segunda-feira, dezembro 10, 2007

Ensaios - o porquê deles?

Perguntaram-me - porque parei de falar de mim pra falar de gente morta, famosa, do passado, enfim. Personagens reais, históricos, em fotos inusitadas (Simone nua é uma foto fantástica). Escolhi a dedo esses personagens reais do século XX porque todos dizem muito a meu respeito. A vida deles, dos pensamentos a personalidade se confunde comigo, ou então, posso admitir a influência de ambos numa auto-construção de existência.
Já sonhei antes encontrar uma Simone de Beuavoir e assim encontrei; e já a perdi também. Para não dizer de Beckett e Gerald Thomas, e o teatro do absurdo tão importante para meu imaginário. Beckett foi um divisor de águas pro teatro e pra mim. Sua desconstrução no pós-guerra, também foi minha própria desconstrução artística, especialmente na segunda "tentativa" que me propus de entender sua obra. Da primeira tentativa nos meus 20 anos de idade, não tinha maturidade pra compreender o que ele escrevia e poderia me nutrir. Sua escrita refletia o pensamento daquelas pensadores que perambulavam por uma Europa arrasada por guerras, escombros - hoje tenho total noção de escombros, entulhos e vazio.
No caso de Thomas, um amigo real, especial - sem falar da sua estética, do seu texto, produções, e de sua destemida inconformidade em relação ao mundo.
Kafka - minha vida tem sido kafkaniana nos dois últimos anos. E sua escrita impotente diante da desgraça humana, faz de um realismo, que pra qualquer leitor é natural. Kafka é absurdo, porque é realista. Sua relação com o pai ou a namorada "irreal" Felice, tem pontos importantes, passíveis de serem discutidos por muitos textos e ensaios, isso quer dizer - do quanto eu admiro personagens estranhos, complicados e atormentados pela vida.
Porque assim sempre fui, e tem sido. Dos dois últimos anos que se completam agora nesse início de verão, o que pra mim é um suplício nostálgico e o calor infernal, me faz confessar a estranheza que percorreu minha vida e "não vida". Reconheço-me e desconheço-me por completo. Sobraram as melancolias, e muitos fragmentos, de vida, de arte. Não aposto mais no amor, em sua verdade, não aposto em nada. Vivo dentre mundos - desmundus, e a literatura, o cinema, a arte são minha companhia.
Ainda tenho de escrever um último "ensaio" sobre Camile Claudel, mas é tão difícil descreve-la, mesmo pela ficção, porque me remete tantas sensações memoráveis. Ensaios, não são propriamente estudos ensaístas - sou escritor, mas não um crítico profissional. Foram brincadeiras e um pouco de confraternização com o passado e com meus fantasmas.

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