segunda-feira, março 16, 2009

atravessado


Tenho uma bala alojada em minha cabeça, sei que ela a miserável está ali, aqui, enfiada entre meus neurônios que mais parecem cães domesticáveis do capeta, e ela a bala doi frequentemente, por conta disso e digo, é que nunca tenho paz. Estou sempre em guerra com os mundos, e vejo a paz noutro rostos que se passam perto de mim. Somente dou um suspiro de desgosto. É pela noitinha que sinto o desconforto. E tento me enganar com bocejos mas ao deitar perco logo o sono, a insônia, que me deixa desperto nesse mundo desgraçado. Cruzo noites assim, todas sem fim. Já não observo as estrelas e evito a Lua, porque não quero redizer minhas tolíces a respeito da inutilidade do universo, esse grande amontoado de massa flutuando no escuro. Teorias, estou cansado delas, que de nada melhoram ou dão jeito. Acabou-se. Eu desandei geral. E cruzo os dias também. Assim, sempre assim, dessa forma repetida, entrópica, relembro de versos poéticos que li e reli noutras idas, mas não são mais tão belos. Essa bala alojada me doi de dia também, quando arde muitos sóis pelejando de calor e quentura. Não sou do sertão mas me vejo como esses jagunços sem rastro e sombra que perambulam ou perambulavam no lombo de burros e cavalos que tanto inspirou poetas e escritores de palavras certeiras e olhares serenos. Só não tenho horizonte pra olhar, nem a liberdade de um capiau desses, de atravessar suas travessias, sem se voltar pros lados ou praquilo que ficou no antes. Ah, com certeza sou um amontoado de massa inútil me fazendo valer da experiência de outros, inclusive sei que estas palavras perdidas sem conexão alguma são inspirações piradas dum algum livro de capa dura e letras miúdas que li e reli na vida. Foram alguns tantos que o olho doi. Mas não sou de sertão nenhum, nem cavalo sei montar, nem tenho a liberdade de querer ser e andar, nem respiro o mato selvagem, tampouco escuto o riacho descer montanha. Sou da selva de pedras urbanas, de descidas e valetas e sinto cheiro do tédio todo dia. Não reconheço meus iguais. Não vivo aventuras, só desesperanças. Sei dos meus tormentos que essa bala na cabeça tilinta todo dia, uma dorzinha que pouco incomoda mas vai enlouquecendo pouco a pouco. Vivo em guerra com as vidas enquanto miro e vejo faces risonhas me pedindo pra gozar do acaso. Já não tenho jeito mais, nenhuma curva que eu curvar vai me modificar. Carne velha e dura. Refiz meus pactos com o diabo. E depois eu ri como um insano. Nem amaciante dá jeito. Vou continuar com as dores incômodas dessa bala na cabeça que a medicina não soube retirar. Era pra ser alguma coisa que se perdeu. Na neblina de alguma manhã da infância. Travessias.

Incorporando Riobaldo Tatarana

Um comentário:

San disse...

Além de Semi Deus ainda é médium???

Não entendo esse seu desânimo e seu tédio! Rsrsrs

Bjs