domingo, outubro 28, 2007




















Mamãe disse que sou linda, linda de matar e de morrer. Semana passada comprei um novo par de olhos e implantei em mim. Agora posso ver através de um, dois, três, quatro olhos diferentes.
Isso combinou com minha dupla personalidade, verde amarelada, ora estou de perfil, ora 3x4, ora olho pros meus lados, ora pro céu ou para trás, não importa. Sou ou não sou linda?

sábado, outubro 27, 2007

Resmungos

Saudade da inocência?
se for pra resmungar que faça
algo inovador
falar do tempo da inocência
qualquer poeta já o poetizou,
é normal que com tempo,
e tempo se vai a Era do ímpeto,
do amor fácil, da crença
e do entusiasmo
isso é o natural, é da vida,
já vistes algum idoso
olhar a Lua ou o pôr-do-sol
com esperança - nem responda,
é tudo pergunta retórica,
eu me canso dessa ciranda,
estou desde criança cir[andando]
que doi, que tonteia
a alma.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Harakiri


Jamais tive época tão "braba" como estes anos últimos. Época em que pensei mais sobre suicídio, harakiri, enfim, estou de um cansaço mental, emocional com esse mundo e comigo, uma fadiga imensurável. Não quero mais fazer e nem acontecer. Estaria pra lançar um livro - que belo, que lindo e exuberante, lançar um livro, ser um intelectual, posar de inteligente e satisfeito - gente feliz e revolucionário. Não e não, abortei a idéia, meu livro está aqui impresso em páginas recicladas do modo "rascunho" do MICROSOFT WORD, grifado com caneta marca texto, as palavras que já deveria ter substituído por sinônimos indecifráveis, que eu julgo ninguém entender - e que eu realmente gosto e aprecio - de escrever pra ninguém compreender e manter meu "ar" tão enigmático.

Como disse estou cansado do mundo e de mim. Cansado das pessoas, das mulheres, como descrito abaixo, cansado de mim e desses "nuances" emblemáticos que me compus durante os anos. Cansado do meu humor duvidoso, das minhas poesias "geniais" e banais, cansado do meu ar de desprezo pela vida e da vida em desprezo pela razão. Cansado da mesmice e de todos que fazem o jogo, cansado de jogar contra a mesmice e ser dela um filho rebelde.

Cansado de ser, de Ser, e não ser, nada, além de uma matéria idiota. E antes que esse texto esteja com jeitão intelecutalizado, resmunguento, devo parar e dizer. Ando pensando tanto, mais tanto em largar tudo e me alojar num templo budista. Tem um em Cotia, lindíssimo, gigante e com belos jardins. Mas minha cabeça não para de pensar, de atormentar-se, e lembrarei que não concordo com muitos dos preceitos budistas. Estaria então mentindo pra mim mesmo ou apenas com segundas intenções, para ter um teto para morar no meu futuro arruinado.


“II y a toujours quelque choed’abient qui me tourmente”

C. Claudel


quarta-feira, outubro 17, 2007

Casanova no século XXI (coitado)

E se Casanova, símbolo da conquista intelectual do século XVIII resurgisse em pleno 2007, dentro desse nosso século??????? Será que ele teria o mesmo ímpeto de sua vida contada em livros e romances, que o próprio escrevera, já que além de conquistador de mulheres era excelente escritor (em pleno Iluminismo) além de diplomata.

Em se comparando os mundos que separam, uns 300 anos, creio que senhor Casanova teria um grande desencanto. Talvez pela própria evolução humana, mas principalmente pelos rumos que as mulheres trilharam. Elas se tornaram tão banais quanto os homens. Elas que sempre tiveram maior sensibilidade e percepção, sofisticação, e foram a ponta do iceberg, quem sabe, a esperança - sucumbiram.

Hoje, não mais, se deixaram enredar pela banalidade e insensibilidade. A revolução sexual que foi conquista, também foi o túmulo feminino. Não há mais nada de especial, não há intelectualidade (o que é incoerente porque são elas que estudam mais), prova que se graduar não significa necessariamente ter conhecimento. Não há sensualidade, porque optam pela mesmice do Ser, pelo emburrecimento, pela soberba modernética, pela imbecilidade dos atos, pelo comum. O bom é ser diferente, é ser incomum (isso já virou clichê pop no orkut)

Antes as mulheres eram subjulgadas, isso no tempo da guilhotina, mas se refugiavam no conhecimento de livros, das poesias, do lirismo, eram as musas de poetas, quando também escondidas no "gineceu" escreviam suas poesias, contos, romances, tocavam flauta, piano, balet, enfim.

