indivíduos. Num mundo que cresce dois dígitos percentuais todo ano, e clama, morre, por mais e mais crescimento - falar de sustentabilidade é FINGIR que estamos no caminho. Em poucos anos, iremos nos conformar, que a Terra, assim como a Amazônia tem prazo final de validade - iremos viver com o conhecimento de que a raça humana vai durar talvez mais 200 anos. E a conformidade já começou com a política do "carpe diem" alastrado pelas mídias, criando mais consumidores (isso não é discurso comunista). E falando em comunismo - lembrei da China, da tragédia, das mães viúvas de seus filhos únicos, que agora são liberadas pra ter outros filhos (deveriam adotar as meninas chinesas descartadas em orfanatos por décadas graças à pressão do Governo) e pela tradição de preferência de meninos - deixa pra lá, esse post tá ficando chato...

E não adianta defender o anarquismo, já que ninguém quer ser voluntário pra cuidar de suas calçadas, ruas, bairros, cidades, sem receber por isso. Então, não há outro modo de vida, a não ser pelos braços e tentáculos da política (partidária). É um mal necessário, evidentemente, não justificando a roubalheira e canalhice. Mas se o mundo insustentável dos homens vai acabar num prazo otimista de 200 anos, "que mal faz roubar ali, pegar um cargo acolá", prestar um concurso público pra ser funcionário do Estado com garantias vitalícias - vida boa, churrasco (com carvão da Amazonia), cerveja, sombra e samba.

E houve quem falou que o Brasil era o país do futuro - o vértice da humanidade (quem foi mesmo) - não importa, de um jeito ou de outro, estava certo. É o jeitinho do conformismo diante do inevitável - "o fim do homem" (contrariando Falkner) E encerro com um refrão, do Chico Buarque - descreve muito bem tudo isso em quatro versos da música Roda Viva (coisa de gênios)

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

domingo, maio 25, 2008

império das lamentações

Ah, esse recinto mais parece o muro das lamentações de Israel. Um monumento às minhas lacunas e fendas, fechadas ou entreabertas, do passado e presente. Tentei por isso tudo em forma de poesias ou prosas - tenho falhado. O roteiro do filme não saiu. Tenho até perceria para produção, pois não é difícil encontrar quem tenha vontade de trabalhar com cinema, mesmo sem rendimentos, mas eu pouco me concentro. Fico esperando o ânimo surgir de algum fato qualquer, como se o vento empoeirado pudesse soprar minha motivação de algum canto do universo - absoluto engano. A mente humana é capaz de criar suas próprias determinações, seus próprios encantos - exceto a minha que aparentemente sucumbiu. Ah, estacionei minhas criações, não vou pra lá nem pra cá. Olho pro ano anterior, quando estava escrevendo ou pintando sem pensar no amanhã e percebo que o tempo atual de estiagem e vacas magras é a ciranda da vida. Como na econômia, não há lucro que dure pra sempre, nas Artes, não há inspiração que vingue eternamente.

sexta-feira, maio 23, 2008

Salomé na pele de Aida Gomez...


ou seria Aida Gomez na pele de Salomé. O que importa é que esse musical e filme de Carlos Saura que acabei de ver na tela da TV Cultura é belíssimo - a mistura da musica espanhola (flamenco em si) e o enredo do clássico Salomé com Paco Mora (rei Herodes) é belo e sensual - melhor exemplo de sensualidade e exuberância. Mas essa Aida Gomez (que mulher gostosa) aos 40 anos - e como dança, principalmente os Sete Veus - até uma nudez "finalle" provocadora e pecaminosa que evoca a fúria divina.
Cada batida do flamenco pulsa forte a quem assiste e se dislumbra. Dá vontade de dançar esse rítmo que tem no sangue espanhol, mouro e cigano suas essências históricas - a mistura étnica de povos ao longo de séculos. É lindo, parece que esquenta meu sangue (meio latino e árabe)
Enfim...é isso

quinta-feira, maio 22, 2008

Vontade de sumir



Única vontade real, desejo concreto é de sumir. Estou farto da consciência, do realismo, das percepções, do passado, do simples e difícil. Das pessoas farto já estou por muito tempo, das relações também, de pós-adolescentes que fingem ser adultos, de adultos que são crianças, de ideologias idiotas, de livros, de leituras, de filmes, A ou B, de bonito, feio. Sei que é algo anormal, cansar de viver, e além de tudo, querem que eu creia em deus e pense na minha vida pós-morte. Eu não quero ter vida depois da morte, quero perder a consciência, quero ser luz ou energia, ou um grão de pó no espaço - não quero ter forma, figura, beleza, nem ver ninguém, muito menos reencontrar parentes, amigos, nada. Quero ser pedra noutra encarnação.

