quinta-feira, maio 10, 2007

estórias, insônias e letargias

Fico pensando pra lá do futuro, muito além de nós - gente de pele e osso, que pensa, que fala, age e vive. Fico pensando quando tudo isso não existir mais - o que serão as cidades?

Porque o homem com sua razão nos levou a todo fim. Ainda se fala da consciência, mas quem nega o seu próprio luxo, pelo mundo, pela existência ou futuro?

Chega de perguntas, não tenho como responder, pelo fato simples de estar intrincado nesse marasmo coletivo. Nem sou santo, pra defender os fortes e fracos, defesa pessoal jamais foi meu interesse, sou culpado tanto quanto vós.

Então pensei no que deixaremos para natureza arruinar pós nosso suspiro final, deitaremos em terra quente, pra nunca mais respirar. As cidades, meu ponto inicial. Imagino este planeta azul de continentes devastados num silêncio infernal. Veja só de Nova Iorque à São Paulo, térridas barulhentas, esqueléticas verticais com suas pontes, arranha-céus, viadutos transversais, curvas e retas de concreto duro que o tempo se encarregará de enterrar. E nas avenidas solitárias carros pairados séculos antes, inutilizados pela escassez de energia, culpado pelo qual, causa maior da fome e miséria.

Fileiras de carros, de marcas e modelos diversos apodrecendo, o ego ali depositado, o imaginário social, campanhas publicitárias, modelos internacionais, conceitos de vida, desejos, sonhos, filas - retas e silenciosas. Não há uma alma em toda vã filosofia para buzinar nessa terra sem gente, sem crente, sem alma.

Os apartamentos e janelas abertas, deixam o pó do fim do mundo contemporâneo entrar - alguém um milhão de anos antes esquecera a TV ligada, e não se sabe como ainda funciona - talvez a base de energia nuclear infinita que se refaz - a mesma que irradiou acidentalmente matando falanges humanas.

Cidades, vilas, estados, países, continentes, blocos políticos e comerciais, associações, siglas, redes, organizações, espaços projetados real e virtual, caberiam mil encarnações - tudo ficou, não levamos nada ao caixão. Imagino o planeta se reestruturando, oxigênio a vida recomeçando dos mares, dos anfíbios, répteis, dinossauros, e nossos esqueletos, uma espécie de pegadas e pinturas rupestres - mas não existirão arqueólogos ou geólogos para pesquisar - afinal, o que vem depois da humanidade é só carcaça.

Pablo Montevideu
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Todas as peças e ilustrações deste blog estão em - http://maulsoleu.multiply.com

3 comentários:

Anônimo disse...

Mudou o estilo. Agora em primeira pessoa, mas fácil de lhe entender cara. Ainda assim, não sei onde quer ir.

Anônimo disse...

Tu é um artista de vanguarda, coisa rara

Anônimo disse...

Essa imagem parece aquelas do arquivo - desaparecidos pela ditadura militar. Cê tá cada dia pior.