sexta-feira, janeiro 23, 2009

claustrofobia social

Esta aí uma nova patologia que eu mesmo criei pro mundo globalizado. Os vitimados de claustrofobia social sentem um tédio diário, uma desavença com a unanimidade, estão frequentemente entediados com tudo aquilo que os outros acham certo e bom, e não encontram nada muito interessante em grupos de pessoas. Festas e comemorações são aborrecimentos, encontros familiares e discussões numa mesa de bar é um algo inútil. A claustrofobia social dá uma sensação de lugar ausente ou nenhum lugar "nosso", de fato, qualquer espaço é estranho. Os sinais vitais desse "maul" é achar a maioria dos outros desinteressantes, ao ponto que, conversar com um vira-lata bonitinho e esperto na calçada é mais divertido. Ignorar todas as datas e convenções humanas é o básico. Preferir livrarias e ambientes com cheiro de café e silêncio é tradicional dos portadores de claustrofobia social. Ah, dificuldade em identificar-se dentro de um nome sobrenome, criar pseudônimos frequentes e nunca chegar numa definição. Por fim a insônia, uma paixão pela criação de idéias. Rejeição pela falta de utilidade das coisas do cotidiano. Não confunda com pânico ou algum transtorno de personalidade. Tudo está absolutamente tranquilo. Esse é o problema. Sorria você está sendo filmado.

domingo, janeiro 18, 2009

Queria pedir demissão de tudo

Entre cansaços e cicatrizes da vida, um desânimo, chateações, tristezas. Gerald me disse que esse blog é um oásis, triste mas bonito, ele que pediu demissão da vida virtual graças a sua MaMa que mandou ele parar de escrever nessa coisa estranha chamada blog e escrever para teatro. Ele dá adeus ao que tudo indica e antes de tudo mandou recado ao Brasil, como sempre fora do eixo, perdido e iludido entre o poder e a morte; a esperança em querer SER sem nunca ter SIDO. Quem não entendeu vá lá no blog do Gerald no IG e leia o penúltimo texto. Eu também deixei de ser um comentarista/leitor de blogs. E sequer faço uso deste espaço, meu oásis, as coisas parecem que turvaram de vez.

Sou como o Brasil, "quiz ser sem nunca ter sido" e perdido dentre múltiplas identidades o que demonstra uma total ausência dela - IDENTIDADE comigo mesmo e com outros, familiares, pais, irmãos, pessoas. E o cotidiano consumindo toda dignidade, toda alegria, paixão, entusiasmo, à deriva nessa cidade de paredes de concreto que nos fecham claustrofobicamente, a Grande São Paulo que vai daqui até ali, não chega em Londres, Paris, Dubai, Tokyo...eu não sei mais, sinto falta de coisas, coisas na minha existência.

Sinto falta de ter lutado na resistência francesa em Paris contra os alemães, de lutado contra os turcos, ou ao lado deles, de ter assistido à uma palestra de Freud ou Lacan, de ter assistido Woodstock, Stockhausen, Gardel ou Astor, Picasso, Lênin, Mondrian, o teatro de Beckett, Genet, os filmes de Chaplin, ter comido um hamburguer alemão na Alemanha, um sashimi em Tókyo, um grilo na China, um passeio nada turístico por Londres fria e cinza, de ter visto Lennon ser alvejado, da Yoko nua na TV, do Jagger com batom vermelho, do Gandi pacifista, do Muhammed Ali boxeador, até do Pelé no tempo que se usava chapéu em estádio e São Paulo parecia mais bonita, aberta e arejada. Sinto falta dos monstros e vilões radicais...sim, não, não me entendam bem. Prefiro continuar a ser incompreendido. Pra não causar pânico...

