domingo, setembro 28, 2008

um requiem dominical

Dona Maria morreu. Num domingo. Hoje. Pensei - dia melhor pra isso não há. Ela tinha 88 anos. Morreu dormindo no hospital. Levaram-na, com dores no peito. Cada órgão foi parando, como engrenagens cansadas duma linha de produção. Primeiro o coração batia com dificuldades, depois o pulmão reteu água, porque os rins não funcionavam direito. O cérebro, perfeito, mantinha sua lucidez, em torno dela, os filhos e netos. Ela numa vivacidade replicava - "precisa podar o jardim, já marquei com o João, o jardineiro, vê se ele pode vir na terça - não esqueça de pedir pra ele ensacar o entulho e por para o lixeiro levar". Ela ignorava a morte com lucidez. Os filhos e netos acenavam um sim com as cabeças, cabisbaixas. Antes de adormecer para morte, ela serenamente falou -" não queria morrer, mas não tem jeito. O jeito vocês sabem. "Ela dormiu, morreu tranquilamente. O melhor da vida é no fechar dos olhos.

Nenhum comentário: