quinta-feira, janeiro 31, 2008

escombros


Escombros. Se pudesse me representar, seria assim, amontoado de entulhos, escombros, ao tempo. Sei bem disso, o motivo pelo qual trabalho nesse vídeo, ou curta metragem, documentário ficcional, ou sim, ou não. Um escombro de uma casa abandonada. Nesse filme, já faz 2 meses que estou engajado, é sobre mim mesmo. Não é a casa o objeto principal, sou eu. Minha vida, minhas reflexões, minha existência.
Por isso tudo os planos assimétricos, a câmera tremida em certos momentos, intensional, o desequilíbrio, a agonia, assim eu vejo, um trabalho pessoal. Poderia ter montado uma equipe de três ou quatro pessoas, o que não falta é gente querendo fazer cinema, curtas, audiovisual, com intuitos de arte e fama (a fama eu dispenso). Por ser tão pessoal a mim, decidi trabalhar sozinho, como diria Glauber - uma idéia na cabeça e uma câmera na mão.
Não sei como tenho me concentrado nesse trabalho. O improviso experimental é meu guia, confesso, nada foi projetado, o acaso muitas vezes fez o serviço. Isso não é papo cabeça de artista pós moderno. Eu poderia ter feito um story board, um roteiro (afinal tantas oficinas de roteiro que fiz), mas não estava sabendo o que fazer, simplesmente fui atrás de um canto, um set de gravação, encontrei mais perto ainda, quase ao lado de mim, e passei dias filmando, explorando, observando. Se eu fumasse, me vejo, entre as paredes cinzas e rústicas do local, fumando cigarros e cansado, observando com a câmera e o tripé em mãos. Não fumo, menos mal, estou em vias de terminar. É isso.

sábado, janeiro 26, 2008

Cartaz - Curta A casa dos Fundos


Primeiro cartaz para o curta experimental que estou produzindo e dirigindo. Nesse cartaz fiz um design quadrinizado, ao estilo americano. Puxei um pouco de Will Eisner...não será oficial, resolvi postar, como sendo apenas parte do processo de identificação. Estou catalogando sensações e registrando todo o percurso desde o início das primeiras idéias, até quando finalmente terminar a edição e lançar. Lançar é modo de dizer...
É um documentário ficcional. Incoerente, pode parecer, mas sempre pensei isso sobre filmes documentais. Todos eles tem a ficção como suporte. E parece que não sou eu apenas que assim entende - Jogo de Cena com a Fernanda Torres, do diretor Coutinho é justamente disso que penso e tento relatar nesse micro curta que adaptei ou me inspirei num conto de mesmo nome que escrevi, a partir de imagens e de uma direção de arte definida em minha insana cabeça. Devo confessar minhas dificuldades em concentrar-me nesses tempos depressivos, pois, tenho sérios ataques de raiva e vontade de acabar com tudo. Esse vazio e o cansaço da alma que vem me assolando. Todos os martirios que perseguem minha realidade e não me deixam mais viver a guerra da vida; sim, porque a paz é insuportável. E me lanço no trabalho, aos trancos, capengando na lama, ainda assim, faço. Tenho de superar-me, até meu mal humor cênico.
Sobre o filme, a idéia original sempre foi o abandono. Depois calquei tudo em uma casa abandonada. Essa atmosfera de ruína, tempo, solidão, passado, me fascina. Pronto, tive nessas palavras chaves o eixo pra essa produção solitária, que venho desde Novembro desenvolvendo. Calado, quieto, sem falar a ninguém ou fazer qualquer comentário com família, ou fantamas. Refugiei-me desde o maldito fim de ano dentro de uma edícula velha e abandonada, com câmera em mãos, tripé, luz, um caderno, idéias na cabeça, pernilongos me picando e olheiras de noites pessimamente dormidas. Alias, quanto mais velho fico, mais dificuldades pra dormir. Em pouco tempo morrerei acordado (estranho jeito). É isso...(agora já sabem o que fiz do meu fim de ano)

sexta-feira, janeiro 18, 2008

post sobre a vida, o cotidiano e a não vida

Tenho vivido e não vivido. Na atualidade trabalho com Direção de Arte em audiovisual, quando consigo me concentrar e comercializar meus objetivos, muito mal clareados, diga-se. Formulei um curta metragem, um vídeo still chamado "Casa dos Fundos". Mais um projeto que atropelou algum outro projeto de outrora. Sou assim, um atropelamento de mim mesmo. Não posso evitar, o desânimo letárgico, a mente intempestiva, uma vida distinta do meu próprio corpo. Incontrolável.

