
sábado, novembro 29, 2008
Uma vida de mentiras...

quarta-feira, novembro 26, 2008
branco sobre branco
sábado, novembro 22, 2008

Adoro essa imagem montada pelo fotógrafo e a modelo contrariando o diretor "não olhe para câmera" e cheia de si ela simplesmente nos convida para entrar na festa. Perfeito.
quinta-feira, novembro 13, 2008
O teatro, o cinema, e o teatrocinema; tudo se perde ou ganha no final do espetáculo (a peça bloguiana de Gerald Thomas via IG ao vivo no Sesc)

Teatro é vivo e verdadeiro sob um ponto de vista de construção, mais tátil porque simplesmente se está de corpo presente. As sensações visuais são como o Impressionismo. Sim, acho que fica mais fácil entender (pra eu entender), é plen-air como dizem os franceses, as cores, a fumaça, o frio do ar condicionado, o murmurinho da platéia, a posição da cadeira, o cheiro, as vozes do elenco, o som, tudo tem peso, tudo é tangível. Nesse sentido é verdadeiro, sendo mentira em sua mensagem, mas isto é outro papo. O teatro dá a possibilidade de estarmos no mesmo patamar ou plataforma do mundo onírico, como se o sonho estivesse ali em nossa frente, basta dar alguns passos e pronto, qualquer cidadão, feio ou bonito, alto, rico ou idiota pode entrar. É como estar diante do céu mas também do inferno. O público eventualmente pode estar acima do elenco, superior ou observando o plano central, julgando e analisando - o público tem essa impressão. E no cinema todos os lados estão apresentados e desnudados.
O cinema no cinema, como no Cubismo
A obra cinematográfica do ponto de vista da produção e criação é uma mentira, mas ao contrário do teatro, entendo que sua mensagem é verdadeira. Um inverso do outro. Será mesmo? Eu acredito que sim, mas vou dizendo sem pestanejar. O cinema inexiste até a montagem. É nesse estágio que nasce a dinâmica das sequências de cenas, e também os personagens, porque ao contrário no cinema não se faz da experiência ao vivo, mas sim de pedaços ou fragmentos, produzidos aos montes durante as gravações, que depois os montadores juntam tudo, como um quebra-cabeça de imagens, surge então a narrativa, a verdade, a mensagem é construída, a obra enfim é criada. Para o ator, o diretor, antes da montagem é tudo encenação, é o encenar de encenar, ou seja, encena-se a encenação - estranho assim - desde Eisenstein e Vertov, cineastas do período lenista e stalinista da Rússia revolucionária.
Um defendia o cinema verdade de registro (Vertov) outro o cinema intelectual e ficcional (Eisenstein). Vertov vinha da ideologia revolucionária, do chão de fábrica, desconsiderava o cinema como obra de arte superior, mas apenas como reprodutor de imagens (na verdade Maiakovsky que pensava assim e formava uma corrente junto com Vertov e outros). Apesar de Eisenstein viver o período bolchevique, vinha ele do teatro (idem Maiakovsky), e essa teatralização de Eisenstein era elemento presente na sua obra de cinema, naquele momento um destaque da indústria da comunicação, sendo grande instrumento do próprio Estado - mais tarde de Stalin seria a gota d´água. Com Kulechov, Eisenstein recriminava o cinema de registro de Vertov (possivelmente precursor de nossos documentários), os cineastas intelectuais (kulechov, Einsenstein) não acreditavam em nenhuma espontaneidade diante das câmeras.
O cinema como o cubismo prima a forma, emite vários pontos de vista num mesmo plano bidimensional - expõe o objeto a dois ou mais posicionamentos contrários, pela técnica e a montagem. Eu vejo teatro como a impressão realista e o cinema como a montagem pictórica. A espontaneidade talvez não exista diante da lente e da luz da câmera, seja num documentário ou numa ficção dramática, a atuação cinematográfica é construída pela marcação técnica, não há muito espaço para inventividade corporal e desconstrução do gesto, é uma perseguição maquinária, bem próximo do construtivismo soviético, até mesmo da arte concreta suíça.
