domingo, maio 27, 2007

estórias

Não sabe-se não, quando adentrou, caiu na vida. Cair todos estão caindo. Por aí, todo lado, alguém cai mas se levanta. Caiu na vida é expressão antiga, que minha mãe, a mãe dela, deveria falar daquela vizinha formosa que passara pela rua perfumada no orvalho, de atitude suspeita, que as carolas espreitadas sob vossas janelas curtem manhãs, tardes e noites.

Mulher dessas, deveria casar-se, falam uns que não deseja um marido, fugida do último, escolhido por pai e família, num arranjo de compadres. Basta, é coisa passada, não tem mais sentido nesse século novo. Tá explicado, vem tudo das bandas do interior, dos caipiras.

Mulher, que caiu na vida, caiu na cidade, na rede de tantos outros do que além de mim. O que não posso explicar, razão deste desabafo, não costumeiro, não é nada pessoal, mas que fazer se travado sempre fui, culpa esta de minha peculiar criação, dos mimos, dos cercos que me acarretou, todos, mas custo a falar; é preciso dizer, estou fazendo força demasiada a não desistir.

Falava anteriormente, porque causa, ela não se esvaiu de minha cabeça. Fui, paguei, ela fez o que fora combinado. Agora, aquilo tudo pra ela, serviço, paga quem quer, ela faz, sem encantos - não via nos teus olhos dela, nenhum chamariz de prazer, de gosto, uma alma vaga, de absurda inexistência. Perdi dinheiro, queria prazer, acho que além do mais, queria mais.

O que vi, nessa rapariga - nem sei porque chamá-la assim, fruto de conversas com o português recém chegado na firma. Odeio a rotina de lá, digo do trabalho, e disto foi todo o começo dessa história minha. Ausência de algo, uma repetição sensata das coisas, segurança, equilíbrio, sempre foi assim. Foi disto que me levou, andar por cantos da cidade, cruzando dentre os mais pobres, excluídos, gente como eu, mas suja, não de alma, nem moral, suja mesmo, encardida, por falta de esmero, nosso, da péssima precária vida. Andei por lugares, mamãe jamais pensaria nisto - se viva estivesse. Enquanto andava pensava nela, o que faria se me visse num reduto de tal categoria. Baixíssima, de gente como ela, minha mãe, mãe também é gente, mas maltrapilhos, drogados, prostitutas de todo canto desse país. Ela não poderia pensar, naquele derradeiro da minha vida, cansei-me de todo equilíbrio vivido, por descobrimento, da minha falta de escrúpulos, num algum dado momento. Trocaria a boa conduta, por lugares tão cheio de calafrios.

A noite seria terminada numa cama velha com pulgas de um qualquer quarto de espelunca velha e barata daqueles fundos da metrópole, escondidos atrás de gigantes placas de anúncios, propositalmente distribuídos à ofuscar todo lixo produzido pela humana raça.

Foi-se, assim, mesmo, como eu disse. Terminou, de novo, não consegui livrar-me dos fantasmas. Todos eles, de caras e bocas familiares ou não.

Pablo Montevideu

Um comentário:

Anônimo disse...

AS vezes acho que são todos contos sobre ti, as vezes acho que não, duvidas, duvidas, duvidas. Vc só me trouxe duvidas, faz o que, 2 anos já? Mesmo assim, vc é premio Nobel em pessoa ;-)