sexta-feira, outubro 31, 2008

Gullar


Já devia ter falado sobre Ferreira Gullar, é um mestre para mim, na verdadeira concepção da palavra mestre - professor mesmo, aquele que ensina ou transmite algo. Tantos professores que tive que me falaram a respeito da Arte Moderna e Contemporânea, mas fui compreender e mergulhar na estética (subjetiva dos movimentos objetivos) na percepção da arte visual do século XX com a obra didática e analítica de Gullar, composta por artigos que ele escrevera no Jornal do Brasil nos anos 50 e 60, reunidos após em livros a partir da visão dele, como artista visual, pintor, participando do movimento neoconcretista, ele foi personagem, crítico e teórico no presente momento da história, daquele que possivelmente foi o último movimento de vanguarda na América Latina. Pra não dizer, que as Artes Plásticas encerravam suas atividades sob aspectos de "inovação, praticidade". Além de intelectual da arte visual, é escritor e poeta. O homem é história viva.
Caricatura de Luis Carlos Fernandes.

quarta-feira, outubro 29, 2008

A problemática da conversa contemporânea


Preste atenção em seu amigo/colega, de trabalho ou de vida pessoal, seja num café, restaurante, comendo uma massa ou um pudim de leite ou um Flan em calda, seja como for, veja se a pessoa lhe compreende, se prende a atenção dele naquilo que você diz ou reproduz, através de uma estória, que nessa altura já poderá ser história - a resposta é: NÃO. Ele não se prende no que você diz, e todo tempo tenta rebater aquilo que o outro está dizendo, para contar uma outra estória, melhor e maior.
As pessoas estão assim, conversam com celulares tocando, entre papos sérios ou ridículos. Quer dizer, há entropias diretas e indiretas, e o desejo de sobrepor o outro é maior do que o desejo real de ouvir, sentir e refletir naquilo que o outro reproduz através da experiência do outro. Ou seja, o outro não significa nada na sociedade atual; há um desprezo pela vida do outro, por sua contribuição. As idéias do outro são ignoradas, isto acontece por muitas razões que somente uma pesquisa poderia determinar, não fiz pesquisa alguma, portanto não vou enumerar nada, mas percebo, tenho essa perspicácia, enquanto tento dialogar (nas raras vezes) com um outro alguém, mentalmente espero por uma interrupção, do apressado(a), em me rebater, se fazer maior e melhor, sobrepor sua experiência sobre a minha, rebaixar o interlocutor, elevando-se, como se a relação inter-pessoal fosse um combate, sem espadas e escudos, mas por entre palavras, verbos (de ação).
Não há cumplicidade entre ditos "amigos e parceiros" e também casais ou parceiros amorosos. Ninguém está preocupado no diálogo, na troca de ideais, objetivos, aprender pela experiência alheia, etc. Isso tudo já era, não pertence mais a sociedade ultra veloz da era atual. Foi banalizado pela competitividade dos humanos, uns contra os outros, e talvez não se poderá retomar tal vivência. Jamais o ser humano esteve tão só. Tão distante de si mesmo. Eu, por mim, me sinto exausto e desistindo (ou ja desistido), das relações inter-pessoais, os estragos em mim estão aí, não tem retorno ou revival. Tanto quanto esse blog que não tem razão. É um passatempo à toa. Converso com minha pastora alemã, com cães vira-latas nas ruas e paredes.
Na foto Marlon brando conversando com seu cão, o maior ator de cinema americano, em 1951 (foto já reproduzida aqui, num ensaio que fiz sobre fotografias de gênios do século XX).

