sábado, novembro 29, 2008

Uma vida de mentiras...


Nossa vida é uma mentira contada todo dia, todo segundo. A lógica da existência é mentir. As mentiras do mundo da felicidade, da política, da razão, de deus e religiões, a mentira da ciência como salvação e esperança, a mentira de nossas mães e pais. A vida é sim, uma devastação.

Vive-se a mentira do mundo que deseja se salvar, através do meio ambiente porque repentinamente se descobriu a importância da preservação e toda essa baboseira repetida pelos cantos, por nós todos, moralistas de caras e bocas, sempre entendidos e super atualizados. Estou cansado do mundo, mas de mim, da politicagem que fazemos. Não apenas a política partidária, mas a politiqueira da rotina, desse nosso cotidiano que nunca mudamos porque não queremos e portanto, ninguém está salvando ninguém. O ambientalismo foi incorporado ao marketing pra fazer mais dinheiro, e só, nada vai mudar.

As ONG´s estão entre corrupções e ações pequeníssimas que no fundo não passam de uma culpa de alguns poucos. Existem sim mentiras do sistema, aquelas maiores que nos controlam - por exemplo, já sabemos que existem hoje carros que poderiam ser movidos faz mais de dez anos por eletricidade, água, vento, etc e etc. A tecnologia evoluiu e hoje não precisaríamos dessa merda de petróleo ou etanol, mas quem disse que o mundo precisa saber a verdade? Quem vai lucrar com carros movidos a ar ou sol, ou sei lá o que? Deixem o mundo queimar o ouro negro e dane-se, depois, se inventa algo inteligente como "neutralização de carbono".

Falo isso, não porque estou preocupado com o clima, porque já desisti e porque não estou me importando se amanhã viveremos o desastre (ja vivemos). Mas me cansa essa baboseira de protocolos de Kioto, Rio 1992, encontro de líderes de países G20, G10, G1000, reuniões e jantares, homens engravatados ou palestras de nomes da ciência, Al Gore, Di Caprio, usando cinema, TV, internet pra falar da importância do despertar do mundo adormecido para o aquecimento global, blablablablabla - estamos todos ligando a chave de nossos carrões beberrões de gasolina e acelerando fundo - nós estamos comprando às prestações carros pra garantir nossos privilégios - num momento de crise se fala em alto e bom som - COMPREM ATÉ ACABAR SUAS POUPANÇAS - é essa a lógica contemporânea.

Se o consumo acabar, o mundo entra num colapso, a gente fez essa merda, e depois perdemos tempo com palestras e seminários, empresas se pondo como MODELOS de sustentabilidade - enquanto não passam de "cases" de marketing muito bem arquitetados pra enganar o senso comum das milhões de carcaças falantes semianalfabetas (com ensino superior inclusive) que assistem TV, futebol e adentram universidades pra garantir festas e churrascos em campeonatos esportivos durante 4 ou 5 anos, ou até mesmo, sexo fácil com universitárias bebadas em cabanas improvisadas - ahhhhhhhh. E os mestres ou professores conseguem o inexplicável que é simplesmente não saber se explicar - o tal do intelectualismo (ou inutilismo acadêmico se preferir) ou como uma professora de português dizia na oitava série - "zé você só encheu linguiça nessa questão". Basta tentar ler os livros lançados nas mostras de arte ou bienais, cujo autores são professores das maiores "patentes" acadêmicas do Brasil, porque não dizer da USP - é pior que achar pelo em ovo, retire dos textos frases soltas e forme tópicos para se ter a idéia da perda de tempo, da gráfica e do leitor. Estes mesmos professores que dão aulas pra esses mesmos alunos e tudo transparece uma grande ciranda infinita - que estou atrelado também.

