segunda-feira, outubro 01, 2007

Abismo final

"Me pergunto", quando foi que decidi entrar para a estrada do conhecimento, e cavei minha própria desgraça. Se eu fosse ou me mantivesse na ignorância, estaria hoje aí como todos, rindo da desgraça, fazendo filhos e me mantendo vivo, pra cuidar dos filhos. É assim que a classe pobre e operária sobrevive. Tem-se filhos, pra cuidar, e viver até aposentar, e os filhos, cuidarão dos pais, ou mandarão pros asilos, não importa, quem cria filho, não tem tempo pra crise, nem existencial, nem metafísica, muito menos tempo pra ler e filosofar, pra saber das últimas da antropologia, do Niilismo, do sartrismo ou tentativas de decifrar Guimarães Rosa (ohh homi difícil). E pensar em se matar, isso nunca, a vida é pra ser vivida, parece que escuto um caboclo falar atrás de mim.
Ficar ouvindo sua própria voz, ressonando passado, vidas paralelas, poesias transcendentais, é coisa pra quem não vive a vida. Enfim, eu passo dias a ler e ler, como disse decifrar enigmas de autores enigmáticos. E passo a escrever, mesmo não me reconhecendo, não funciona mais alter-egos, por isso eu os matei, enterrei, e sequer derramei uma lágrima. E ando por aí, e não vejo esperança - alguém ainda me manda ir pra Igreja - odeio, seja católica e principalmente evangélica.
Lembro então de Haroldo de Campos - um homem dedicado ao conhecimento. Mentor do Concretismo, tradutor de muitas línguas complexas, de obras da literatura mundial, como James Joyce, Homero, sei lá quem mais, escritor, dramaturgo, crítico. Morava numa casinha pequena e simples, em Perdizes, São Paulo, dentre condomínios de classe média baixa, de ignorantes. Ninguém sabia, ou gostaria de saber, que aquele senhor de barba longa e branca, era ali na vizinhança, um dos mais cultos homens do século XX. Morreu, ninguém soube, duvido que não o confundiram com papai noel. Odeio Natal, esse velho idiota, e datas sazonais.
Estou exausto. Malditos fantasmas.

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