segunda-feira, outubro 27, 2008

Picharam o vazio da Bienal de Artes

Tenho pensando e pesquisado sobre as artes plásticas dos últimos 15 anos, embora não tenha conclusão alguma, por enquanto, a verdade é que não haverá conclusão - a arte contemporânea é uma ressônancia do moderno e pós moderno. Mas a ação de grupos de pichadores, e então vez a dúvida cruel, são ou não interventores urbanos, como se define certos grupos e artistas visuais da chamada "street art". Que sejam ou não, parece tudo muito orientado, de repente se joga na mídia cujos tentáculos são na atualidade infalíveis, pois bem, se fala na mídia do famoso segundo pavilhão do prédio no Ibirapuera, tradicionalíssimo do seu Oscar Niemayer que ficaria o tal pavilhão vazio - O espaço do vazio. Eu que sou pastor alemão, treinado pra desconfiar, já achava estranho, mas com essa reação pichadorística, me parece coisa tratada nas surdinas, e se for, poderá ser considerado como uma arte performática, afinal, os artistas plásticos fazem coisas mais ou menos malucas e impensáveis no que se refere à Arte Conceitual, que é outra coisa complicadíssima, que mesmo pra quem vive entretido com pesquisas de artes visuais contemporâneas é um treco muitas vezes inexplicável - que não cabe dizer nada. É claro, sempre existirão críticos e professores que falam e dispersam idéias em textos analíticos que confudem a cabeça de qualquer um - inclusive a minha (devo ser honesto).
Se foi ou não um ato premiditado, deu certo do ponto de vista exposicional, rendeu uma boa mídia espontânea, e isso nos remete ao tão falado e criticado Andy Warhol, por suas idéias absurdas que deram início a tudo isso aí - desde a street art, inclusa no movimento Hip Hop das periferias, aos interventores urbanos tão "fashion" nesse século XXI e a eterna briga de pichadores "outlaw" e artistas visuais recém saídos das universidades pagas, de cursos de DI e Publicidade (vou me esconder dentro de um saco de pão) e se julgam artistas. Bem, isso soou irônico, mas não é ironia. A arte do vazio não está num pavilhão, talvez esteja nesse mundo todo globalizado (e chato). Falarei mais disso noutra vez.

sábado, outubro 25, 2008

E por acaso desisti

Estou com um cansaço mental da humanidade. Já não me interessa os papos em grupos, em torno de mesas de bares e restaurantes, repletos de exageros e discrepâncias, a cerveja (eu odeio cerveja, tenho nojo) que desce a garganta e ludibria o cérebro; ninguém está conversando, trocando idéias, cada qual conta vantagens e aventuras. Ao redor de um grupo de homens e mulheres não há espaço para perdedores e fracassados, frustrações ou desânimos. Todos devem ser fortes, otimistas, sonhadores, esperançosos. Não sei quando se deu isso, mas não há espaço pra mim nesse mundo (será o mundo pós moderno ainda?)*.

Tudo que não sou é otimista, sonhador, feliz o tempo todo, não sei esconder frustrações e desânimos e detesto ouvir piadas idiotas, gozações alheias, ou histórias sobre as últimas férias de fulano, beltrano, etc e etc. Esse papo furado não me interessa mais. Não me satisfaz. Não há mais espaço pra inteligencia, pra poesia, nada.

Ficou tudo restrito a uma mesa de bar, celulares sob a mesa, pessoas que não se bicam e distantes um dos outros (porém sentados ao redor de uma mesa redonda) munidos de suas taças de caipirinha e cerveja, fumando, misturando a nicotina com perfume Hugo Boss ou Dolce Garbana comprado à prestação, eles sequer escutam uns aos outros, homens e mulheres apenas falam, despejam adjetivos e gírias para se auto promoverem - e cada um rebate o que o outro diz, com uma história melhor, mais engraçada e sempre tem um alguém (o bobo da mesa) para animar a reunião, com alguma outra história hilária ou quebrar alguma tentativa de se falar algo inteligente com uma piada de português ou de "bicha"; quando não uma piada de "preto" demonstrando sucintamente o quanto nossa sociedade é preconceituosa e pouco se importa com o respeito ao outro (a frase perco a amizade mas não perco a piada, diz bem isso).

É, pois é assim que a massa vive e caminha, incoerente e iludida, fazem fila em bancas de jornal para comprar uma porcaria de um ship de uma nova operadora de cel, que dá não sei quantos meses gratuitos pra se falar ao celular - afinal, o que desejam falar mais?? Se ninguém sabe o que dizer?

Definitivamente isso não me atrai, nem a beleza das mulheres atuais, cada vez mais bonitas graças aos milagres contemporâneos, de roupas que levantam a bunda, os peitos, coisas que alisam cabelos, enrolam, desenrolam, pintam, colorem, etc. Ninguém mais é puro, nem de alma, muito menos de corpo. O sorriso deve sempre estar no canto da boca, porque é proibído não ser feliz.

*Apesar de estudar muito a História da Arte, como artista visual e historiador da arte, eu desconfio que não há um crítico e teórico da arte na atualidade que saiba finalmente dizer o que estamos hoje fazendo nesse mundo (sequer conseguimos desvendar o cubismo, quanto mais hoje, uma Era de vazio e muita entropia) - chiados e grunhidos.

terça-feira, outubro 21, 2008

Down in my hole


A trilha sonora dessa foto só pode ser Layne Staley cantando "down in a hole" em seu acústico funeral, quando a maior parte dele já estava em outro mundo; no palco só restavam dele as melancolias e a solidão. Exatamente como essa minha foto.
Poderia dizer que é um tipo de Requiem, como Mozart deixou seu Requiem inacabado, quando ele já morto, mas vivo, mas morrido, mas respirando, sabia de sua ida, em breve. E foi.
Vivo escrevendo meu requiem. Certeza só tenho que ficará inacabado. Como um acústico; nunca termina.