Quando me dá essas febres e preciso tomar alguns psicotrópicos, sempre antes de adormecer 20 horas seguidas e pisar em Marte, tenho surtos imaterialistas, e deixo a realidade derreter como as geleiras do Ártico, casa dos pobres ursos polares. Nessas horas falo um foda-se pra minhas realizações fracassadas, e naufrago os poucos planos e objetivos em vida. Isso acontece em noites de sexta e sábado e culminam num domingo detestável de olheiras, dores na nuca e no corpo, mau humor e um amargo gosto na saliva, uma lágrima seca que coça meus olhos quando fito esse horizonte. Lapsos de verdades, num mundo de mentiras. Sinto-me desprezível como ser humano. Sorte de outros bilhões que estão aí literalmente gozando a vida, cegos e surdos, gordos e felizes, todos filhotes dessa vida de mentiras. Esta é a estética do tédio, do desuso e da desmobilização. O mundo não precisa ser salvo, porque talvez nossa destruição seja simplesmente os fatos comprovando os atos, na pior das hipóteses, estamos sendo prova da nossa razão, que como toda razão leva a muitos acidentes.

quarta-feira, novembro 26, 2008

branco sobre branco


Assim que estou me sentindo. Pior que eu sabia e previa isso. Por maior que seja meu pessimismo natural, sempre tem uma brisa positiva bem fraca lhe dizendo algo, mas daí vem um burocrata com um currículo extenso e lhe diz - sabe quando você largou tudo e resolveu começar, depois largou novamente pra recomeçar, sabe, então faça de novo, porque está tudo errado meu rapaz. Eu sequer reclamei, pestanejei, balbuciei. Engoli e resignado fui embora. Ficou tudo branco sobre branco.

sábado, novembro 22, 2008

Só faltava o ato final, a platéia estava excitada, voltei ao meu camarim, e as encontrei, lindas e radiantes, o ato havia terminado, contudo ainda permaneciam em seus personagens, delas, vestiam belas lingiries e bebiam champagne. De repente percebi que a peça havia trocado de lugar, o palco era então os bastidores, bem distante dos olhos do público, que já não entendiam o atraso para o último ato. Ficamos lá, num baile em preto e branco, parece que foi ontem, numa década de 30 qualquer.


Adoro essa imagem montada pelo fotógrafo e a modelo contrariando o diretor "não olhe para câmera" e cheia de si ela simplesmente nos convida para entrar na festa. Perfeito.

quinta-feira, novembro 13, 2008

O teatro, o cinema, e o teatrocinema; tudo se perde ou ganha no final do espetáculo (a peça bloguiana de Gerald Thomas via IG ao vivo no Sesc)



Kepler o cão que ofende mulheres - uma atriz encoleirada é subjulgada por algum homem idiota, o mesmo que vai para as guerras, o mesmo que fez o Cubismo violento contra as guerras, o mesmo que botou Joana D´arc na fogueira ou mutilou alguma africana na genitália. É esse possivelmente a razão extraída da peça que vivi e vivenciei indiretamente ao longo dos últimos meses na companhia intra-pessoal de Gerald Thomas, e como resultado a encenação teatral, ou talvez um ensaio video gravado e transmitido ao vivo pela internet para um público blogueiro e usuário da rede.

Arte e vida, arte e guerra. É o homem quem traça os inícios e infinitos finitos. Há quem busque um novo renascimento ou o fim de tudo, talvez na queda das torres do WTC, quando os terroristas árabes promoveram uma "intervenção urbana conceitual" Land Art, pois sim, não fosse pela barbárie de tantas vidas despedaçadas, dos mortos e da cidade toda, não fosse por isso, o efeito dessa ação seria considerado um evento objeto artístico grandioso. De repente a arte morreu e ficou lá, dentre os escombros do WTC, nada depois daquilo faria sentido - o teatro e o cinema não pode mais chocar ou impressionar. Uma impressão...
O teatro no teatro como o Impressionismo

