quinta-feira, julho 26, 2007

Fatos - férias da vida


Uma coisa tentadora, vislumbra-me, uma atitude, um egoísmo, um desencanto, um [des]sentido, um ato imoral, amoral, uma soberba, alguma coisa.
E pensar que tempo atrás estava eu renunciando, rompendo com alguém, para salvar ninguém. Não pude salvar a mim mesmo. Da razão só minha, das letargias, dela, sobrou-me, meu desassossego.
Salvei a quem mesmo?? Um brinde ao fracasso.

sábado, julho 21, 2007

No estories


Sem estórias por hora. Deixo esse resmungo de bom tamanho. Na foto, eu e minha doce gigante pastora alemã, tão complexa e complicada quanto o dono dela. Já disse, ela é a mulher da minha vida. E tenho preferido sua companhia. Há tempos que os humanos perderam a importância para mim, os humanos de carne e osso que tenho vivido por aí. Salvam-se autores da literatura, dramaturgos, pintores, gente que nunca conheci pessoalmente, somente através de livros, espetáculos, quadros, esculturas, ideologias.
O ser humano se tornou extremamente mal educado, e vejam só, um anti-social descobrindo isso. Mas nunca fui mal educado ou displicente. E num momento de tragédia, todos parecem ser "humanos", comovidos pela dor. Mas querem saber, isso é somente fachada. Desconfio eternamente. Ser bom ou emocional em grandes momentos de dor é muito fácil. Mas nas pequenices, nos instantes gerais da vida, imperceptíveis, ser "humano" tem sido bem raro. Essa é a grande diferença. Nem com todas as almas no céu, que se foram, poderá nos salvar.

quarta-feira, julho 18, 2007

Estórias

Sou pago e faço o trabalho. Acostumei-me a viver da mentira, transformando-a na verdade, sempre que assim pagarem-me o necessário. Mesmo diante da injustiça, o mal também tem seu lado e sua defesa. Muitas das vezes tenho a mim todos os fatos contrários, um juri observando-me, um alguém esperando algo fantástico, a salvação, o coelho da cartola.

Eles acalorados pela situação evidente, situação tal, faz com que todos permaneçam de um lado, julgam-me incapaz de sensibilizar. Mas que há de errado em ser o defensor do lado ´feio, do mal, do criminoso, do forjador, do algoz ou representante da dor. Alguém terá de ser.

Quando a sociedade, e o poder que a faz, assim pedem a condenação, meu trabalho é perdido. Os valores morais e a necessária punição vencem. Eu cumpro meu papel social, cabido a mim, quando ao lançar-me nessa jornada. Confesso as vezes, torço contra mim, por minha derrota, na verdade, outro de mim; temos tantos personagens vivos e sobrepostos, não é mesmo?!

Se eu perder, não é derrota completa, minha felicidade é inerente a vitória ou não. De qualquer forma eu recebo, ou pelo Estado ou pelo réu. De modo algum sou relapso, nem contra as maiores adversidades, sou do possível e impossível, vou até o fim. Enceno o máximo e busco nas brechas a pena mais justa, interpretando o livro negro de uma forma, vamos dizer, pouco ortodoxa.

Sou advogado, meu último cliente matou trinta e cinco pessoas, em série, depois picotou todas e as cozinhou, para jantá-las. Mas a lei exige um defensor. Ele não tinha chances, nem ao pedir clemência. E quer saber; mereceu a cadeira elétrica. Quem disse que preciso crer na inocência.
O advogado estória de
Pablo Montevideu

domingo, julho 08, 2007

Estórias - Retratos de Outrora

Tivera tido um amor, de que no durante, pouco se soube saber. Era amor desconhecido de um lado só. Tratava com causualidade destemida, as vezes por ignorância de si mesmo, desprezo despejava. É difícil até "redizer" sobre tal estória, acontecida, mas que nunca fora História de certo a um deles, somente na outra parecia resplandecer a felicidade.

Do jeito dele, foi-se indo, deu o que lhe conhecia desses sentimentos. Vai ver, não acreditava em coisas do coração; sujeito pensava, que era órgão de bombear sangue e o resto culpa era do cérebro, maquinário complexo no topo responsável por erros deles. O amor não era coração, era amor cerebral, do dele sim - do dela não. Pagou-se o preço

Mesmo na incoêrencia, foram-se, vivendo felizes, plenos. Uma coisa poética mesmo, dois corpos, tocavam-se em si, poesias parnasianas, simbólicas, modernas, concretas. A sensualidade deles, não estava apenas no carnal. Era o dom, da cumplicidade e intelectualidade discorrida madrugadas dentro, acalentados por uma brisa, sempre disposta a refrescá-los na noite quente.Sufientes.

Quando o frio pregava sua peça, eram os corpos, em extase, suficientes em si, lhes oferecendo calor, para outra noite a mais. Tudo terminava, quando ele deixava um tanto antes do Sol nascer por total. Nas janelas o orvalho dos deuses ou o hálito dos amantes, dúvida, indecifrável. A porta se batia, o elevador esperava atento, como fossem eles reis. Ela ainda em transe, andava semi nua, pisando em ovos, ressentida pela partida. Tudo era lindo, mas de repente, esfriava. Sentia frio, mas não queria agasalho, precisava demais, um abraço - insufientes.