Hoje poeta morre de fome, porque não há musas, nem sereias. O mundo está mais pra uma confraria das Bruxas.

sexta-feira, outubro 12, 2007

Resmungos (passado e presente)

"Das Esperas
Um vento que beija a mão
A violeta que perfuma o ego
pinta e borra nublando a alma
Nada vai mudar...Os sapatos continuam no mesmo lugar
Silêncio dos passos únicos
Incertezas dos gestos
Eternos indos e vindos "

"ele sabe do meu alfabeto,
esse mesmo que não existe,
enquanto invento verbos e estados pra ser.
Eu curiosa enquanto convenciono :. o amo." [fragmentos dela]

Em resposta à minha amada poupeé do oriente

Saudades de tua insônia
culta e bela
me enchia de sonhos líricos
Saudades de tua insônia
insegura e frágil
que se perdia em meus braços





Estive lá, pelas escadas rolantes, até o terceiro andar, andarilhei em volta das mesas, passado e presente no mesmo eixo, da mesma plataforma da vida; foi dum solavanco no peito, atiçou meus neurônios mortos ou preguiçosos, mãos e pés transpiravam, foi como tornar o mundo cinza e branco, daltônico, estavam até meio paralisados. Só havia dois vivos ali, uma dupla, sob um palco improvisado, tocando algo instrumental, no teclado e na guitarra - uma bossa nova tão velha quanto meus sonhos desajeitados e insípidos.

Já não tenho ânsia pela vida plena, sinto tua falta, tua insônia culta, divagadora, ameaçadora, tu deixastes em mim tua sementinha, tão inocente, foi-se viver a vida alegre, abstraindo imagens nossas, parou até de poetizar o amor, fechou-te os olhos cintilantes, agora és rainha do lar doutro alguém distante, mas tua obra não ficou ao esmo dos ventos que nos enchem o canto dos olhos de areinha fina, lacrimejando nossas faces, esfumaçando a maquiagem das moças que se enfeitam em fim de tarde para sair e bailar.

Não meu caso, meu jeito, eu não me cuido, sem pouco algum esmero por mim, escrevo essas parcas e abutres palavras sem esperar que leias, eu bem sei, trocamos de vida, tu fostes ter o Viver e eu o Morrer.

Sou a decepção dos deuses, porque não quero viver, isso pra um Deus é um enorme desgosto. Em todo canto, clamam, gritam, choram, prantos de dor e esperança, por mais vida. Mais tempo, mais coisas, curvas, retas, subidas e decidas. Eles não se cansam - cansam nunquinha mesmo? Eu estou tão exausto, que os pensamentos entraram em greve, deixando apenas os emergenciais de plantão. Um deus não pode aceitar, que o súdito de sua divindade escolha não viver. Isso lhe cabe divinamente decidir, mas eu sempre estou pela beirada da normalidade, não é mesmo, do avesso, e decido por mim, por nós, como fiz, feito, fizera, está tudo aí, você poderia me agradecer, com um verso, pelo bem que te deixei conhecer.

A vingança dos deuses é me dar muita vida. Saúde plena, intacta, surreal, a juventude, a pele lisa, caramelizada, com o bâlsamo excêntrico do Universo, deixando a senhora gélida Morte bem distante de meus olhos, meu reino, meu lar, meu céu e mar. E o castigo ainda vem com mais força, porque mantém minha mente em vã possibilidade, infinitamente funcionando, lembro de tudo, de você é claro, consciência a varrer desertos, o castigo é lembrar por demais, é ter a Razão, a emoção, e olhar pro meu redor e nada sentir, não há palavras a descrevê-los, nada excita ou emerge com vontade; é só um desânimo que dá, machuca, ninguém parece bem ou bom, bastante, para tirar-me disso, não há charme, cumplicidade, sintonia, o vento não me leva, não deixo levar, não há querer, não quero, não vou, vou? Não.

Então eu suspiro com o vento contra minha boca.