Teatro é vivo e verdadeiro sob um ponto de vista de construção, mais tátil porque simplesmente se está de corpo presente. As sensações visuais são como o Impressionismo. Sim, acho que fica mais fácil entender (pra eu entender), é plen-air como dizem os franceses, as cores, a fumaça, o frio do ar condicionado, o murmurinho da platéia, a posição da cadeira, o cheiro, as vozes do elenco, o som, tudo tem peso, tudo é tangível. Nesse sentido é verdadeiro, sendo mentira em sua mensagem, mas isto é outro papo. O teatro dá a possibilidade de estarmos no mesmo patamar ou plataforma do mundo onírico, como se o sonho estivesse ali em nossa frente, basta dar alguns passos e pronto, qualquer cidadão, feio ou bonito, alto, rico ou idiota pode entrar. É como estar diante do céu mas também do inferno. O público eventualmente pode estar acima do elenco, superior ou observando o plano central, julgando e analisando - o público tem essa impressão. E no cinema todos os lados estão apresentados e desnudados.

O cinema no cinema, como no Cubismo

A obra cinematográfica do ponto de vista da produção e criação é uma mentira, mas ao contrário do teatro, entendo que sua mensagem é verdadeira. Um inverso do outro. Será mesmo? Eu acredito que sim, mas vou dizendo sem pestanejar. O cinema inexiste até a montagem. É nesse estágio que nasce a dinâmica das sequências de cenas, e também os personagens, porque ao contrário no cinema não se faz da experiência ao vivo, mas sim de pedaços ou fragmentos, produzidos aos montes durante as gravações, que depois os montadores juntam tudo, como um quebra-cabeça de imagens, surge então a narrativa, a verdade, a mensagem é construída, a obra enfim é criada. Para o ator, o diretor, antes da montagem é tudo encenação, é o encenar de encenar, ou seja, encena-se a encenação - estranho assim - desde Eisenstein e Vertov, cineastas do período lenista e stalinista da Rússia revolucionária.

Um defendia o cinema verdade de registro (Vertov) outro o cinema intelectual e ficcional (Eisenstein). Vertov vinha da ideologia revolucionária, do chão de fábrica, desconsiderava o cinema como obra de arte superior, mas apenas como reprodutor de imagens (na verdade Maiakovsky que pensava assim e formava uma corrente junto com Vertov e outros). Apesar de Eisenstein viver o período bolchevique, vinha ele do teatro (idem Maiakovsky), e essa teatralização de Eisenstein era elemento presente na sua obra de cinema, naquele momento um destaque da indústria da comunicação, sendo grande instrumento do próprio Estado - mais tarde de Stalin seria a gota d´água. Com Kulechov, Eisenstein recriminava o cinema de registro de Vertov (possivelmente precursor de nossos documentários), os cineastas intelectuais (kulechov, Einsenstein) não acreditavam em nenhuma espontaneidade diante das câmeras.

O cinema como o cubismo prima a forma, emite vários pontos de vista num mesmo plano bidimensional - expõe o objeto a dois ou mais posicionamentos contrários, pela técnica e a montagem. Eu vejo teatro como a impressão realista e o cinema como a montagem pictórica. A espontaneidade talvez não exista diante da lente e da luz da câmera, seja num documentário ou numa ficção dramática, a atuação cinematográfica é construída pela marcação técnica, não há muito espaço para inventividade corporal e desconstrução do gesto, é uma perseguição maquinária, bem próximo do construtivismo soviético, até mesmo da arte concreta suíça.

O Teatrocinema da blognovela

O teatro visto por uma tela pequena de computador sujeito às entropias da exibição intra-pessoal (algo que não seja pessoalmente) é como a comunicação diária no blog. Todos são íntimos distantes, sujeitados a uma entropia diária - a mensagem é verdadeira, mas os formatos criados (os nicknames e as técnicas) dentro do blog são falsescas, tal como na produção cinematográfica. Então, por associação, o blog é como o cinema também, mesmo parecendo absurdo. A encenação da peça ao vivo, como num ensaio, era teatro apenas pra quem estava na platéia, o cenário, elenco, a fumaça, a interação e o peso dos corpos e sons. Ao público em casa, era também uma peça teatralizada porque não houvera montagem anterior, seguia-se obviamente um roteiro, mas a montagem era ao vivo (o plen-air impressionista) - portanto teatro. E a criação foi com base teatral, Gerald é homem do teatro, e sua cia. faz parte do universo teatral. Nossa visão se deslocava na tela do computador procurando pontos focais, sendo que em determinados momentos a tela se escurecia, um corte cinematográfico e teatral.

