quarta-feira, novembro 14, 2007

Ensaios Históricos - Simone de Beauvoir


Era 1950 na cidade de Chicago, Simone conhece Art Shay, por intermédio de seu amigo Nelson Algren. Art Shay fotografava personalidades que julgava serem interessantes. Por suas lentes passavam grandes e futuros nomes de biografias do século XX.
Shay convidou Simone para uma reunião com outros intelectuais da época numa casa que pertencia a um amigo do fotógrafo. Simone sequer conhecia o dono da casa, mas se encantou ao ver que numa das suites havia uma banheira. Ela logo quis experimentar.
Na sala, conversavam Sartre e outros homens que não me recordo quem eram - de fato senhores distintos, vestiam ternos bem cortados, pertenciam a burguesia americana e Sartre os olhava com indiferença, quem diria o comunista na toca dos lobos do novo mundo. Havia um homem vestindo uma camisa listrada e com suspensórios fumando um maldito charuto. Diziam ser um mafioso mecena.
Mas Simone havia subido ao seu aposento, dissera ao marido que iria descansar da viagem estafante, verdadeiramente deitou-se um pouco. Mas logo recobrou a consciência - havia uma banheira e ela estava muito empolgada com a idéia. Deita-se numa água morna para relaxar as tensões de uma época tão avassaladora.
Shay com faro de fotógrafo caminhava inquieto pelos corredores, abrindo portas, de quartos vazios da velha mansão. Parecia sentir o cheiro de uma nova fotografia prestes a nascer. Somente se ouvia o bater do sapato no açoalho de madeira e ruídos das fechaduras de bronze. Ele adentrou um dos quartos, na penumbra do fim de tarde, entre sombras ganhou o dia. Assim descreveu-me a cena - " ela havia tomado seu banho. Depois, enquanto ela se arrumava na pia, tive um súbito impulso. Ela sabia que eu a havia fotografado porque ouviu o clique da minha confiável câmera Leica Model F. - Homem travesso, disse ela."


Ensaios Históricos - Simone de Beauvoir Chicago 1950
(Fonte: site-www.simonebeauvoir.kit.net)
Nota do autor - Cansei de falar de mim, então, essa série "ensaios" aborda personagens reais em episódios verdadeiros com pitadas de ficção, sempre através de um registro fotográfico, quando possível. É a primeira vez que faço tal coisa e iniciei com a grande escritora Simone de Beauvoir, fotografada por Art Shay - ela uma das primeiras feministas filósofas existencialistas da primeira metade do século XX. Espero que aos fantasmas, apreciem ou não. Au revoir a tout le monde.

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