segunda-feira, setembro 04, 2006

Gênesis


No início dos tempos, bem antes das cordilheiras do Oeste nascerem, eu era um Deus.


No tempo em que os grandes lagartos falavam e saltavam montanhas, haviam templos feitos do mais puro diamante, resultando de uma estrela cadente que caíra.

Uma Era em que as nuvens caiam do céu e todos podiam saborea-las livremente.

As estátuas que faziam a mim alcançavam as várias luas que brilhavam a noite. E as luas podiam falar com os habitantes da terra.

Pela noite fogueiras eram erguidas clareando as trevas, dando contornos e vida a todas as sombras. As mulheres que eram todas lindas, pois não havia nem existia a palavra "feio" dançavam sobre a chuva fina e refrescante que caia quando eu chorava.

Mas um dia, alguém ousou a passar a crer em si mesmo, ousou crer em seu destino, ou melhor, ser dono de seu destino e saiu gritando aos ventos sua descoberta. Um a um, uma a uma, todos se espantaram e subitamente desacreditaram.

Eles não mais acreditavam em mim. Um sentimento de liberdade, de segurança tomou o espírito, começaram então a varrer o mundo com idéias. Logo os ventos cósmicos tornaram ruínas os templos, as estátuas, os grandes lagartos morreram, as luas sucumbiram e se calaram, as estrelas cadentes não mais caíram...

Eu era um Deus, e como todo Deus precisa ser reverenciado, ser acreditado. E como todo Deus, não se enganem, também tem um destino, que é justamente ser um mito. Era uma vez um Deus, que foi dono do destino, mas que perdeu a coroa, tornou-se um mito. Um deus morre quando perde sua crença.

Eis que de repente, estava eu sentado num banco de praça, lendo um jornal, com os classificados em mãos procurando emprego, jogando migalhas de pão aos pombos, vendo o por do Sol...Era um deus, um mito e renasci para ser um nada.

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