domingo, junho 10, 2007

estórias

Dias desses aí, andando, pra onde sei lá quem sabe, uma conversa de dois homens me chamou a atenção. Parei e perguntei - é história ou estória essa dos senhores? Me olharam com sombrancelhas arqueadas, daquelas que só se vê assim em novela ou filme. Uma voz de lá dentro, falou - entre pra beber uma cerveja. Era um buteco, meio escuro, de bairro, vendaria de doces açucarados e cervejas para os homens gado. Entrei sim - não, me veja um suco de maracuja, estou um tanto nervoso hoje. O suco estava péssimo, feito de saquinho, sabe né, me encostei no balcão para continuar ouvir o que chamara minha atenção.

Dois homens na porta falavam sim, na verdade, o mais baixo, gordinho de bigode contava um causo, de alguém outro alguém. Um ninguém qualquer, parecia desconhecido ao gordinho de bigode, dado seu grau de intimidade ao contar a tal coisa ao outro homem - mais alto, de boné e sujo de tinta - pintor de paredes certamente.

O baixinho de bigode parecia cantar e não contar - melodiava feito repente, a tal estória -

Era homem só, de qualquer lugar
desses que se vê por cá e Lá
tinha mulher e filhos
tidos na época certa
menina moça esperta,
menino forte a beça
Deu de querer ser escritor,
passou a ler toda biblioteca,
no quarto ficava trancado
escrever, ler, escrever sem parar
acabou emudecido. Ora só
você que não me creia, mas o homem
esqueceu de falar, por um bom tanto tempo,
que de tal desatento
mudo passou, a ser sua condição.

Aí então, ralhei com eles, ali dois homens fechados em conversa, falando de alguém desconhecido, como se fosse conversa séria. O de bigode me olhou feio, como se falasse, não falou, pensou, talvez, na verdade eu imagino isso- acabou de chegar e já se intrometendo. Queria saber, porque alguém que lê e escreve, fica assim mudo do nada. O homem mais alto de boné abriu a boca grande, sem dentes - isso é pergunta?

Então desatei a dizer - já fui escritor de versos, leitor de poemas, e posso muito bem falar, vejam só, estou falando sim. E é claro, que o que fiz, foi apenas lhe perguntar. Assim, os dois homens com jeito de desentendidos me disseram: meu amigo, bendito seja teu suco de maracujá, pois, está a precisar. Mas o que conto é só uma estória.

Pois, era isso, de início, que perguntei, se era estória - e me olharam um tanto assustados. O de boné retrucou - sabe o que é isso, é nervoso de cidade grande, é muito cimento e concreto. O de bigode, apaziguou, dizendo - sou um contador de causos. Mas, mais vejam, eles se indagaram a mim - o senhor disse aí, dentre tantas faladeiras, que é escritor, leitor, mas e então.

E então, no dia que recuperei a voz, da rouquidão de alma doente, saí para pagar. E pagar o que??? - outro gritou de dentro do bar. Pagar a promessa que fizera.

Pablo Montevideu

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