terça-feira, março 31, 2009

Se eu não matar serei morto


Isso não é título de filme brasileiro com direção de Guel Arraes, com Lázaro Ramos no papel principal. Isso é a vida. A minha. Se eu não matar meu depressivo desânimo e desapego, vai ser o próprio que irá me matar. Enquanto escrevo esse miserável texto, inalo a fumaça de nicotina de outros, isso que dá morar em casa de fumante (tomara que morram sem pulmão). Me arrumaram um trampo de produtor musical (caralho que é produtor musical - morreram todos os produtores musicais de verdade), na real a função é de gestor de uma rádio FM aí, sei lá das quantas, eu teria que organizar faixas de músicas de bandas de rock, indie, pop, e lidar com as bandas nacionais, assessorias, entrevistas, coletivas, eventos, ou seja, badalações. As bandas, nem sei os nomes, a única que eu conhecia da listagem era Ramones (eles não morreram - tão vivos, ressucitaram) - eu sei lá, tinha esse tal de NX0. Diabo, o contratador me perguntou se eu curtia o cenário - eu com mil anos de olheiras na cara, a renite atacada pelo maldito cigarro alheio, dores de cabeça, tendinite, e uma vontade de desaparecer, pensei dois segundos, é um emprego, nada mais e disse muito resignado "ah, claro". Depois suspirei, amaldiçoei-me, e falei pra mim mesmo "dont fuck with the devil" - essa frase é de Chris Penn no ótimo filme "the funeral", que o finado interpretou numa atuação arrebatadora. Eu sempre fodendo com o diabo, entendam isso como quiserem. E quem disse que eu peguei o emprego novo, na hora H eu desisti, eu não consigo mais socializar, vestir a camisa dos outros, engolir uns sapos. Eu nem fui atrás. Fiquei na porra da produtora que eventualmente trabalho e ganho migalhas. Felizmente não tenho que alimentar crianças, nem velhos, eu sou livre, livre de tudo, exceto de mim mesmo, por isso ando sempre engatilhado. Pronto pra atirar. Eu vivo eternamente entrincheirado. Sempre imaginei minha vida assim, desde a infância. Essa trincheira é cercada de arame farpado, que eu supostamente penso ser eletrucutada por uns 7 mil volts. Mas não tenho certeza, alguém está blefando, só tenho que encostar o maldito dedo, pra saber se ela é fatal ou apenas uma piada do coringa de Ledger. Não foda comigo babe, não, não, não, eu não sou nada fácil. Essa bala na cabeça, essa insônia, essa depressão pós-moderna, essa crise mundial que me dá sono, esse orgasmo todo por aí. Apesar de tudo a insônia é minha melhor megera. (na foto Claudia Cortes, uma coreógrafa, dançarina chilena, muito da gostosa e talentosa, numa vídeo dança de Paolo Fernandes)

domingo, março 22, 2009

Faz tempo que perdi a paciência com pessoas. Primeiro foi com a família, depois com conhecidos, depois ainda com mulheres em geral, só restou minha cachorra. É - vou morar com os lobos da américa do norte, ou melhor, com o lobo guará brasileiríssimo, pobre, mirrado, vive se fudendo no cerrado que pega fogo sozinho ou sendo alvo de caçadores. O lobo guará deve ter um bom papo. Melhor que muita gente por aí que tenho encontrado nesse sertão paulistano decadente, desse Brasil que nunca foi.

segunda-feira, março 16, 2009

atravessado


Tenho uma bala alojada em minha cabeça, sei que ela a miserável está ali, aqui, enfiada entre meus neurônios que mais parecem cães domesticáveis do capeta, e ela a bala doi frequentemente, por conta disso e digo, é que nunca tenho paz. Estou sempre em guerra com os mundos, e vejo a paz noutro rostos que se passam perto de mim. Somente dou um suspiro de desgosto. É pela noitinha que sinto o desconforto. E tento me enganar com bocejos mas ao deitar perco logo o sono, a insônia, que me deixa desperto nesse mundo desgraçado. Cruzo noites assim, todas sem fim. Já não observo as estrelas e evito a Lua, porque não quero redizer minhas tolíces a respeito da inutilidade do universo, esse grande amontoado de massa flutuando no escuro. Teorias, estou cansado delas, que de nada melhoram ou dão jeito. Acabou-se. Eu desandei geral. E cruzo os dias também. Assim, sempre assim, dessa forma repetida, entrópica, relembro de versos poéticos que li e reli noutras idas, mas não são mais tão belos. Essa bala alojada me doi de dia também, quando arde muitos sóis pelejando de calor e quentura. Não sou do sertão mas me vejo como esses jagunços sem rastro e sombra que perambulam ou perambulavam no lombo de burros e cavalos que tanto inspirou poetas e escritores de palavras certeiras e olhares serenos. Só não tenho horizonte pra olhar, nem a liberdade de um capiau desses, de atravessar suas travessias, sem se voltar pros lados ou praquilo que ficou no antes. Ah, com certeza sou um amontoado de massa inútil me fazendo valer da experiência de outros, inclusive sei que estas palavras perdidas sem conexão alguma são inspirações piradas dum algum livro de capa dura e letras miúdas que li e reli na vida. Foram alguns tantos que o olho doi. Mas não sou de sertão nenhum, nem cavalo sei montar, nem tenho a liberdade de querer ser e andar, nem respiro o mato selvagem, tampouco escuto o riacho descer montanha. Sou da selva de pedras urbanas, de descidas e valetas e sinto cheiro do tédio todo dia. Não reconheço meus iguais. Não vivo aventuras, só desesperanças. Sei dos meus tormentos que essa bala na cabeça tilinta todo dia, uma dorzinha que pouco incomoda mas vai enlouquecendo pouco a pouco. Vivo em guerra com as vidas enquanto miro e vejo faces risonhas me pedindo pra gozar do acaso. Já não tenho jeito mais, nenhuma curva que eu curvar vai me modificar. Carne velha e dura. Refiz meus pactos com o diabo. E depois eu ri como um insano. Nem amaciante dá jeito. Vou continuar com as dores incômodas dessa bala na cabeça que a medicina não soube retirar. Era pra ser alguma coisa que se perdeu. Na neblina de alguma manhã da infância. Travessias.

Incorporando Riobaldo Tatarana

sábado, março 07, 2009

Artigo publicado na revista Continuum do Itaú Cultural

LINK - http://www.itaucultural.org.br/revista/box_artigomau.htm

Sobre a imagem realista versus a imagem abstrata - Arte Contemporânea. Escrevi em 2008.

De resto estou só o pó do desinteresse e desânimo.