Deixei para depois outros projetos e idéias, como o livro que escrevi, quase finalizei, mas desisti de sair caçando editoras, desisti de publicar, porque certa tarde pensei - porque publicar, pra quem ler; quero mesmo ser lido?

De volta ao curta, uma idéia que me persegue a respeito do abandono. O quanto me fascina lugares abandonados ao tempo. Entrar numa casa que já foi habitada, ver objetos empoierados, paredes com infiltrações de água da chuva, teto quebrado, mato no quintal crescido, copos na mesa que não foi desposta, pia com pratos sujos da última refeição e pensar, isso foi a cinco, vinte, trinta anos...não saber e sentir, a presença de pessoas inexistentes no momento, mas presentes na atmosfera da casa. Isso sempre me fascinou.

O curta "A casa dos fundos" é simplesmente isso. Não há estória e personagens, ou melhor, há personagens que foram construídos na ausência deles próprios. Passei as últimas semanas construíndo planos e enquadramentos. Montando cenografias no "set" e posicionando a câmera no tripé, ali e acolá. E já não sei quantos planos refiz, quantos deletei e joguei fora (coisas da era digital e não da película). Abandonei a idéia de um plano sequência, porque não me dava a sensação de "documental" com uma pegada ficcional, como Petrus Cariry fez fabulosamente em seu último filme, por exemplo. Passei então para cortes secos e por deficiências de câmera fora obrigado a fechar planos detalhes (o que se conhece por close) e contar estórias de personagens ausentes na tela, mas vivos dentro das cenas.

Em suma o curta mostra, várias cenas de uma edícula velha que supostamente serviu de moradia pra pessoas esquecidas pela própria vida, contudo, não aparecem em vídeo. Em suma é muito simples, na minha cabeça é que se torna um vórtex complexo.

Influências vão desde o último trabalho de Petrus Cariry, passando pelo belo filme e "totalmente pessoal" - SANTIAGO do J.Moreira Salles (confesso que fiquei encomodado com o cinema depois de ver esse filme), além de outros curtas experimentais como "Saba"...

Se eu sobreviver à edição e montagem, volto aqui pra mostrar.
O que são dois anos dentre outros cem???? Sartre e Beuavoir tiveram desenlances em sabe-se lá cinco décadas...O que foram esses dois anos pra outros setenta que virão...???? Tudo relativo, diante da minha incompatibilidade e toda mediocridade humana, nesta atualidade, reservo-me o direito de lhe esperar. Hoje acordei menos existencial e mais coloquial. [Não me entendam]

quarta-feira, janeiro 16, 2008

resignado...


Estou assim...resignado.
Gosto dessa foto, foi de um tempo bom, de bons tempos vividos. Continuo apenas respirando, enfim - é o suficiente.

domingo, janeiro 13, 2008

E a sensibilidade humana, em qual buraco se meteu? Enquanto na América roteiristas estão em greve, no país do cinema governamental, produtoras, produtores e diretores, fazem de tudo para manter panelas fechadas, com muita prepotência e arrogância. É um medo de perder a verba - ou então: sou Diretor não falo com assistentes, nem recebo comentários ou elogios (pra esses elogio tem segundas intenções).

É uma grande merda esse mundo...

sábado, janeiro 12, 2008

Penso: os papéis se inverteram meu bem...hoje sou eu quem pisa em ovos e olha pro teto enquanto a noite teima em não acabar - com o suplício, o martírio, a dor, a ausência, a culpa e remorso. Ah, Frida Khalo descreveu perfeitamente essa sensação em "Cartas" endereçadas ao amante dela. Mil vezes queria ir embora, morrer, que seja, mas descansar.