quarta-feira, outubro 15, 2008

lifeless as a vulgar display of power


Estou tentando fugir da vida, fugir desse mundo. Mas a vida me pega na esquina. Puxa meus pés, me arrasta e eu arrasto ela. Alguns malditos laços de família não se desamarram. Eu não quero apenas desatar nós enfurecidos, eu quero mesmo arrebentá-los de vez e esquecê-los. Os psicotrópicos não me servem mais. Não apagam a memória, assim como a lixeira do Windows também não apaga totalmente os arquivos deletados, que ficam num canto obscuro do sistema. Por mais que eu ande, não consigo fechar o maldito ciclo. De primavera em primavera, ventos e chuvas e mil sóis irradiantes. Nada muda de verdade. Pensando minuciosamente, nada muda nessa vida. E ninguém se transforma. Verdadeiramente.

domingo, outubro 12, 2008

blog novo

"Reflexões e pensamentos sobre Arte Contemporânea" - deverá ser um outro espaço que devo criar para pensar sobre essa coisa que chamam de contemporâneo, mas ninguém sabe ao certo, muito menos eu sei sobre isso, que estamos vivendo, e somos incapazes de escrevê-lo. E não adianta dizer que é justamente isso o contemporâneo - o incompreensível, a anti arte teórica, ou o Inominável (nada a ver com Beckett). Toda vez que escuto isso, sobre nossa atualidade, soa como uma ignorância em não saber determinar e articular o presente no espaço histórico. O que é um fracasso atual - que deverá ser. Afinal, o que é a presente vida, na era digital de alta tecnologia e ultra velocidade de informação ?? Será que somos mentalmente mediocres que não podemos entender essa joça? Eu vou arriscar.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Próxima parada (assim se a Fapesp deixar)


Não me lembro quando pensei em mim pela última vez - digo pensar como ser humano, como membro da sociedade e através de relacionamento inter-pessoal. No momento a humanidade não passa de um instrumento para minhas pesquisas e projetos. Uma interação mediana, pouco minuciosa. Minha tese de mestrado ocupa boa parte do tempo cerebral diário. A partir dela, farei um ensaio sobre cinema soviético e cinema cubano na era comunista de Fidel Castro (em 2009 visito Moscou, darei um "oi" para a múmia de Lênin). Além de tudo isso, trabalho numa pré-produção de um curta metragem ficcional, cujo roteiro também é meu. Paralelamente trabalho com artes visuais experimentais, literatura, performance e video arte. Penso, penso todo tempo. É um pensar constante. O prazer parece que me foi esquecido, roubado, extraviado de mim. Não importa, não faço por dinheiro, até porque não ganho nada por trabalhar com arte visual, isso não me dá um salário ou coisa assim. O mestrado me paga a bolsa, é o suficiente. Consigo tempo para não ser um escravo diário de um emprego com patrão, metas, bater o cartão na catraca de manhã e a noite, ser um gado numa boiada urbana. Tudo que nunca quis ser. O preço que pago é pensar todo instante. E não acabou, penso em criar um Grupo de Arte Contemporanea - dança e teatro e adaptar Kafka, Beethovem, Mozart, Balzac, através da perfomance musical abstrata, etc e etc (preciso encontrar coreógrafas além de tudo). Me pergunto - aonde vou fazer tudo isso - respondo - num quadrado qualquer desse mundo, mesmo que seja para às moscas.

quinta-feira, outubro 09, 2008

Não a bossa, sim ao tango

Sem revanchismo nacionalista, mas é o tango que me diz algo. Não me diz nada a bossa nova de Tom, Vinícios, João Gilberto. Também não vejo a bossa como uma música que ecoa por São Paulo. Deve ser a música do Leblon, do Rio, de quem nasce lá, mas aqui não. A lenga lenga minimalista e "desafinadamente afinada" da bossa não me satisfaz. Em música prefiro a melodia com energia, a sensualidade, exatamente o que tem o tango, o flamenco, entre outros. Respeito o carater histórico da bossa, como criação genuinamente brasileira, mas não escuto. Do minimalismo prefiro mesmo que este esteja na arte plástica, no teatro; na música não. Eu sou um tango dramático cujo fim não vai ser uma porra de um entardecer de Copacabana.

quarta-feira, outubro 08, 2008

A Estética da Dúvida

Alguém matou o Czar. Sangue pra todo lado. Revolução vermelha. Erguem-se as fábricas. No chão cinza e áspero, calorento e desumano eles, homens sujos de gracha trabalham e não sabem o que lá em cima nas salas encarpetadas, homens do cérebro fazem tomando vodka gelada na fria Moscou revolucionária.

