terça-feira, maio 15, 2007

estórias

Desde sempre foi diferente. Nunca entendeu a dinâmica das coisas, o porquê ir e vir, acordar, fazer, descer e subir. Queria que algo mudasse, rotina sistemática não agradava. Era desinteressante percorrer a mesma trilha, desgastante, chega a rasgar o chão de pedra.

Observa, anota tudo num caderno, ali tem os segredos do que vivenciou. Características comportamentais, padrões, modos, estilos. Chegou a tanto, ao cúmulo de contar quantas vezes olhavam-se ao espelho. A razão em tudo, percebeu, era o dinheiro.

Saiu-se, assim, pelos cantos, roubando todo dinheiro possível e imaginável. Nada comprava, nada gastava, nada se dava. Difícil entender lógica desse tipo, quem tem, quer gastar, mas não desejar acabar. O dinheiro é papel como outro qualquer, mas tem alma de felicidade, cheiro de alegria, compra-se sonhos, desejos, amor.

A jornada era grande, então sequer dormia, sonhava acordado com notas e moedas. Não era poder, era algo mais, inexplicável. Percorreria todo lugar que tivesse nas vistas, um carro forte, um cifrão, um porquinho de moedas - que desilusão.

O homem diferente, parecia ser um ancião, mesmo nas fraudas, um messias, torna-se-ia um ladrão? Rouba de ricos e pobres, de crianças aos velhos.

No decorrer, mal conseguia andar, carregar o fardo trilhonário nas costas. Ainda queria mais, como consegue respirar tamanha ganância. É um coitado, infeliz, desgraçado, pelo próprio horror, ambição, maldito seja.

Doente, enfermo, vagarosamente caminhou carregando seu vasto lucro até o cume da montanha. Queria ele, o mesmo dissera, ter conseguido todo dinheiro do mundo. Queria ele, o mesmo falara, roubar nota por nota, de cada carteira, algibeira, conta bancária.

Enfim, abriu os sacos, as trouxas, foi assim despejando todos os milhões de bilhões saqueados, ali mesmo, dentre o cume - cuspia-se fogo das entranhas, fogo ardente do inferno, queimava tudo, o dinheiro e o homem. A multidão chorava, em pânico - queimando nosso dinheiro, nossa vida, nossa riqueza de eras...é um lunático!

O louco, aquele que não entendia o fluxo da vida, desejou limpar do mundo toda sujeira, toda repugnância. Queria ele sim roubar o mal que se cometia. Queria ele, deixar o mundo pobre. Sem dinheiro, contudo vivo.


Pablo Montevideu

Um comentário:

Anônimo disse...

é vc, como salvador?