Cena do filme - Asas do Desejo de Win Wenders.

terça-feira, maio 20, 2008

O ser quer ser rejeitado. O ser quer ser. Oh frase desgramada de ruim. Soa assim errado. A gente cresce em altura, em cérebro, mas não significa que somos melhores a cada dia. Por cada dia queremos a rejeição, e a dor que provoca. Quantas vezes busquei aquilo que não me era cabido (destinado) e por quantas desprezei o que a vida me oferecia. Será que precisamos rejeitar o que podemos e somos - o que significa dizer - aquilo que somos capazes de cativar ou ignorar o destino, assim como os deuses, é cultivar a inteligência em busca da dor - porque sim, ignorar as pedras que lascam o dedão na botina apertada é doloroso. Duvido você pegar esse pensamento (isso que dá ler autores atormentados) - será que já tomei tarja preta hoje?

sábado, maio 17, 2008

A dodecafonia do século XX

Politicada - da direita e esquerda - qual lado você esteve? Não importa, seja qual lado você abraçou - você foi enganado. Em 1968 (de novo isso) os jovens franceses quebravam o pau por uma França mais socialista - enquanto doutro lado da Europa jovens, possivelmente eram jovens, quebravam a cabeça contra tanques soviéticos e pelo fim do Comunismo à ferro e fogo que a Rússia estabelecia. Uma mesma época, uma mesma Europa. Ah, na França o presidente era General (De Gaule) e ainda em 68 fez um tipo de referendo (desses do Chavez) e saiu vitorioso - hã? Nos EUA o único país nascido num estado democrático e seguindo uma constituição conseguida na luta (será) tinham seus problemas internos - os Panteras negras faziam o pau comer pelo fim da Democracia Republicana para brancos, especialmente depois da morte matada de Luther King. E esse mesmo EUA (tão livre) apoiou golpes militares contra a democracia na América Latina dando início às lutas contra regimes ditatoriais no Brasil, Argentina, enfim, tudo que sabemos. E aí, você ainda não sentiu-se um idiota nessa coisa de direita e esquerda??? Tudo isso aí foi Maio de 1968 - uma mentirada hipócrita que culminou com o último ato de Arte Conceitual do Absurdo - o 11 de Setembro. Vou ver HAIR - o filme e sonhar bucadinho mais.

Meus destroços deixei pelo caminho. Não os quis carregar comigo, embora tenha todos dentro de mim, um peso suficientemente árduo, que não se pode rejeitar, nem por fingimento, é desse peso que me cansa. Queria mesmo ser o bem-te-vi, que toma banho na piscina do meu quintal e depois nos galhos da parreira se lava e seca sua existencia no Sol de fim de tarde. Ele parece tão feliz...

quinta-feira, maio 15, 2008

liberdade e solidão

Tenho pensado sobre isso. A liberdade e a solidão. Não tem conclusão. Somente alguns fatos. Não há liberdade sem estar só. Só tal condição faz o ser, realmente atingir a liberdade, no significado de agir e pensar. O indivíduo inserido dentro de grupos ou parcerias perde seu espaço, e na tentativa de ativar novamente sua participação dentro das relações inter-pessoais adquiri facetas irreais que o prendem em seus próprios rótulos e imagens. O ser livre caminha sozinho mesmo que seja pelo sofrimento. Como não há sofrimento eterno, que dure pra sempre, é uma jornada humana, ao contrário que dizem, o ser humano pode ser sim uma ilha - e quem tem coragem de assumir-se assim???? Não li em Bateson, nem Mcluhan, alias, não os leio desde os atentados de 11 de Setembro. Vai ver tirei isso de mim, de minhas tentativas de me aprisionar.