De certo, sabia, de sua necessidade do sofrer. Deixar a realidade para lá e por uma vez na vida viver o lirismo dos livros amarelados, escritos em línguas de pronúncia delicada. Isso era um sonho, um despertar eterno. Ela se banhava nas águas da manhã, já pensando no próximo encontro com o mago, seu bruxo, seu crime, seu fim. E chorava, a felicidade, a dor, depois escrevia tudo em papel de carta, dobrava e colava um selo. Depositava na janela, esperando o bem-te-vi levasse a mensagem para longe, com intuito de oferecer para alguém distante um pouco de seu amor benevolente.

Ainda, não tarde, pendurava no varal seu, dela, retratos em preto e branco de seu amor maior. Ela amava com os rins, além do coração. Nesses fragmentos ao vento, trechos de poemas ilustrados. O vento dialogava junto a brisa da noite. Esta falava ao vento, o quanto amavam-se. O vento dizia, ele nem tanto. A brisa testemunha ocular, replicava zangada, e dizia, não traga chuva, vai borrar as fotografias. O vento indisciplinado, rancoroso e irado, ventava para ela, uma chuva forte.

Apagava assim cenas de um sonho, dentro do sonho, eterno. Essa chuva, derramava-se dos olhos dela, da amante, da amada, sabida ela, do fim. Hoje, uma é felicidade, outro é nostalgia.

na voz de Pablo Montevideu
Retratos de Outrora

quarta-feira, julho 04, 2007

Estórias

Isso foi pra bem de lá. Tudo aqui é duro, é concreto cinza, mas o concreto também curva-se pra lá e pra cá. E desses cantos, muitas vezes servem de moradia a uns excluídos ou por azar, ou falta de competência. Estranho esse pensar, não seria um destino e conclusão doutro? Deixo-me filosofar noutra oportunidade. Pois, o que deve ser contado, é aquilo que Zé Galopeiro não fizera.

Homem da rua, a rua é sua vida, não tem outra, desconhece novidades, mas pense bem, a vida nas calçadas e praças, dia e noite sem parar é demais por movimentada. Pode não ser sofisticado, mas marasmo não se tem. Essa é minha opinião, vai saber o que o Zé pensa. Mas quem conhece apenas uma realidade, não pensa noutra não. O Zé carrega consigo, uma carroça velha de madeira que vive emperrando em subida e desce a toda nas ladeiras, o que causa acidentes. Em sua traseira seus fiéis filhos, quatro vira-latas, cuidadosamente alimentados por ele. Nessa carroça carrega o lixo que não é lixo. Aquilo que lhe sustenta com o pouco, que a sociedade lhe dá. Ora, a quem a sociedade deve, senão à si própria. Mesmo nas adversidades, comida não falta aos vira-latas, nem que pra isso aperte-se a fome.

Em sua idas e vindas, dentre avenidas e alamedas, conheceu os cem Sóis, daqueles do meio dia às seis da tarde. Sujeito como ele, vindo do interior, ainda ao passar por qualquer igreja faz o nome do pai, do filho e do espírito santo. De tanto andar esqueceu a oração, mas pensa em Deus e pra ele é o que vale. São tantos anos, perdera a privacidade ao dormir em praças com os cães. Sente-se um tanto animalesco, irracional. Se bem pensar, olhar, analisar, as barbas grisalhas e compridas, o rosto preto queimado do Sol, o mal cheiro, as unhas gastas de raspar o asfalto quente e os pés cortados nas botinas velhas, dá um aspecto selvagem, como fizera o caminho inverso da evolução - Involução.

E nesse safari de savanas solitárias dentre os milhões, de outros além, invisíveis a sua jornada, Zé esquecera, que um dia fora humano, dono de rotina, família, mas que de agora por diante, tens única missão de alimentar os cães. O que ele não fizera, foi algo prometido ainda criança, de rezar uma missa, pra sua mãe morta, promessa ao santo - que o tempo esqueceu e a bebida salientou.

E na noite de quarta passada, dentre fogos de artifícios estourados num canto qualquer das esquelotasas torres verticais de concreto, alguém saudara a felicidade, Zé enterrava solenemente a morte de um de teus filhos, dele, aos 20 anos morto - era um mestiço de labrador. Clamou a natureza, ele Zé Galopeiro, o porquê dos cães viverem tão menos que gente.

Pablo Montevideu
Notas-Ainda tenho em mim a letargia que me assola por meses. Fazem meses que minha produção se restringe a esses textos sem fundamentos. Estou de quarentena - entre planos de ilustrações das estórias, um curta metragem e outros textos que escrevo (monólogos). Essa estória acima, também é um fragmento de outr curta, que bem gostaria de terminar, sobre os mendigos de rua e as relaçoes deles com os cães - "O melhor amigo do homem de rua". Agora, porque descrevo aqui minha insatisfação comigo mesmo, com esse desânimo imprudente, que me engessou - talvez porque infelizmente aprendi a trabalhar sobre pressão. Ainda não sei, ser meu próprio algoz.