segunda-feira, junho 30, 2008

vozes

"tinha sofrido um acidente de carro, ficaria 7 meses no hospital, e acabava de sair uma nova edição de Sagarana, que depois transformaram em vários livros de contos, eu aproveitei pra ler o livro todo - o conto de Miguelim, lá perdido no sertão, um viajante vendedor de óculos, coloca nos olhos do menino um óculos e ele pela primeira vez pode ver as árvores, as folhas, o rosto da mãe, e aí ele fala - mas mãe como você é bonita - é lindo demais"

Paulo Autran, em depoimento sobre Guimarães Rosa

quinta-feira, junho 26, 2008

vozes

"Eu nunca choro. Eu tinha 3 anos, estava em casa com um gatinho, meu pai chegou e me viu, me agarrou pelo cabelo, e no quintal, matou o gatinho o jogando contra parede, até que o sangue espirrasse em mim - eu ali olhando, e ele gritava - CHORA SUA DESGRAÇADA" - não chorei, nunca mais"

Cleyde Yáconis, atriz

quarta-feira, junho 25, 2008

pele



"O mais profundo da minha pele"

Parodiando Paul Valery

Foto - eu em 2005 (saudade de mim)

terça-feira, junho 24, 2008

Fiquei pensando. Minha mãe teria sido mais feliz se tivesse sido lésbica. De repente ela teria se relacionado com outras mulheres, mais práticas e sensíveis - não se casaria com meu pai (que foi um péssimo marido) e não teria procriado filhos de sangue - eu nem nasceria nessa merda. Daí ela adotava um pretinho numa creche. Depois ela adotaria cães de rua, uns gatos, seria mais feliz. Ela, com seus vira-latas, gatos e seu pretinho (filho adotivo é muito melhor) - os de sangue como eu, não valem nada. É, uma pena mesmo.

segunda-feira, junho 23, 2008

Tormentos. Enquanto a pílula que nos faz desaparecer não é inventada, eu reinvento um jeito de não existir. Já desaprendi a viver. Isso é um fato. E desaprendi a me relacionar. E estou desaprendendo muitas coisas triviais de qualquer ser humano. O jeito que a sociedade se porta, não está em sintonia comigo. Que faço eu? Sumir, feito Virginia Wolf, Torquato Neto, Ana Cristina Cezar, Ian Curtis, Kurt Cobain e...(quem será o próximo) - maldita voz do além.

sábado, junho 21, 2008

trechos

"Eu saí correndo, ele veio atrás, a tarde era quente, mas os ventos já traziam as nuvens. De repente, um toró, desses de fazer tudo um cinza só, e não se via mais as cores do mundo – só corríamos. Duas coisinhas bestas, magricelos que éramos, descalços, nada importava, o dedão do pé estalado de dor, nada, era só correr. Fazíamos as curvas nas ruas, não sei como não morri atropelado, algum anjo corria junto comigo. E chegamos à grande ladeira. De ambos os lados casinhas e casebres, de jardim e garagem, de muro coberto por planta trepadeira, aquele cheiro de feijão no fogo pra janta, os maridos chegando das fábricas, com fome, os filhos correndo ladeiras. Jorginho me olhou e disse – “vambora” "

(do livro Depois do Fim vem o mar - conto de mesmo nome - Mau Fonseca 2008)

segunda-feira, junho 16, 2008

trechos

"No horizonte um breu invade a cidade, cada luz que se apaga é alguém ou alguns se deitando com morpheus. Já é hora de pais e mães buscarem filhos adolescentes nas festas – sintonizam rádios com músicas sem intervalos comerciais - ninguém precisa de locutores. E os bêbados - estes cantam na volta pra casa, junto aos cães vadios em grupos protegidos por espíritos viciados em álcool que circundam bares e botecos. Nas praças dormem mendigos mal cheirosos e suas crias. "

