quinta-feira, maio 03, 2007

estórias

Coloca o disco e começa o tango tocar, com todas suas curvas, algumas perigosas, outras atrevidas, descidas e subidas, nada é retilíneo, austéro, sempre curvo, irregular. Pode ser isto que lhe chama atenção, faz com que a nostalgia de outrora brote em sua mente.

No deslizar do cello acompanhado do acordeon, imagens surgidas de uma fenda no tempo, repousam em banho-maria no seu presente dele, teus olhos brilharem, é algum tipo de mágia, eu pergunto, ele pensa na minha pergunta.

A imagem que o acompanha inexplicavelmente, de uma sala de estar, com a televisão ligada, luzes apagadas, toda casa numa penumbra, do quarto corre a brisa lenta e sedutora, quem avisa sua chegada são as cortinas. Pelo chão roupas deixadas ao destino, alguma coisa deve ter sido interrompido, devo dizer, outra coisa melhor começou, fruto do amor, da paixão, mesmo que sejam iguais, naquele instante eram uma coisa só. Se é que se pode chamar isso de coisa, tão sublime, não é frescura de escrevedor, eu juro.

Da cama tem-se a vista da janela, direto para rua detrás. Pode ser a rua da frente, independe do referencial, e tudo isso observado pela lua, flutuante na madrugada de nuvens daltônicas, se movimentam feito o tango que discorre a fotografia futura que esta noite vai ser revelada em preto e branco para todo sempre.

O disco acaba, a música se cala.

P.Montevideu

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