quarta-feira, abril 29, 2009

Lolita

Abro um espaço ou uma lacuna pra falar de minha Lolita, como uma pupila me sorri inocente, sem muita elegância, um pouco ansiosa, com sua pele delicada e jovial, macia e lábios bem feitos e brilhantes. Diz ela pouco fotogênica, contudo é minha função desdizer -então desligo o flash e deixo a sala na penumbra pra que a luz invasora crie contornos nas paredes e duplique seu corpo sensual. De repente ela aprende que fotogênia é uma invenção de fotógrafos de revistas de moda tolas e fúteis, que o interessante mesmo é a relação sadomazoquista entre o clicado e o cara atrás da máquina. Quero fotos de cinema nisso tudo. Entre a lente, há dois corpos, a modelo seduz e dita o rítmo das clicadas. Só há o barulho externo das sirenes perdidas ao vento, o ruído da máquina e na vitrola ao fundo um acordeon sendo acompanhado por um cello e violino. Nessa trama nabukoviana me faltam justamente alguns cabelos brancos que legitimem meus conhecimentos, denunciando minha autoridade de Domme - na falta deles tenho as olheiras. Dá na mesma. Todas as minhas eras contidas em meu rosto cansado e descrente.

Faz um tempo aderi à parceria contra as relações amorosas. Isso desde que me encontrei com essa entidade cósmica chamada "o nada", que consome até mesmo a escuridão. Mas deixando as mitologias de lado, eu ofereço minhas trevas em troca de um beijo delicado, ou da possibilidade de esculpir essa pedra de mármore bruta, numa bela estátua sensual, sem asamarras físicas da vida. Despejo todas as peças do xadrez no tabuleiro e penso se ela aceitará todos os jogos. Sinto a culpa pela tentativa de quebrar sua dócil existência, mas ela parece querer voar, através da arte - ela me disse "quero viver com arte" e coloca o dedo na massa e nas tintas oleósas. Vejo meu reflexo antigo nisso tudo, porém, não tive nenhuma domme pra me ensinar nada. Aprendi tropeçando nas malditas pedras com muito pessimismo e desafiando deuses. Será que preciso ir em frente nisso? Meu diabo pessoal sussurra - o mundo precisa de lolitas e divas. Eu sorrio ironicamente pra ninguém ver, sob um Sol do Outono, meu favorito. Como disse Chris Penn "don´t fuck with the devil babe". Tonight will be the night.

quinta-feira, abril 23, 2009

sábado, abril 18, 2009

tenho sono mas não consigo dormir

Fadiga. Na TV Obama é o Rei. O Lula é o cara, "you´re my man" - eu diria pro Obama, meu rei sai pra lá, sou espada, prefiro tua muié - a Michelle, beleza de primeira dama, mas é um lambe que lambe, essa politicada vive se lambendo e depois se atacando. É Protógenes, Daniel Dantas, Pitta, Maluf, Berlusconi (o Maluf italiano) e Sarkozy (o Allan Prost político), esse nunca "dá" uma dentro, só bola fora, será que com a Carla Bruni...bom, imaginei a Michelle Obama e a Carla Bruni num ofuro juntinhas - que delicia. E o Brasil é como eu, nunca vai ser pelo jeito, nunca foi, parece o livro da Hilda Hilst - Estar sendo. Ter sido. Diabo de livro complicado, terei de ler umas várias vezes. Assim que é bom, ficar a vida inteira lendo os mesmos livros, como o Grande Sertão: Veredas, ou Ulysses de Joyce, ou Proust. Eu fui pra Marte e não consigo mais voltar pra Terra. Nem querendo se vou. Azar meu, de mais ninguém. Aqui em Marte também é um desânimo de morte. Parece sem fim. Eu me canso do cansar. Já tentei algumas artimanhas pra sair do marasmo, mas é água salgada pra todo lado. Fico à deriva. E ligo a TV, no Maranhão a filha do Sarney voltou. Eita família que não larga o osso de jeito nenhum. É duro esse osso. Eles não param de morder, pai e filha. Desgraça de um jeito e de outro. No momento estou procurando um grupo musical. Explico. Não quero entrar para o grupo como músico, nada disso, nada de carregar instrumento, ensaio, vomitar um Hot dog mal comido num shozinho ralé no interior, ficar preso num estúdio cheirando nicotina alheia, aquele violãozinho chato de alguém que não sabe tocar, fazer pose blazè pra alguma gropie perdida, nada disso. Quero ser o mentor intelectual de algum grupo, especialmente que tenha mulheres novatas e lolitas nabukovianas sem saber pra onde vão e o que fazer. Quero ser Andy Warhol na Velvet Underground. Quero ser o guru, o Ralah do Angeli, o cara que diz o caminho. Estou imaginando eu dizendo os caminhos. É incoerente. Mas a vida é incoerência. Quero sombra, água fresca, inferno e um pouco de guerra. Acho que vou pintar os cabelos de branco também. Inté.

segunda-feira, abril 13, 2009

Já estou pensando em possibilidades extras, diante do fracasso iminente, a mais fácil seria me mudar para um templo de monges budistas, me livrar desse cabelão que teima em crescer, e dos prazeres da carne e do estômago, tudo é um processo, como sempre digo. Outra é ir pra guerra, sem figura de linguagem, me alistar na Legião estrangeira, "le enfants de la patrie mon amour", na França é claro, eles pagam salários em euros e tudo mais, terminaria morrendo num campo de refugiados na África depois de pisar num mina terrestre soviética, meu nome talvez eu mudasse novamente, nada surpreendente pra alguém que não possui um RG como eu. Lá fora chove um desânimo que desagua em mim. Que tédio. Ainda morro disso sim.

terça-feira, abril 07, 2009

Sampa minha desgraça

Fico impressionado com minha capacidade de me ferrar em São Paulo. Apesar de ter nascido aqui (nasci ali no mais paulistano dos bairros, a Cerqueira Cezar) e morar aqui na Grande São Paulo, eu nunca consigo me comunicar com essa joça de cidade, com o rítmo, com as pessoas. Talvez porque aqui não é lugar de paulistanos, mas de imigrantes, em todos os cantos. E sempre me deparo com imigrantes que amam essa cidade, que vivem suas felicidades, muito maiores que as tristezas. São Paulo não é uma terra de imigrantes miseráveis apenas. Daqueles que estampam documentários, retirantes do sertão nordestino que se mudam para cá e acabam habitando as favelas, de condições precárias de se viver. Não. Aqui tá cheio de imigrante do Norte e Nordeste que descobriu essa cidade e se fez, muito bem feito, muito feliz e com sucesso. E eu, que sou daqui, desde meu sempre, não entendo, não me entendo com essa cidade, do cultural ao funcional. Pra mim nada daqui me pertence, eu não me conecto com suas curvas, seus cheiros, suas faces. E ela me responde rispidamente, me cansando. Do ódio matinal ao estresse no pôr-do-sol. Parece surreal demais botar toda culpa na cidade, afinal, um amontoado de concreto e asfalto, no final das contas, é isso que toda cidade metrópole é, no resumo das coisas, tirando a geografia. Mas a geografia paulista fica escondida clandestinamente. Mas essa cidade não entra em mim. Se nasci aqui e não me sinto aqui, pra onde vou rumar meu barco a vela. Ela, a cidade, pouco se importa, é como uma pedra no caminho, que lasca a unha do dedão numa topada infeliz.