quarta-feira, junho 06, 2007

estórias

Nada era suficiente. Entrou num período nebuloso, de tempestades sem fim. A crise que não se passa, nem fingindo se vai. Passou por toda puberdade, depois o iniciar da vida adulta, nada mudara; em tuas visões continuava a mesma coisa, ora, o dia continua dia, a noite também, o frio, o calor, o Sol e a Lua. As pessoas então, essas pioram, pioraram, perderam-se.

Das idéias que tivera, fracassaram. Dos projetados tracejados, apagaram, feito escritos na areia fina da praia, quais estes, ondas serenas vem e vão, abraçam e levam para o mar. Estado, catatônico, sem razão. A saúde estava aparentemente perfeita, nunca se sabe, por dentro estaria? Mas ao que parece, se respirar estar, não havia de se preocupar. A família também, todos ali respiravam, embora respirar nao é viver, em alguns termos de vista, dele. A família toda respirava, inclusive-o, somente não viviam.

Lembrou-se ainda, dos tempos de espinha, que não sofrera de certo, era tudo sem razão. Tardes iam, sem encontrar utilidade alguma, e parece que não mudou. Foi ontem, ultimamente, coisa de 15 anos atrás. Pra modernidade, isso é uma eternidade, pros moços jovens e acelerados de aí fora. Mas pra ele não, foi colado com o hoje e o amanhã. Sensação de fracasso, sim, de alguma melancolia por algo não feito, inexplicavel.

Foi mesmo uma grande promessa da família, um salvador, aquele escolhido, nascido para ser nome em Biografia. Passam-se anos, e quase nada se passou, na verdade apenas pairou. Ainda lembra do beija-flor, pairado no ar, avistado ainda no tempo de inocência. Vez ou outra, esteja ele aonde andar, lembra-se de tal cena.

Modo esse, um real símbolo, da inutilidade. Vontade de se matar, tem sim, só falta espírito empreendedor para isso. Não quer ver mãe e família, em trajes desgraçados pelo cometido. Então ele anda, finge viver, o alheio assim o cobra. Finge rir, finge ser.

Reinventou-se tantas vezes, quando deita, entrevista a si mesmo, até o sono pegar, faz-te de vilão, cientista, astro, mito - é o entrevistador, melhor que há. Tem amigos, dois apenas, que nunca se vê, encontram-se jamais. Tem inteligência, sabe-se lá para quê. Tem beleza que não adianta, serve não - o belo é só dele.

Assim se foi, vivido dentro de si, esquizofrênias ambulantes, reinos de grande majestades, fez-te assim, uma mentira qualquer; só ele soube saber.

Pablo Montevideu

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