quarta-feira, outubro 08, 2008

A Estética da Dúvida

Alguém matou o Czar. Sangue pra todo lado. Revolução vermelha. Erguem-se as fábricas. No chão cinza e áspero, calorento e desumano eles, homens sujos de gracha trabalham e não sabem o que lá em cima nas salas encarpetadas, homens do cérebro fazem tomando vodka gelada na fria Moscou revolucionária.

Obsecados pela máquina, gozam nas primeiras jeringonças masturbadoras. E depois escrevem noites inteiras, sobre o dinamismo e a objetividade das máquinas e o perfume entoteante do óleo que consomem. O construir é mais importante que o alegórico. A metafisica e o romance ficaram para o século anterior. O mercado é amaldiçoado, a máquina endeusada, rogam pragas aos comerciantes e capitalistas. O cinema tem de ser o vertoviano verdadeiro.

Sem emails ou iphones, viajam idéias por cartas e telegramas. Na Alemanha um russo que inspirou os soviéticos (a geopolítica é absurda) retorna de um passeio à terra natal cheio de não- idéias. Nasce o design funcional e extremamente simplista, nada de ornamentos - cultuar a frescura é antiquadro. Sem querer, os revolucionários, de Tatlin à Gabo deram um combustível fenomenal para a indústria e o consumo de massa.

Graças a isso, hoje milhões de carcaças falantes gastam seus créditos pessoais em lojas de departamento, pagam juros em prazos de anos, para comprar bugigangas eletrônicas nascidas na Bauhaus, no De Stjil holandês, no design alemão suiço, franco, belgo, inglês que está inserido nas capotas, lanternas e spoilers de nossos carrões turbinados de gasolina, responsável entre outros fatores pela crise que faz nossos líderes e ministros inteligentíssimos esticarem suas sombrancelhas e suspirarem com as quedas das bolsas e o medo da falência humana. De repente, tudo vai falir.

E isso porque não enfiei Duchamp no meio disso tudo. Inté.

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