E eu me arrependo.

Me envergonho de mim.

terça-feira, outubro 09, 2007

Estou cansado demais, exausto. Meu corpo já não sabe se entristecer e muito menos se alegrar. Não quero e sequer tenho ânimo para escrever estórias, contos, ou pintar quadros. Muito menos filmar roteiros. A arte pra mim já estava morta, antes mesmo de me tornar ou pensar ser Artista Profissional, diplomado em Universidade (pra quem ninguém me dissesse - artista de gaveta). Estou híbrido, nem triste, nem nada, não sinto nada. Sem tarja preta, rindo de coisa alguma, sorriso bobo estampado na cara. E ao mesmo tempo, tenho consciência da imbecilidade. Parece que já ouvi essa coisa toda sair da boca de alguém. Um alguém perdido no passado. Ah, que saudades de sua letargia brilhante. Hoje eu vivo a "pós-estória" ou a "entre-vidas". Faz muitos dias, mais de mil sóis, não (re)começei absolutamente nada. Estou pairado no tempo, como o beija-flor que vi aos 14 anos de idade no quintal. Aquele mesmo, eu já sabia, ele me retornaria.

A vida me decepciona profundamente.

domingo, outubro 07, 2007

Resmungos


(Ilustração sobre a poesia abaixo)

sexta-feira, outubro 05, 2007

Resmungos

Meus dias são bons pra se morrer
o ar é frio
a paisagem daltônica
as mãos transpiram
o sangue paralisa
as vozes se (re)criam
o céu se envergonha
o coração (é só um músculo)
a boca resseca
os significados esvaziam
a lua, é só o que parece ser
o concreto duela com abstrato
as poesias; inúteis
os ditados faliram-se
provérbios, todos esquecidos
a fome, cala-se
a boca não enxerga mais
os olhos me comem
ouvidos, cabelos, nariz, estão ali e lá
sonhos, eu durmo
noite, acordo
insônia, eu bocejo
na cama, me revigoro
no chuveiro, choro de mentirinha
no vento, expiro
e no contar dos minutos
desisto.

[todo dia é dia de morrer-me]

segunda-feira, outubro 01, 2007

Abismo final

"Me pergunto", quando foi que decidi entrar para a estrada do conhecimento, e cavei minha própria desgraça. Se eu fosse ou me mantivesse na ignorância, estaria hoje aí como todos, rindo da desgraça, fazendo filhos e me mantendo vivo, pra cuidar dos filhos. É assim que a classe pobre e operária sobrevive. Tem-se filhos, pra cuidar, e viver até aposentar, e os filhos, cuidarão dos pais, ou mandarão pros asilos, não importa, quem cria filho, não tem tempo pra crise, nem existencial, nem metafísica, muito menos tempo pra ler e filosofar, pra saber das últimas da antropologia, do Niilismo, do sartrismo ou tentativas de decifrar Guimarães Rosa (ohh homi difícil). E pensar em se matar, isso nunca, a vida é pra ser vivida, parece que escuto um caboclo falar atrás de mim.
Ficar ouvindo sua própria voz, ressonando passado, vidas paralelas, poesias transcendentais, é coisa pra quem não vive a vida. Enfim, eu passo dias a ler e ler, como disse decifrar enigmas de autores enigmáticos. E passo a escrever, mesmo não me reconhecendo, não funciona mais alter-egos, por isso eu os matei, enterrei, e sequer derramei uma lágrima. E ando por aí, e não vejo esperança - alguém ainda me manda ir pra Igreja - odeio, seja católica e principalmente evangélica.
Lembro então de Haroldo de Campos - um homem dedicado ao conhecimento. Mentor do Concretismo, tradutor de muitas línguas complexas, de obras da literatura mundial, como James Joyce, Homero, sei lá quem mais, escritor, dramaturgo, crítico. Morava numa casinha pequena e simples, em Perdizes, São Paulo, dentre condomínios de classe média baixa, de ignorantes. Ninguém sabia, ou gostaria de saber, que aquele senhor de barba longa e branca, era ali na vizinhança, um dos mais cultos homens do século XX. Morreu, ninguém soube, duvido que não o confundiram com papai noel. Odeio Natal, esse velho idiota, e datas sazonais.
Estou exausto. Malditos fantasmas.