sexta-feira, janeiro 18, 2008

post sobre a vida, o cotidiano e a não vida

Tenho vivido e não vivido. Na atualidade trabalho com Direção de Arte em audiovisual, quando consigo me concentrar e comercializar meus objetivos, muito mal clareados, diga-se. Formulei um curta metragem, um vídeo still chamado "Casa dos Fundos". Mais um projeto que atropelou algum outro projeto de outrora. Sou assim, um atropelamento de mim mesmo. Não posso evitar, o desânimo letárgico, a mente intempestiva, uma vida distinta do meu próprio corpo. Incontrolável.

Deixei para depois outros projetos e idéias, como o livro que escrevi, quase finalizei, mas desisti de sair caçando editoras, desisti de publicar, porque certa tarde pensei - porque publicar, pra quem ler; quero mesmo ser lido?

De volta ao curta, uma idéia que me persegue a respeito do abandono. O quanto me fascina lugares abandonados ao tempo. Entrar numa casa que já foi habitada, ver objetos empoierados, paredes com infiltrações de água da chuva, teto quebrado, mato no quintal crescido, copos na mesa que não foi desposta, pia com pratos sujos da última refeição e pensar, isso foi a cinco, vinte, trinta anos...não saber e sentir, a presença de pessoas inexistentes no momento, mas presentes na atmosfera da casa. Isso sempre me fascinou.

O curta "A casa dos fundos" é simplesmente isso. Não há estória e personagens, ou melhor, há personagens que foram construídos na ausência deles próprios. Passei as últimas semanas construíndo planos e enquadramentos. Montando cenografias no "set" e posicionando a câmera no tripé, ali e acolá. E já não sei quantos planos refiz, quantos deletei e joguei fora (coisas da era digital e não da película). Abandonei a idéia de um plano sequência, porque não me dava a sensação de "documental" com uma pegada ficcional, como Petrus Cariry fez fabulosamente em seu último filme, por exemplo. Passei então para cortes secos e por deficiências de câmera fora obrigado a fechar planos detalhes (o que se conhece por close) e contar estórias de personagens ausentes na tela, mas vivos dentro das cenas.

Em suma o curta mostra, várias cenas de uma edícula velha que supostamente serviu de moradia pra pessoas esquecidas pela própria vida, contudo, não aparecem em vídeo. Em suma é muito simples, na minha cabeça é que se torna um vórtex complexo.

Influências vão desde o último trabalho de Petrus Cariry, passando pelo belo filme e "totalmente pessoal" - SANTIAGO do J.Moreira Salles (confesso que fiquei encomodado com o cinema depois de ver esse filme), além de outros curtas experimentais como "Saba"...

Se eu sobreviver à edição e montagem, volto aqui pra mostrar.

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