quinta-feira, janeiro 25, 2007

Um dia de Spider Jerusalém

Eu acordo e me olho no espelho, depois de uma noite de pensamentos acelerados a 200 km por hora, ainda lembro do policial tentando multar meu pensamentos, quando estourei o limite de velocidade da Hellway road. Existe multa para pensamentos acelerados, se existir, já ultrapassei os malditos 21 pontos.

Mas eu acordo e digo - "Joça de mundo". Esse é mais que um lema, é um sentimento mesmo. Se alguém me perguntar, porque você escreve, porque está fazendo seu livro, Império das Causas Perdidas??? Se eu falar, que desejo vender 1 milhão de cópias, ser famoso, fazer entrevistas em programas de TV à cabo, ir pra Europa ganhar prêmios de Literatura, ser convidado pra jantar com Quentin Tarantino, Roberto Rodrigues, Umma Thurman, George Lucas, pra uma possível adaptação cinematográfica e me tornar CULT, com direito a ganhar comunidades no orkut, my spaces, vídeos no you tube, produzidos por fãs desconhecidos que jamais falaram comigo e ainda não sendo pouco, ser elogiado pela Beyonce (ah, aquele escritor do Brasil é muito sexy) e depois disso, ser convidado pra participar das prévias do senador democrata para ganhar a confiança dos latinos no ano eleitoral americano.

Que desgraça. Talvez eu pense assim, algumas vezes, não posso desconsiderar tais hipóteses, mas em certos minutos do dia, enquanto estou debruçado entre livros, revistas, fotografias que eu mesmo tiro para referências, lapis, hidrográficas, papel manteiga, vegetal, sulfite, grafite, cola, fitas adesivas, estilete, computador, photoshop, escanner, tudo isso e nas mãos o roteiro digitado no WORD da Microsoft, fonte 11 Arial, com todas as falas, narrações, interlúdios, parênteses, manchas de suor das mãos, palavrões e obcenidades ditas e repetidas, som do Windows Media, na sala a TV ligada em alguym canal inutil falando do futebol, abaixo de mim livros, modernismo, filósofos, HQ´s e graphic novels, Neil Gaiman, Eisner, Moore, Rosseau, Robespierre, Padre Vieira, Platão, Epicuro, Niescth, Freud, Druon, Guimaraes, Bandera, Machado, Brás Cubas, Turma da Monica, Pato DOnald, Sandman e Spider Jerusalém.

Sandman e Jerusalem, dois personagem tão opostos e incrivelmente próximos de mim, que me refletem de forma verossímel. Alguém já usou essa palavra desgraçada, verossímel? Só uso essa filha de uma vaca, quando é algo muito verdadeiro. Pois sim, um idealizado e remasteriazado por Gaiman o outro por Ellis. Esses dois bastardos pertencem a mundos e classes sociais distintas, mas eles são Eu. Não é erro de concordância nominal, eu sou Eles.

Tenho dias de Sandman, e outros de Spider Jerusalem. Toda aquele drama alucinógeno e existencial do jornalista Spider, que fora baseado em outro doidão "Hunther Thompson", tbm jornalista e escritor "Las Vegas na cabeça", que se entopia de narcóticos para se aprofundar na matéria e vivia o inferno em sua vida pessoal. Isso se é que ele tinha tal vida pessoal, acabou dando um tiro na cabeça.

Spider em Transmetropolitam diz "não sei o que quero, vou me entupir de todas as drogas e amanha estarei bem pra cobrir as eleições". E quando ele cobre algo, ele arranca o fígado do mundo, coloca duas TNT´s e explode em rede universal pra todos assistirem, isso na hora do jantar.

Sandman é mais silencioso, poético, lacônico, sedutor, é um amante latino do mundo onírico. Mas vive descontente, infeliz com sua natureza imutável. E o mais apavorante nós sabemos disso e nos acostumamos a viver nossa infelicidade perfeitamente bem. Somos estranhos porque somos "felizes sendo infelizes". Isso é (des)voluir...

Mas tem um preço, como tudo, o mundo se torna uma joça, uma merda, as pessoas são meros acasos, um efeito colateral da evolução forçada e estranha. A música perde a graça - alguém me pergunta o que você tem escutado de música - "nada, só tem lixo". Isso é improvavel para os seres normais. Se existe algo que sobrevive aos infortúnios da vida é a música. Esteja na merda, na sarjeta, sempre haverá uma música que lhe inspira, resgata, alguém, algo, passado ou futuro.

Devo confessar, que as vezes nem música, nem arte, nada. Contudo existe algo poderoso chamado rotina, responsabilidades e protocolos. E aí as contas, despezas, necessidades básicas ou não, chamam nossa atenção e por instantes eu penso no dinheiro, na fama, na adaptação milionária para o cinema BlockBuster, na luxúria, (maldito Maslow, todo publicitário conhece esse FDP).

Mesmo que isso me faça querer vomitar e meus ombros e costas tensos gritem: você precisa de uma massagem.

Assinado: Spider, Pablo, enfim.

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