É o teatrocinema ou nenhum dos dois...de repente não é uma coisa ou outra, é apenas uma obra audiovisual, como uma vídeo arte ou "Performance Body Art" que poderia ser reproduzida em paredes de museus ou encostas de morros, laterais de prédios, projetada por grandes projetores interferindo na paisagem, o que aumentaria a percepção e ao mesmo tempo provocaria outras interferências perceptivas em relação ao tema. Afinal, as idéias ou conceitos eram mais importantes que o formato, o que deveria ser relevante era a mensagem. E foi justamente a mensagem que prevaleceu e sendo assim funcionou, não importando quão complexa a linguagem.

Quando no cinema o diretor filma várias tomadas da mesma atriz, de costa, perfil, diagonal, de cima, com mão no joelho, no cabelo, boca entraberta, etc e etc, busca-se o excesso da imagem e o detalhismo para construção rica na tela grande. O teatro funciona melhor no minimalismo pra causar a impressão, ao mesmo tempo que limpa a imagem deixando o objeto exposto de forma nua. A atriz no cinema perde a espontaneidade é um robô humano seguindo as ordens do diretor e no teatro essa mesma atriz seria um fantoche maleável, solto e livre, com um toque mágico, um sopro de liberdade no palco. No cinema essa personagem ganha vida com a luz da montagem, na telona é o que importa, o objetivo final, a estória existe e mesmo com todo processo racional, por vias da emoção atinge o subjetivo do público. Há ganhos e perdas, seja qual for o meio, a importância de renovar é relevante. Vivemos uma época que se pode pensar - tudo já foi criado e não nos sobrou espaços para mais nada. A ousadia não foi repelida e nossa capacidade talvez ainda exista. Tem que se quebrar espelhos sem medo das pragas do azar e fuçar os escombros do mundo arruinado.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Nas entrelinhas mondrianas morreu Monalisa; questões subjetivas, objetivas, diretas, compreensíveis ou não. Quem sabe?

Mondrian, o artísta maior do movimento Neoplástico das décadas de 10 e 20 tinha uma visão utópica da arte e sua praticidade. Vendo de hoje, quase centenário, o movimento que ele iniciou na Holanda através da Revista De Stijl (O Estilo) parece que suas postulações estavam certas, no que se refere a evolução humana, e ao mesmo tempo entraram em caminhos errôneos quando se observa o século passado numa plataforma futura. De um lado estava o artista, que participava de uma geração européia brilhante e completamente distinta do resto da humanidade. Viviam num continente, repleto de preconceitos e radicalismos, aliados à tradição milenar de impérios e o desenvolvimento industrial. Por outro lado, Mondrian como a maioria de seus contemporâneos morreu pouco antes ou depois do fim da segunda guerra, não tiveram tempo portanto de observar o fenômeno da sociedade de massa.
O ponto central mondriano quando a unidade visual plástica e a linguagem visual exaurida de qualquer individualidade e subjetividade seria o essencial para que forma e função se encontrassem, na visão dele o aspecto que levaria o humano a se compreender universalmente. Tal conceito é mais utópico que o socialismo puro de Marx, contudo Mondrian apostava numa visão de longíssimo prazo - mais do que ninguém ele sabia que o desenvolvimento ou o apuramento da visão humana diante da arte levaria séculos, como mencionara, não seria em poucos anos que se transformaria a humanidade. Algo que T. Van Doesburg desacreditava em seu manifesto sobre o Elementarismo, buscava a prática acima de tudo, tão logo fosse.