segunda-feira, maio 12, 2008

Maio de 2008

Ao invés de falar de 1968 - o ano que nunca acaba, vou falar de Maio de 2008. Em Maio de 2008 descobriu-se que a revolução coletiva não resolve. Apesar do alvoroço e dos mitos, sobram apenas suspiros. Em Maio de 2008 o mundo é vazio e chato. Era preciso 40 anos atrás uma revolução individual - e hoje nem isso pode-se pensar. A Terra então, chacoalha-se, como se quisesse espantar o tédio dessa chatisse toda - morrem aí 9.ooo. Antes, dias antes, foi o vento, mais números - 20.000, sem problemas o PIB do mundo cresce dois dígitos . Tudo fica contabilizado pelos olhos que tubo enxergam - e somente isso. Aprizionados em afazeres do dia e da noite, ninguém sente de verdade - insensíveis. A vida segue, já diz o lema de Maio de 2008 - o tempo não perdoa quem para pra pensar. E amanhã, vai a chuva, vem o Sol. Ficou tudo assim, indiferente. Uma indiferença que corre junto às mensagens via cabos de fibra ótica, e os desejos de auto realização, a vida em função do trabalho, do cotidiano. Em Maio de 2008 as pessoas são presas em congestionamentos, ou dentro de estações subterraneas esperando o trem. São horas de ir e vir, isso não é vida - não há revolução individual com esse processo kafkaniano. Ah, Franz, se você vivo estivesse - em Maio de 2008 são felizes aqueles que dão o suor e esperam a cerveja, o churrasco e o futebol do fim de semana. Pra esses, já se passou a revolução individual. É passado, agora.

(aos futuristas)

domingo, maio 11, 2008

Estória - incomunicabilidade

Estamos todos surdos. Nem deuses ou anjos escutam - não é isso, não sabemos como falar, responde o homem cego que nunca viu desde seu nascimento com muita autoridade. Continuei a caminhar com minhas botas apertando o dedão - me lembrando como num código "só nosso" dessa jornada. A barba crescida é outro sinal de falta de esmero. Essa caminhada serviu pra uma conclusão - de que passei por esse mundo e não passei nada para ninguém - porque ninguém me escutou e eu também não - porque ninguém entendeu - e eu muito menos. Olhem, melhor, não olhem, nem escutem, eu não disse nada. Nada do que seja relevante, foi tudo falatório. Eu gostaria de ver num filme tudo que já falei nessa vida - e as caras que me fizeram de entendidos. Tudo se entende, faz sinal com a cabeça que sim, mas na verdade, bobagem. Até o amor se dizem entender, quando falo que amo, não amo nada, só vou amar o depois de amanhã, a ausência - quer falta de entendimento maior, * não há mais nada a dizer, mesmo que nada tenha sido dito. É, ouvi algo disso, num lugar qualquer que não me souberam dizer donde era.


* Beckett

The impossible is nothing

O grande absurdo da vida é o impossível. Tudo que não esteja ao alcance das mãos é automaticamente desejo. Deseja-se aquilo que não se pode ter. Isso é tão comum que não há um mísero mortal percebendo seu subconsciente agindo contrário as situações. Diante disso relações humanas são destruídas e sonhos esquecidos. Depois sobram mágoas, remorsos, ruínas. A vida é somente isso. Uma merda.

sexta-feira, maio 09, 2008

little miss sunshine

Porque será que ando me sentindo num romance de Nabokov...
(tentando reinventar a vida) - depois digo se houve sucessos

segunda-feira, maio 05, 2008

relações humanas

A gente se atropela. Essa é a trajetória do ser. Nunca reflete ou pausa um tanto que seja e depois segue. Só corre e anda, esmaga, entenda-se isso como assim quiser. Depois, conta-se os mortos do atropelamento. Tenho pensado nas relações humanas - observando grupos, pessoas em ambientes amplos ou abertos, ou fechados, como numa sala de aula, num escritório - depois relações amorosas, namorados e casais casados. Dos casais eu eventualmente vejo um distanciamento, mesmo que estejam grudados - mas parece que não compreendem um ao outro. Se beijam, mecanicamente, mas se afastam em pensamentos - perdidos nas mesmices da rotina quase sempre. Não sei a porcentagem, não fiz pesquisa, entrevista, só observei. Como no personagem "sem nome" do livro - "Lá fora Chove". Das amizades vem uma banalização - todos são amigos e se amam. São excessos que as pessoas gostam de sentir e fazer aparecer. A necessidade de estar num grupo, rir em conjunto - fortalece. Espanta a possibilidade de ridículo, porque a solidão nesses tempos na cabeça do mundo é coisa de tolos. Só enxergam a felicidade dentre nichos - aí vem a padronização, gírias, símbolos assimilados facilmente, etc e etc. Um ou outros ditam as regras de conduta, estabelecem formatos e seguem - vivem. Talvez não.

Do ambiente, nossas cidades, emergem uns bilhões de sinais e estímulos, a ponto de tornar a vida urbana insuportável. E quando saímos desse inferno nos sentimos desnudados ou enjaulados - a caótica vida nas metrópoles é um seio materno que aconchega o vazio das pessoas - cada vez mais carentes de algum sentimento. Estão solitárias, mesmo estando dentro de seus grupos de muitos, gritando gírias e fazendo gestos idêntico - uns com outros e aos outros. Nesse emaranhado de sinais e mensagens (coisa já dita e redita) ainda se precisa encontrar parceiros, amores, paixões, procriar e envelhecer feliz.