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Desalmado

Estou desalmado. Não carrego munições comigo. Não irei ao ataque, porque meus planos foram levados por tantas tempestades. Não possuo rotas de ida ou de fuga, estratégias de conquista, armadas de cobertura, traçados, bússolas, nem muralhas e canhões de retaguarda. Estou desalmado, até os dentes, dos pés à cabeça. Não quero seu território, suas moradias, sua vida, não quero nem minha própria vida. Tantos que choram por uma vida, por anos respirando, estou desalmado. Desalmado de corpo apenas, presente, descrente, o pulso que pulsa é mero detalhe técnico. A vida não me faz pulsar. Desalmado, desconfortável, desconfortante mundo, sem lugar, nenhum lugar. Não sei pra que caminhar, aonde irei, não vou ficar, nem apreciar, nada, é inútil. Tanto quanto essas palavras...

domingo, janeiro 06, 2008

Down in a hole


Já falei de Camile Claudel e Rodin, de Kafka e Felice Bauer, de Sartre e Simone, mas nunca falei de um amor tão belo e bem mais próximo de mim, talvez. Layne Staley e Denri Parrot. Staley vocalista da banda de Seatle Alice in Chains. Banda e movimento Grunge que tanto me diz coisas, tanto fizeram, de Kurt Cobain, de introspectividade, de sentimentos e intensidade. Denri morreu de uma doença infecciosa e um pouco depois Layne que já era viciado em drogas praticamente se matou numa overdose em seu apartamento em Seatle, por pura solidão e uma tristeza profunda na alma - talvez a mesma que sinto.
Um amor entre drogas, rock ´n roll e depressão. Staley cantava - down in a hole, feeling so small...e eu nos meus 14-18 anos entendia isso muito estranhamente. E olhava os olhos azuis e melancólicos de Cobain cantando em seu funeral acústico "my girl dont lie to me" e não entendia donde me vinha tanta tristeza. A geração 90 (a que mais me pegou) foi a geração da perda, do vazio, dos gritos sem voz, sem propósito, porque o mundo depois...bom deixa pra lá.
Ao casal mais belo do grunge, sujo, desafinado e intenso que já vi.

sábado, janeiro 05, 2008

Minha alma se foi. É assim que estou. Sem filosofismos, mas estou cansado das pessoas. Muitas que vejo por aí. Carcaças falantes, não percebem, o stalinismo, o centrismo, o preconceito, a estupidez. E não falo das carcaças dislumbradas com a vida fútil, essas nem falam - emitem grunhidos. O que tem de bom na tecnologia, de aproximação, tem de ruim - transformando pessoas em "macacos" de ships estragados e repetitivos. A vida está um porre sedento, uma mesmice sem fim. Não sei onde meu corpo desalmado vai parar. Cada vez mais chego a conclusão que o melhor é nosso desaparecimento. A Terra não vai acabar. Com o tempo a vida "não humana" se refazerá, tudo se transforma. Isso os físicos já aprenderam.

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Ir embora

Invejo quem assim decidi - quero ir embora. Quem quer ir embora é porque sabe para onde, é porque tem lugar presente e futuro; e também passado. É quem tem identidade com a terra, com o mundo, único lugar de nossa existência, porque pra longe daqui só existe imensidão - inútil e matemática, pois é o Universo tão fútil, a vida é um mero acaso, e não devo chamar isso de divino, porque se algum deus qualquer houvesse, já teria nos liquidado, a prova da não existência divina é nossa permanência. Não posso dizer "quero ir embora", pra onde, e ficar pra o que, afinal de contas, estou no cume da montanha observando tudo lá embaixo.

terça-feira, janeiro 01, 2008

Estou tão cansado; como se meu espírito estivesse ficando turvo ao meio de uma névoa acinzentada. É assim que me sinto nesse momento. E quanto mais o mundo das pessoas gritam por esperança e energia, vida e amor, coisas dá boca pra fora, mais cansado eu fico. Descobri que o mundo das pessoas me suga a alma. Faz-me muito mal.