Eu estou vazio e sem heróis, sem admirar familiares, meu pai é um estranho no ninho, uma coisa distante de mim, não recordo fotos antigas com nostalgia. Só lembro que ainda criança por raros momentos acreditei que ele era ALGO, um herói. Meu pai é um estranho, uma coisa vinda à terra para atormentar. Ele é o anti-heroi da humanidade que me secou as lágrimas. E com resultado admiro hoje nesse mundo que me cerca, que é absorvido por mim através dos sentidos, admiro apenas cães de rua, vira-latas e minha cachorra amada, algumas memórias recentes e bem vividas à dois; e nada mais. Nada. O mundo anda girando depressa para os tolos. E aos perdidos o mundo emperrou. A Terra está para mim girando em falso enferrujada em entulhos. Acho que devo me demitir dessa coisa de blog também. Que estórias vou contar no futuro...nenhuma.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

300


Esse é o número 300 desse negócio chamado blog que vai completar 3 anos de fracassos e resmungos poéticos ou pessimistas que deixaria qualquer guru da auto-ajuda broxado por muito tempo. Eu iria postar um artigo, falando do papel da arte, da auto-ajuda e da religião, mas sinceramente achei muito complicado, tantas linhas pra se ler, inútil, tanto quanto a bendita revisão da língua portuguesa. Num país que ninguém escreve sequer bilhete para que se preocupar com os hífens e os acentos. Aqui ninguém escreve ou lê, estão todos no celular, falando como maitacas. E para meus gurus da auto-ajuda que tanto vendem o poder da mente como caminho para o sucesso eu não deixarei nenhuma palavra de motivação ou inspiração; até porque esse mundo não me inspira nada. As pessoas, as mulheres (como mulheres) e toda parafernália eletrônica e informação - seria a revanche do niilismo?


Parabens pra minha linda pastora alemã, Hanna 13 anos, tão linda quanto o Rex da série austríaca (na foto Rex da primeira temporada com Moser - Tobias Moretti que na série morreu quando o ator decidiu deixar o programa)

sexta-feira, janeiro 09, 2009

Sofro do mesmo cansaço de Virginia Wolf. O mesmo que a levou ao suicídio. Não dá pra explicar muito bem por palavras. É apenas um descontentamento com a vida. Não que haja desgraças, traumas e injustiças da vida comigo. Não é isso. Se fosse isso, seria melhor, teria um sentimento de revolta, de revanche, partiria para batalha, lutar e sangrar, conquistar, vencer aquilo que deve ser vencido. Mas não há nada que deva ser vencido. Não há guerras para se travar. Minhas trincheiras são refúgios de moscas, sapos e baratas. A vida pra mim não é injusta, o mundo não me deve absolutamente nada. Por então dizer, não tenho tantas razões. E o básico do cotidiano, este é insuportável, as pessoas ao redor nada cativantes ou interessantes, estão praticante cinzas. Sou um daltônico balzaquiano, uma visão pálida, esbranquiçada, sem sal, sem açúcar. Não há livros sacros ou auto-ajuda que resolva, best sellers inúteis que minha razão destrutiva faz questão de rechaçar e ignorar. Estive lendo Anthony Robbins, um tal guru da neurolinguística. Uma bobajada sem fim, pra vender milhares de edições e faturar com palestras por todo mundo. O discurso dele é o mesmo dos pastores evangélicos, que abandonaram de vez a liturgia para prover palestras de ajuda mental e espiritual e vender o sucesso aos fiéis. Na atualidade liturgia é inútil. Todos querem, inclusive os crentes algo maior que o pedaço do céu. Desejam motivação, entusiasmo, força mental paa vencer trincheiras, conquistar, lucrar, sucesso pessoal e profissional - aqui na terra dura e crua. Rituais sacros não servem. Por menos disso Virginia Wolf não suportou. E até quando vou eu aguentar!?!?!?!?!?!?!?!?!!??!?!?!?!?!?!?!?!?!????????

