terça-feira, janeiro 06, 2009

desnudar-se em horário nobre

Por curiosidade fui assistir a minisérie da Globo, talvez um dos poucos resquícios de dramaturgia de boa qualidade da porcaria da TV aberta brasileira e fiquei impressionado com a coragem de se expor do diretor Jayme Monjardim, filho da cantora falecida "Maísa" escrita por Manoel Carlos, e também da gratidão que ele teve com ela ao adotar artisticamente sobrenome da mãe, já que ele é por herança um Matarazo, nome das mais tradicionais famílias de São Paulo. Dirigir a série que mostraria sua mãe como uma alcoolatra e perdida, frágil e decadente não é fácil. Eu acho que não conseguiria. Sei lá, se eu fosse escrever sobre meu pai e falar de todas as merdas que vivemos e meu olhar decandente que tenho e já tive diante dele - quiçá dirigir um filme ou sei lá o que expondo tudo isso, ser o diretor e ao mesmo tempo personagem, organizar as cenas, dizer aos atores como ser e fazer - "não é assim, tentem ser mais derrotados". Tente pegar sua vida mais pobre e miserável e transformá-la num filme ou peça de teatro - rasgue suas essências, sua verdadeira imagem, desnude diante do público. É um estupro existencial. Eu deveria fazer isso, mas...

Hoje estava como Michael Douglas em "Um dia de fúria" - faltou-me pouco para botar fogo em casa, e sair com um taco de beiseball quebrando os vidros dos carros estacionados, ou explodir um supermercado com um bazuca e depois roubar um tanque e cruzar São Paulo, como um israelense, invadindo nossas faixas de Gaza e amassando veículos enfileirados do trânsito, paçocas de aço esmagadas, até meu tanque cair num precipício. Imagine só, um tanque despencando de um abismo, um Grand Canyon em plena Avenida Paulista - preciso dormir.

Um comentário:

Henrique Hemidio disse...

Melhor contar a verdade crua do que fazer igual fez a mãe do Cazuza com aquele filme tosco...