Obsecados pela máquina, gozam nas primeiras jeringonças masturbadoras. E depois escrevem noites inteiras, sobre o dinamismo e a objetividade das máquinas e o perfume entoteante do óleo que consomem. O construir é mais importante que o alegórico. A metafisica e o romance ficaram para o século anterior. O mercado é amaldiçoado, a máquina endeusada, rogam pragas aos comerciantes e capitalistas. O cinema tem de ser o vertoviano verdadeiro.

Sem emails ou iphones, viajam idéias por cartas e telegramas. Na Alemanha um russo que inspirou os soviéticos (a geopolítica é absurda) retorna de um passeio à terra natal cheio de não- idéias. Nasce o design funcional e extremamente simplista, nada de ornamentos - cultuar a frescura é antiquadro. Sem querer, os revolucionários, de Tatlin à Gabo deram um combustível fenomenal para a indústria e o consumo de massa.

Graças a isso, hoje milhões de carcaças falantes gastam seus créditos pessoais em lojas de departamento, pagam juros em prazos de anos, para comprar bugigangas eletrônicas nascidas na Bauhaus, no De Stjil holandês, no design alemão suiço, franco, belgo, inglês que está inserido nas capotas, lanternas e spoilers de nossos carrões turbinados de gasolina, responsável entre outros fatores pela crise que faz nossos líderes e ministros inteligentíssimos esticarem suas sombrancelhas e suspirarem com as quedas das bolsas e o medo da falência humana. De repente, tudo vai falir.

E isso porque não enfiei Duchamp no meio disso tudo. Inté.

terça-feira, outubro 07, 2008

o amor se fodeu - desistências

Nos últimos tempos tentei as sadomazoquistas, as executivas, as inconstantes, as devassas, independentes, intelectuais, reprimidas, extrovertidas, mas nenhuma foi melhor que um bombom de licor numa taça de sorvete de creme e chocolate.

É a Estética do Tédio.

domingo, outubro 05, 2008

desgovernado

Não vai ser através do voto que vamos melhorar coisa alguma. Seria preciso uma evolução humana sem precedentes na história da civilização. Enquanto "jingles" e "vinhetas" bobinhas guiarem os votos obrigatórios de nosso sistema democrático, enquanto promessas virtuais e popularescas serem ainda fator principal na escolha da votação, não haverá mudanças reais e absolutas na sociedade, seja numa metrópole como SP ou numa cidadela qualquer.

O voto é muito bonito e foi um exercício pós ditadura, mas passado esses anos todos o que fica é uma sensação de idiotização, de falsidade, por parte dos políticos e por parte do eleitor. Votou-se na mesmice, nas "palavras de ação", discursos herdados dos velhos políticos, que já nem sabemos mais se pertencem as "velhas oligarquias - ou não tão velhas assim". Até isso ficou complicado. Verbos no infinitivo e uma compra de votos indireta por baixo dos panos de mesa quadriculados num almoço típico brasileiro - feijão preto, salada de alface, arroz, farofa e suco de maracujá pra acalmar.

Nenhuma mudança real, enquanto cada infeliz que habita esse mundo, mundo-cidade, mundo-bairro, mundo-país, mundo-mundo mudo, não tiver uma mente aberta à reflexão além da ganância em ter e possuir consumir engolir vomitar e arrotar.

Porque infelizmente depois é só usar um líquido bucal que mate os germes e tudo fica limpo. Pronto pra mais uma feijoada e cervejada. Eu não acredito mais em humanidade, com 7 bilhões de andantes na superfície. A justiça dos deuses não serve pra esse formigueiro de parasitas.

sexta-feira, outubro 03, 2008



Alexandra Maria Lara, atriz romena vivendo Jung Tradl, secretária alemã de Hitler em seu derradeiro fim - ela se salvou pra contar a história que fez o grande filme - A Queda de 2005. Boas recordações, ela é belíssima. Grande Bruno Ganz, como o próprio Fuhrer encarnado.

Ganhei um ânimo qualquer pra seguir meu mestrado, indiretamente tem a ver com o período. No final dele, servirá pra um bom documentário. Um dia falo mais.

quinta-feira, outubro 02, 2008

Como ir da Rússia de Lênin até Cuba de Fidel numa tela de cinema construtivista, maquinária e hiper idealista ???? É o que estou tentando projetar no meu projetor czarino. Uma encrenca só.