(do conto - Sirenes - do livro Depois do fim vem o Mar - Mau Fonseca)

sábado, junho 14, 2008

trechos

"Tinha uma roda lá, perdida no vendaval. Voou foi tudo, de dinheiro a documento de madame e estelionatário. Mas é dia de feijoada, contra o colesterol o pé de porco e a orelha são pra dar gosto – ninguém agüenta não, na hora de fazer o prato deixa-se de lado os suínos, diz o rapaz de camisa importada e gravata – é pro feijão carregar na gordura. Ah, ninguém mais suporta é a gordura que percorre esses cantos esburacados da cidade. Eu vou e não acompanho ninguém. Sei de cor todas as vielas e alamedas, mesmo quando máquinas arrebentam o assoalho. Das curvas fechadas, perigosas, sei tudo, e no final tudo dá em círculos, te digo, não adianta achar que sabe por onde pisa pra depois dar num lugar inesperado, a sobra é frustração."

(tirado do conto - Meio fio - do livro Depois do fim vem o mar - por Mau fonseca 2008)

domingo, junho 08, 2008

New ways of life

Modo de vida atual - contra insônias - psicotrópicos, não fico mais acordado (só quando vou escrever) - contra o mundo - saber o mínimo das pessoas, incluíndo famíliares. Contra outros mundos - não ler jornais e evitar os telejornais ou debates. Conversar, apenas com minha cachorra. Dar conselhos, nem a mim mesmo. Telefone celular, quebrou. Agenda, prefiro o blog. Música - o tango pela noite. Meu sobrenome estou doando. Em breve quem sabe, venda também meu primeiro nome. O futuro nem existe. Salvar o mundo - é uma cafonice. É, cada dia pior. Se morrer - doador de órgãos.

quinta-feira, junho 05, 2008

O sexo forte acabou (no século 21) agora é sexo flexivel.



Até o século 19 a mulher sofria por amor (pelo amor de um homem, pela ausência do amor ideal, do amor platônico) e isso era colírio dos poetas. No século 20 veio a pílula, os antidepressivos, as minisaias, e a internet. A mulher continua sofrendo por amor, mas com uma diferença - sofre por muitos amores, mas o tempo é tão corrido que nem percebem o sofrimento - as mulheres evoluíram - elas venceram.

Venceram idéias idiotas de categorizar o sexo feminino e masculino - o frágil e o forte. Isso só fez a mulher se subjulgar e os homens se tornarem déspotas hipócritas. Mas no fundo é uma vitória que nada vale - a relação no século 21 ainda é baseada na posse, o que nos coloca diante da verdade - tantas revoluções pra nada. Pela velocidade das coisas, as mulheres são mais flexíveis - abertas pro desconhecido, não se prendem mais em amores ou rótulos de homens ideais, é o tal da - a fila anda. Esses jargões pobres da internet que são repetidos naturalmente é o exemplo que o "filosofismo" virtual PEGOU, feito Super Bonder, e ninguém quer mais sofrer, chorar, porque "a vida é curta" e "deus me disse - desce e arrasa" e as 4 amigas de Sex and the City são assim, sem tirar nem por.

E por isso elas são admiradas por nossas (a de vocês) mulheres daqui da Terra, de carne e osso, mas sem luz e maquiagem. Quer dizer, com os orkuts da vida, ser uma celebridade requintada não é mais privilégio de Sarah Jessica Parker - mas de todas (a diferença fica pelo cachê). E se pintar uma depressão momentânea na mulher de hoje - ela pega sua bolsa de pele de crocô comprada no elegantérrimo shopping Cidade Jardim, e tira de dentro uma establizador de humor, se maqueia, e vai trabalhar, suas 8 horas diárias, pra depois pegar uma balada e - a fila já andou. E os homens???? Esses tão aí tentando fingir que são grandes fodedores de vaginas na caça da selva de pedra.

E quanto ao amor, e a condição de seres especiais - ah isso já foi deletado (ultrapassado). O que sobrou foram carcaças de vaginas e pênis.

domingo, junho 01, 2008


Último cartum que fiz em 2006. A mensagem era pra mim. Fracassei. Tô sem ânimo algum. Inté algum dia.