O Teatrocinema da blognovela
O teatro visto por uma tela pequena de computador sujeito às entropias da exibição intra-pessoal (algo que não seja pessoalmente) é como a comunicação diária no blog. Todos são íntimos distantes, sujeitados a uma entropia diária - a mensagem é verdadeira, mas os formatos criados (os nicknames e as técnicas) dentro do blog são falsescas, tal como na produção cinematográfica. Então, por associação, o blog é como o cinema também, mesmo parecendo absurdo. A encenação da peça ao vivo, como num ensaio, era teatro apenas pra quem estava na platéia, o cenário, elenco, a fumaça, a interação e o peso dos corpos e sons. Ao público em casa, era também uma peça teatralizada porque não houvera montagem anterior, seguia-se obviamente um roteiro, mas a montagem era ao vivo (o plen-air impressionista) - portanto teatro. E a criação foi com base teatral, Gerald é homem do teatro, e sua cia. faz parte do universo teatral. Nossa visão se deslocava na tela do computador procurando pontos focais, sendo que em determinados momentos a tela se escurecia, um corte cinematográfico e teatral.
É o teatrocinema ou nenhum dos dois...de repente não é uma coisa ou outra, é apenas uma obra audiovisual, como uma vídeo arte ou "Performance Body Art" que poderia ser reproduzida em paredes de museus ou encostas de morros, laterais de prédios, projetada por grandes projetores interferindo na paisagem, o que aumentaria a percepção e ao mesmo tempo provocaria outras interferências perceptivas em relação ao tema. Afinal, as idéias ou conceitos eram mais importantes que o formato, o que deveria ser relevante era a mensagem. E foi justamente a mensagem que prevaleceu e sendo assim funcionou, não importando quão complexa a linguagem.
Quando no cinema o diretor filma várias tomadas da mesma atriz, de costa, perfil, diagonal, de cima, com mão no joelho, no cabelo, boca entraberta, etc e etc, busca-se o excesso da imagem e o detalhismo para construção rica na tela grande. O teatro funciona melhor no minimalismo pra causar a impressão, ao mesmo tempo que limpa a imagem deixando o objeto exposto de forma nua. A atriz no cinema perde a espontaneidade é um robô humano seguindo as ordens do diretor e no teatro essa mesma atriz seria um fantoche maleável, solto e livre, com um toque mágico, um sopro de liberdade no palco. No cinema essa personagem ganha vida com a luz da montagem, na telona é o que importa, o objetivo final, a estória existe e mesmo com todo processo racional, por vias da emoção atinge o subjetivo do público. Há ganhos e perdas, seja qual for o meio, a importância de renovar é relevante. Vivemos uma época que se pode pensar - tudo já foi criado e não nos sobrou espaços para mais nada. A ousadia não foi repelida e nossa capacidade talvez ainda exista. Tem que se quebrar espelhos sem medo das pragas do azar e fuçar os escombros do mundo arruinado.
quarta-feira, novembro 05, 2008
Nas entrelinhas mondrianas morreu Monalisa; questões subjetivas, objetivas, diretas, compreensíveis ou não. Quem sabe?

O processo neoplástico nascera da simplificação da pintura representacional, a tal ponto que eliminado todos os invasores pictóricos sobrando apenas as linhas retas e curvas. Do mesmo modo na Rússia, os irmãos Pevsner, Gabo, Lisstisky, entre outros desenvolviam o construtivismo obsecados pela eficiência das máquinas e sua precisão - tida como ideal humano, a arte construtiva em realizar a obra de arte objetiva. Os russos viviam a arte e a sociedade, arte como função na história, por assim dizer, transformadora sócio e histórica, fazia parte do processo revolucionário liderado por Lênin. Mondrian como os expressionistas alemães da "Brücke" vivenciavam tão somente de forma singular o mundo das formas, dos planos, da matemática da vida - quando simplesmente a história da arte reproduz os conceitos numa simplicidade que caiba numa frase de um texto como esse, fica um vácuo de entendimento - deixa-se passar algo inimaginável e talvez uma visão que apenas aqueles "homens gênios" exergavam. Eis a cisma da teoria e crítica da arte - jamais conseguiu aprofundar os preceitos, teoremas e visões artísticos diante nossa condição mortal e humana.