terça-feira, janeiro 06, 2009

desnudar-se em horário nobre

Por curiosidade fui assistir a minisérie da Globo, talvez um dos poucos resquícios de dramaturgia de boa qualidade da porcaria da TV aberta brasileira e fiquei impressionado com a coragem de se expor do diretor Jayme Monjardim, filho da cantora falecida "Maísa" escrita por Manoel Carlos, e também da gratidão que ele teve com ela ao adotar artisticamente sobrenome da mãe, já que ele é por herança um Matarazo, nome das mais tradicionais famílias de São Paulo. Dirigir a série que mostraria sua mãe como uma alcoolatra e perdida, frágil e decadente não é fácil. Eu acho que não conseguiria. Sei lá, se eu fosse escrever sobre meu pai e falar de todas as merdas que vivemos e meu olhar decandente que tenho e já tive diante dele - quiçá dirigir um filme ou sei lá o que expondo tudo isso, ser o diretor e ao mesmo tempo personagem, organizar as cenas, dizer aos atores como ser e fazer - "não é assim, tentem ser mais derrotados". Tente pegar sua vida mais pobre e miserável e transformá-la num filme ou peça de teatro - rasgue suas essências, sua verdadeira imagem, desnude diante do público. É um estupro existencial. Eu deveria fazer isso, mas...

Hoje estava como Michael Douglas em "Um dia de fúria" - faltou-me pouco para botar fogo em casa, e sair com um taco de beiseball quebrando os vidros dos carros estacionados, ou explodir um supermercado com um bazuca e depois roubar um tanque e cruzar São Paulo, como um israelense, invadindo nossas faixas de Gaza e amassando veículos enfileirados do trânsito, paçocas de aço esmagadas, até meu tanque cair num precipício. Imagine só, um tanque despencando de um abismo, um Grand Canyon em plena Avenida Paulista - preciso dormir.

quinta-feira, janeiro 01, 2009

Queima de fogos em Gaza.

Gaza - 2009 - Feliz Ano Novo?



Uma família palestina com venda nos olhos, estão na mesa de jantar comemorando o reveillon. A televisão ligada mostra a queima de fogos em todo mundo. O pai chama atençao dos filhos para a festa na Australia, em Copacabana, Paris e Londres. enquanto conversam e jantam as bombas explodem lá fora. A casa trepida, eles agem como fossem invisíveis ao bombardeio.



Pai - Vejam os fogos, não é bonito. É o reveillon de Paris a cidade luz.


Filho - não estou vendo nada.


Mãe - Agora é Copacabana, no Brasil, na praia.


Filha - tbm não vejo ... quando vai começar a queima de fogos aqui papai ??


Pai - Acho que esse ano não teremos filha.



O narrador da TV continua anunciando as festas de fim de ano em todo mundo. Argentina, Rússia, Shangai, Pequin, Tokio, São Paulo, Nova Iorque.



Mãe - alguém quer pão sírio?


Filho - eu quero, vamos pular sete ondas na praia esse ano papai ??


Pai - não, não, temos que rezar depois. Vamos orar e agradecer.



O narrador muda de notícia, começa a falar sobre bombardeios em Gaza, na Palestina. Todos se voltam atentos à TV. O velho até para de comer. Ainda estão todos vendados por um pano preto nos olhos.



Filha - É nossa queima de fogos papai...


Pai - Sim filha.


Mãe - Acho que já é ano novo.


O narrador diz o número total de vítimas e a morte de crianças. Em seguida chama um merchandising, vendendo uma churrasqueira lançada por George Foreman e Muhamed Dali. O noticiário retorna enfatizando a operação em Gaza.


Filho - pai, quando uma criança morre vira um anjo ??


Pai - sim, isso mesmo, é obra de deus.


Mãe - tudo é culpa de deus.



A casa trepida mais forte, uma bomba caiu proximo, ouve-se gritos e desespero. As crianças correm para a janela.



Filhos - mamãe, é o ano novo, venha ver, corra.



Os pais ficam sentados na mesa sozinhos. O tremor derruba pratos, ela segura nas mãos do marido. Ele puxa a venda do rosto. Ela faz o mesmo enxuga as lágrimas. O narrador termina o telejornal brindando o ano novo. Antes, ele faz uma notificação - ao invés de 280 mortos já são 310 mortos. Novamente ele sorri, deseja um ano de muita paz e termina com o eloquente "boa noite". Os pais se olham resignados e recolocam as vendas nos olhos. Fim.