sábado, abril 14, 2007

Eis que descubro que tenho um grande elefante branco e não sei o que fazer com ele. Elefante seja pequeno demais, talvez um tiranossauro dos grandes. O que eu devo fazer criatura?????

Enquanto não descubro resolvi ler na edícula dos fundos um livro. Na verdade autores falando sobre Beckett. Sentei-me na cadeira e coloquei os pés na mesa me aconchegando. Começei a leitura e na calmaria quase irreal concentrei nos detalhes acadêmicos e confusos, téoricos e ambíguos. Estava tudo certo, ia bem aqueles instantes, mesmo minha cabeça estando em um nó psico existencialista, coisa não rara, mesmo assim estava indo bem.

Quis o destino me apresentar um pernilongo de inteligência absurda. Audacioso chupador de sangue zumbiu em meu cangote se anunciando e depois sumiu na penumbra do velho quarto se escondendo entre as tranqueiras espalhadas. Uma sala de tranqueira, guarda entre outras coisas tranqueiras e pernilongos famintos. Esse bicho era diferente, pois não se alegrava em apenas despejar sua ferroada e chupar seu sanguinho diário e voar buscando algum vaso com aguá pra depositar sua próle. Poderia ser o da dengue, assim morreria eu, de hemorragia, lendo Beckett ou qualquer outro poeta do existencialismo após travar uma batalha com um inseto.

Ele vinha pela frente em arrevoadas rasantes e passava entre as páginas do livro. Queria me manter no foco da discussão sobre o uso das metáforas becketianas. E logo ele vinha, justo quando me concentrava. Ele sabia a hora certa, matuto inseto chupador de sangue. Então quando despertava minha fúria, ele se escondia, usava a luz vinda da janela para se camuflar. Ele até conhece os reflexos humanos; um gênio inexplicável meu deus.

E quando assim o perdia das vistas, falava a mim mesmo, foi-se embora. Ao voltar a minha leitura, o sádico bicho espera uns instantes até que eu novamente me concentrasse. Sim, seu fetiche era me tirar do foco, desvirtualizando minha atenção. Esse era o seu tesão. O ato de chupar um sanguinho era mero acaso. Então quando percebia o instante certo, dava nova arrevoada, sempre pela frente, cada vez mais perto de meu rosto. Um canastrão arrogante.

Então me levantava, esbofeteando o ar, desfilando golpes com força, usando o livro de capa dura como arma e ele escapara mais uma vez. Senti que era um idiota, um gigante bobo e lento, como nos desenhos de Tom e Jerry, cujo o rato, menor em tamanho, muito mais ágil e esperto.

Disse a ele - venha, me pique, e saia zumbindo gargalhadas. Vai coçar um pouco, passarei alcóol e depois voltarei a ler. Em 24 horas você morre, afinal um verme como você não vive mais que isso.

Então, ele surgiu me dizendo - "verme não, inseto seu burro" e saiu pela porta indo para sempre.

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