Esqueçamos os lamentos por uns instantes. Em outro aspecto, as postulações de Mondrian e outros neoplasticistas se tornaram complexas e não tiveram nenhum êxito, ao longo das décadas do século passado. Em determinadas áreas a velocidade do tempo se viu fisicamente. Na física e química, como consequência - a Tecnologia, o mundo girou muito rápido, a ponto de estarmos em constante avanço, e sermos atropelados pela velocidade das conquistas da informática e comunicação. No social e político, o comunismo foi praticamente afogado e o mundo escolheu para o futuro a chamada democracia capitalista da liberdade de ser e estar, mesmo que para isso, o mundo esteja calcado na alienação comercial e fútil. Mas na Arte não houve nenhum direcionamento e o panorama talvez esteja pior que na primeira metade do século XX quando mentes geniosas, do Ocidente europeu à Rússia, sem internet e celulares manteve uma extensa rede de intercâmbio cultural, idealista e produtivo. Foi o período mais rico e inimaginável que a mente humana alcançou; e jamais conseguiu repetir o exito.
É quase impossível na atualidade reviver a visão mondriana de arte porque simplesmente se rejeita o simplismo em favorecimento do exagero. É complexo mergulhar na obra neoplástica ou suprematista de Malevitch e compreender através da percepção dos artistas autores estes dogmas que eles nos deixaram. Torna-se incoerente saber que pretendiam ser objetivistas e sem nenhum caráter sensível ou individual. Entretanto a racionalização da obra artística tivera efeito inverso, no decorrer das décadas seguintes. Apesar da excessiva simplificação e do reducionismo que arte sofrera, tornou-se demasiadamente distante de qualquer compreensão individual. O que para Malevitch e seu "quadrado branco sobre fundo branco", era apenas isso, para o indivíduo de mente restrita é o absurdo da ineficiência ou da perda de tempo, portanto, uma antítese à idéia original. De fato, qualquer leigo compreende melhor a arte figurativa num quadro como a Monalisa de Da Vinci. Mas as telas suprematistas que indicaram a morte da pintura de quadro e deu início a construção no espaço, ou seja, a tela se torna o mundo; sendo incabível a essa escassez perceptiva e imagética que a humanidade se aprisionou.
O cenário do passado, com suas inovações e o presente sem surpresas e genialidades, resplandece um vazio existencial (idéia bergsiana). A arte não se fez apenas com pinturas, há de existir sempre os teóricos responsáveis por construir ou repassar o pensamento que vem antes da realização (os ready-mades de Duchamp por exemplo). Pergunto: será que Duchamp buscava essa explicação pra sua obra interventora nos anos de guerra? Pergunta retórica, sem resposta. No passado os artistas como Van Gogh (não somente ele) viviam suas respectivas obras intensamente, eram artistas e teóricos, escreviam os manifestos, propagavam idéias, criavam e destruiam, tinham as ferramentes nas mãos, o drama na consciência. O vazio existencial no tempo presente está reverberando em gigantescas caixas acústicas. Ouvimos berros, são nossos próprios gritos, gritados anos atrás, mas parecem tão recentes que arrepia e nos causa calafrios, e nosso atraso perceptivo nos impediu de nos escutar. Nosso vazio é nossa própria incompreensão do simplismo objetivista e abstrato de Mondrian, Max Bill, Kandinsky, e quando ficamos ultrajados diante da afirmação que arte pode ser algebra. Mais comum do que se costuma pensar. E nos indagamos a respeito do pensamento comum -"onde entra a emoção afinal?" - indagação muitas vezes pérfida e autoritária, sequer percebemos a qual forma tratamos as emoções, tão arbitrariamente. Eles, os velhos pintores de linhas retas horizontais e verticais ou formas inorgânicas eram únicos por enxergar além; a emoção na simplicidade. Algo que o contemporâneo parece estar e assim desejar impedido.