O processo neoplástico nascera da simplificação da pintura representacional, a tal ponto que eliminado todos os invasores pictóricos sobrando apenas as linhas retas e curvas. Do mesmo modo na Rússia, os irmãos Pevsner, Gabo, Lisstisky, entre outros desenvolviam o construtivismo obsecados pela eficiência das máquinas e sua precisão - tida como ideal humano, a arte construtiva em realizar a obra de arte objetiva. Os russos viviam a arte e a sociedade, arte como função na história, por assim dizer, transformadora sócio e histórica, fazia parte do processo revolucionário liderado por Lênin. Mondrian como os expressionistas alemães da "Brücke" vivenciavam tão somente de forma singular o mundo das formas, dos planos, da matemática da vida - quando simplesmente a história da arte reproduz os conceitos numa simplicidade que caiba numa frase de um texto como esse, fica um vácuo de entendimento - deixa-se passar algo inimaginável e talvez uma visão que apenas aqueles "homens gênios" exergavam. Eis a cisma da teoria e crítica da arte - jamais conseguiu aprofundar os preceitos, teoremas e visões artísticos diante nossa condição mortal e humana.

Esqueçamos os lamentos por uns instantes. Em outro aspecto, as postulações de Mondrian e outros neoplasticistas se tornaram complexas e não tiveram nenhum êxito, ao longo das décadas do século passado. Em determinadas áreas a velocidade do tempo se viu fisicamente. Na física e química, como consequência - a Tecnologia, o mundo girou muito rápido, a ponto de estarmos em constante avanço, e sermos atropelados pela velocidade das conquistas da informática e comunicação. No social e político, o comunismo foi praticamente afogado e o mundo escolheu para o futuro a chamada democracia capitalista da liberdade de ser e estar, mesmo que para isso, o mundo esteja calcado na alienação comercial e fútil. Mas na Arte não houve nenhum direcionamento e o panorama talvez esteja pior que na primeira metade do século XX quando mentes geniosas, do Ocidente europeu à Rússia, sem internet e celulares manteve uma extensa rede de intercâmbio cultural, idealista e produtivo. Foi o período mais rico e inimaginável que a mente humana alcançou; e jamais conseguiu repetir o exito.

É quase impossível na atualidade reviver a visão mondriana de arte porque simplesmente se rejeita o simplismo em favorecimento do exagero. É complexo mergulhar na obra neoplástica ou suprematista de Malevitch e compreender através da percepção dos artistas autores estes dogmas que eles nos deixaram. Torna-se incoerente saber que pretendiam ser objetivistas e sem nenhum caráter sensível ou individual. Entretanto a racionalização da obra artística tivera efeito inverso, no decorrer das décadas seguintes. Apesar da excessiva simplificação e do reducionismo que arte sofrera, tornou-se demasiadamente distante de qualquer compreensão individual. O que para Malevitch e seu "quadrado branco sobre fundo branco", era apenas isso, para o indivíduo de mente restrita é o absurdo da ineficiência ou da perda de tempo, portanto, uma antítese à idéia original. De fato, qualquer leigo compreende melhor a arte figurativa num quadro como a Monalisa de Da Vinci. Mas as telas suprematistas que indicaram a morte da pintura de quadro e deu início a construção no espaço, ou seja, a tela se torna o mundo; sendo incabível a essa escassez perceptiva e imagética que a humanidade se aprisionou.

Vivemos hoje um pobre momento da percepção humana e os avanços da tecnologia não se traduzem em avanços humanos quanto à sensibilidade e razão. O humano enfraqueceu sua criatividade e inventividade e como resultado, uma repetição do passado, uma ressônancia que venta todo instante nossa incapacidade de irmos além, de novas conquistas, que sejam imprevisíveis e construam novos modelos. E sobretudo que nos faça atingir o estado essencial para vivenciar definitivamente a linguagem neoplástica ou suprematista empiricamente. Gropius o genial diretor da Escola de Bauhaus, instituição lendária do design moderno que surgiu na Alemanha na década de 20 e 30 defendia que - arte não deve ser ensinada, tanto na questão de compreensão, quanto na criação. Ele desacreditava do ensino artístico como ferramenta para se desenvolver o "gosto" apurado e ampliar o entendimento da obra artística - por ventura rechaçou qualquer tentativa de desenvolver dentro da Bauhaus um modelo estilístico - o design moderno que ficou caracterizado a Bauhaus é contrário a idéia de Gropius, que buscava apenas produzir gráficos, desenhistas, com mínimo de talento, tornar habilidades inatas à serviço da Industrial Design que já estava a todo vapor se esparramando pelo mundo.

