terça-feira, março 25, 2008

201


"O que será que me faz pensar, que se pode ser feliz sem chorar, e tomar esses remédios sem contas a prestar, sem dores no peito não atiçar, ou se envergonhar, de não ter amigos o bastante, num mundo que tantos odeiam a solidão – eu a amo.
Pois aqui desse sofá, vendo minhas sombras em alquimia, pela luz de fora, me entregam minha carta de alforria, na penumbra eu posso sentir meus olhos úmidos, a visão embaçada, daltônica, turva, está vindo, vagarosamente, esperei por mais de uma década – finalmente vou poder chorar, quero chorar minha tristeza e melancolia. Quero derramar-me em lágrimas e dançar um tango, que seja sempre o último, mesmo que o Sol renasça amanha".
Trecho final de um conto que escrevi - o relato final de Maria, uma moça/mulher de 30 anos entre síndrome do pânico, seu apartamento, uma garrafa de vinho, um disco de tango, no fim de sua festa de aniversário de 15 anos - é tudo estranho?! Na imagem, uma arte simplória com uma frase de Chico Buarque (que adoro)
E esse foi o Post 201...
Au revoir a tout le monde

Um comentário:

Anônimo disse...

Você escreve lindamente. E sua imagem lembrou-me do por do sol na Praça do Relógio, na USP, na década de 80, com o esqueleto do CRUSP abandonado atrás, coberto de pixações... Tão sombrio... Mas tão maravilhoso... Últimos vestígios de uma década cinza...