Impossível. Tudo isso numa só vida é falsesco. O fakealismo é que remonta a vida. Pensa-se ou imagina-se ter essas coisas ao longo da vida. Feliz dos poucos que conseguem, na serenidade de suas condutas não atropelar e depois contabilizar mortos. Penso nos mais antigos e geniais - penso em Guimarães Rosa (serenidade de um Rio São Francisco), penso em Sartre, Simone, Camus (serenidade e ativismo com liberdade de ser e fazer), penso numa Lispector, enfim. E eles não foram felizes - é o que nos ficou, porque não se fecharam em vidraças - e não existe só felicidade plena (o carpe diem) que nossa atualidade vende nas mídias diversas em forma de frases feitas pela internet - e os leigos juvenis (sem qualquer repértório melhor) repetem feito papagaios. O ser humano, como no filme - Ilha das Flores, com seu polegar e encéfalo desenvolvido se tornou papagaios e maitacas - ou neanderthais melhorados. E já há quem desistiu - de sofrer e se rendeu ao sorriso bobo do carpe diem. Até mesmo o intelecto cansa, chega num dado momento que o desânimo sucumbe (não meu caso) e o corpo já evolui tal sensação.

Porque todo esse discurso amargurado???? - não sei dizer. Nas minhas poucas andanças nesse planeta tangível, quando deixo "my house on Mars" e penetro na sociedade, perambulo pelo mundo mundano, respiros e suspiros o cotidiano e popularesco - fico ressentido porque não me sinto mais pertencente a ELES. Como não ter mais um lugar (recanto) por aqui, como aquela visita que não se sente a vontade no sofá da anfitriã. É triste, é sinal de derrota, me sinto assim, fracassado - como gente de carne e osso. Pena não ter a cortina do teatro pra acabar com esse infeliz espetáculo. E quando li - O Estrangeiro - Mersault, o personagem que camus descreveu tão bem e Sartre viu nele a materialização do próprio existencialista (será) eu me enxerguei nuns traços de "Mersault" e não gostei disso - fiquei chocado por mim.
Então escrevi - "Lá fora chove" e recriei a mim e o próprio Mersault de Camus (humildimente) num outro personagem que não indiquei nome algum - ele é o próprio Estrangeiro - mas com algo de melhor e que faz e se mostra melhor - algo que eu gostaria de ser aqui na superfície, mas não fui (nem pela ficção), estando a ação da literatura (como reparadora) no caso - também fracassado por mim. Bom, se um dia sair esse livreto, quem viver lerá...
(se ainda houver público - cada vez mais gente escrevendo pra outros escritores lerem). Hoje termino sem clímax ou conclusão na linguagem (termina assim de forma interminada)...Inté.

sexta-feira, maio 02, 2008

Depois de toda tempestade vem a calmaria - besteira. Depois de toda tempestade (crise) vem o desânimo e os porquês existenciais, tão importantes, mas nesse momento estão se tornando um empecilho a viver. Já enfrentei outras hordas desanimadoras e letárgicas, mas como as atuais, (respiro/suspiro), não me recordo. O corpo se cansa, meu corpo cansou, meus olhos já turvaram tudo que podiam. Eu olho, miro, tudo isso aí, não me vejo mais - em nada. Eventualmente sinto falta do materialismo que perdi - dos sonhos tangíveis, como uma casa na praia de frente pro mar, carros esportivos e viagens em torno do mundo. Tinham também os sonhos momentâneos e impulsivos e os de luxúria. Parece que nesse tempo, mesmo com todo desconforto que desde sempre senti e me acompanhava eu conseguia a proeza de VIVER. Concentrava nesses planos concretos, deixava o abstrato pra algum poema, desenho - de repente o abstrato tomou conta do real, da vida em si, do cotidiano. Desprezo esses desejos que a pele e a carne necessitam. E quando falta "goals" na vida, nada mais restará. Não há ideologias, lutas, propostas. Pra merda o comunismo, o capitalismo, os partidos políticos, a política, o Fidel, os EUA e sua eleição, a nossa política, o crescimento do mundo em números, pobreza versus liberdade, expressão, compreensão, justiça, fome, riqueza, senso crítico, ética, deus, homens, mulheres, alegria e tristeza. Nada além de suspiros e respiros. Observar a cidade, o ritmo alheio, as curvas e os buracos da calçada que acumulam água da chuva, a vida passando como num filme italiano. Depois da tempestade ... é melhor nem sobreviver.