Gropius era um visionário arquiteto, genial como Mondrian, mas vislumbrava a praticidade, rejeitando a utopia, o delírio psicológico de um mundo perceptivo racional. Socialmente se preocupava com a facilitação da vida moderna, com a urbanização das cidades que sofriam mudanças bruscas desde o fim do século anterior com a crescente migração de pessoas das áreas rurais para trabalhar nas empresas e fábricas. Gropius pensava no transitar dessa gente pelas alamedas, assim projetava praças abertas para que as pessoas se locomovessem. Na construção de conjuntos habitacionais que ocupassem o menor espaço e fossem eficientes e limpos, pois já imaginava o que chamamos hoje de Poluição visual arquitetônica e deficit habitacional - é uma espécie de mentor das "COHAB´s" desses mundos subdesenvolvidos, das kitinetes e lofts luxuosos ou decaídos. E ele estava distante racionalização metafísica suprematista ou neoplástica, poderia dizer, bem mais perto dos construtivistas mas Gropius fez da praticidade a melhor ferramenta da introdução dos preceitos modernos das artes e suas expressões, não importasse a quem interessasse. Algo que evidentemente as correntes puramente artísticas do neoplástico, abstracionismo e concretismo não conseguiram.

A Bauhaus foi sucumbida pelo Nazismo, veio outras escolas e seguidores da forma e função. O design, a arte formativa e funcional desencadeou em nossa era digitalizada da mídia de massa, e continua dando frutos, através dos produtos que invadem o mercado (sígnos e semiótica). Pode-se dizer que os esforços daquelas mentes geniosas do passado não foram em vão, pois continuam vivos em prateleiras de lojas high-tech. Na ausência de uma sociedade mais viva a indústria absorveu o conhecimento como herança na pós modernidade. Como qualquer herança, é maldita, pois nutre na atualidade falsos ideais de liberdade e ação, na verdade, aprisionam grupos e segmentos da sociedade, incapazes de ver o lado exterior da coisa - se deixam levar pelo tempo, o ser e estar é mais importante que a transcêndencia. Benjamin previu o imediatismo do tempo presente. Os intelectuais de Frankfurt também. Alguns autores de literatura e filósofos seguiram a mesma trilha. Mais tarde a Pop Art nos anos 60 falara sarcasticamente sobre o homem e a fama, definitivamente encerrando os caminhos de vanguardas inventivas.

O cenário do passado, com suas inovações e o presente sem surpresas e genialidades, resplandece um vazio existencial (idéia bergsiana). A arte não se fez apenas com pinturas, há de existir sempre os teóricos responsáveis por construir ou repassar o pensamento que vem antes da realização (os ready-mades de Duchamp por exemplo). Pergunto: será que Duchamp buscava essa explicação pra sua obra interventora nos anos de guerra? Pergunta retórica, sem resposta. No passado os artistas como Van Gogh (não somente ele) viviam suas respectivas obras intensamente, eram artistas e teóricos, escreviam os manifestos, propagavam idéias, criavam e destruiam, tinham as ferramentes nas mãos, o drama na consciência. O vazio existencial no tempo presente está reverberando em gigantescas caixas acústicas. Ouvimos berros, são nossos próprios gritos, gritados anos atrás, mas parecem tão recentes que arrepia e nos causa calafrios, e nosso atraso perceptivo nos impediu de nos escutar. Nosso vazio é nossa própria incompreensão do simplismo objetivista e abstrato de Mondrian, Max Bill, Kandinsky, e quando ficamos ultrajados diante da afirmação que arte pode ser algebra. Mais comum do que se costuma pensar. E nos indagamos a respeito do pensamento comum -"onde entra a emoção afinal?" - indagação muitas vezes pérfida e autoritária, sequer percebemos a qual forma tratamos as emoções, tão arbitrariamente. Eles, os velhos pintores de linhas retas horizontais e verticais ou formas inorgânicas eram únicos por enxergar além; a emoção na simplicidade. Algo que o contemporâneo parece estar e assim desejar impedido.
E eu vou buscando perguntas, porque respostas não me interessam. Nas imagens duas telas de Mondrian.

terça-feira, novembro 04, 2008

mundo mundano

Continuando a saga da futilidade que se tornou nossa vida - enquanto astrônomos buscam vida inteligente fora da Terra, eu desisti de buscar vida inteligente dentro da terra, de carne e osso, deveria olhar pro céu, mas sinto dores no pescoço, resultado de noites pessimamente dormidas - descubro beirando aos 30 que sequer dormir eu consigo, esqueci como se deve ter uma boa noite de sono, exceto ao tomar uma dose dupla de relaxante sedativo. É motivo suficiente pra desanimar - a Bienal de Artes está desanimadora, a conversa com pessoas muito pior, ainda prefiro um dialógo monólogo com minha pastora alemã num passeio a tarde. Vez ou outra tenho desejos materialistas, tão passageiros quanto as nuvens negras de chuva ou calor que brotam e desbotam em pálidos cinzas no céu de São Paulo. Eu não sei, teimo em pensar, deixar meu corpo e flutuar acima da humanidade e dizer - "e aí é isso mesmo" - me interrogo, tento me direcionar em algum rastro ou rumo confiável, funcional, tento me concentrar nas minhas pesquisas acadêmicas, o mestrado, o filme que estava produzindo e tive de interromper por conta da entrega de trabalhos e "papers", tento ver um futuro nisso tudo, alguma razão em se fazer - estudar tanto pra que, de repente acordo numa manhã qualquer com essa mosca zumbindo em meus ouvidos - desconforto total. Olho meu rosto no espelho, geralmente acordo com aquela feição de ter passado dias na esbórnia em algum prostíbulo cercados por putas francesas e austríacas cheirando a perfume de mulher e bebida - só mesmo aparência. Tenho estado apenas mergulhado em mim mesmo, nada de luxúrias e esbórnias, mesmo assim meu estado cansativo não passa. Definitivamente não vejo alternativas. A solução é ir vivendo aos barrancos e dando trancos e pontapés.

sábado, novembro 01, 2008

reino das letargias

Antes de soltar um artigo teórico, que não sei pra que serventia terá, queria dar dois dedos de prosa; ninguém aguenta mais ouvir de eleição americana, que termine de uma vez, pra aqueles que desacreditam do ser humano, ganhe de uma vez aquele que o povo de lá escolher - mas é uma tortura ligar a TV durante mais de um ano e ouvir falar somente disso - pior que as novelas da Record (show de horror que chamam de dramaturgia). A vida mundana está uma chatice, celulares que não param de tocar, gente fumando, piadas idiotas, o mundo apressado, campeonatos esportivos, corridas de carro, todo mundo concorrendo, competindo, acelerando, debates e festivais (é muito papo) pouca inventividade. Realmente nasci no tempo errado, esse mundo de hoje não é pra mim. Alguém tá curioso pra saber quem eu votaria nos EUA - bem Obama pra ser diferente daquela merda de Bush - não dá pra votar em outro, especialmente com a vice do republicano - a tal governadora do Alasca, é bonitinha, mas bem ordinária (e fútil, presta uma imagem estúpida à mulher americana) e do resto do mundo. Evitando tomar as pílulas que fazem dormir. Se eu demorar é porque errei na dose e morri de overdose. Depressivamente cansado.