
Do ambiente, nossas cidades, emergem uns bilhões de sinais e estímulos, a ponto de tornar a vida urbana insuportável. E quando saímos desse inferno nos sentimos desnudados ou enjaulados - a caótica vida nas metrópoles é um seio materno que aconchega o vazio das pessoas - cada vez mais carentes de algum sentimento. Estão solitárias, mesmo estando dentro de seus grupos de muitos, gritando gírias e fazendo gestos idêntico - uns com outros e aos outros. Nesse emaranhado de sinais e mensagens (coisa já dita e redita) ainda se precisa encontrar parceiros, amores, paixões, procriar e envelhecer feliz.
Impossível. Tudo isso numa só vida é falsesco. O fakealismo é que remonta a vida. Pensa-se ou imagina-se ter essas coisas ao longo da vida. Feliz dos poucos que conseguem, na serenidade de suas condutas não atropelar e depois contabilizar mortos. Penso nos mais antigos e geniais - penso em Guimarães Rosa (serenidade de um Rio São Francisco), penso em Sartre, Simone, Camus (serenidade e ativismo com liberdade de ser e fazer), penso numa Lispector, enfim. E eles não foram felizes - é o que nos ficou, porque não se fecharam em vidraças - e não existe só felicidade plena (o carpe diem) que nossa atualidade vende nas mídias diversas em forma de frases feitas pela internet - e os leigos juvenis (sem qualquer repértório melhor) repetem feito papagaios. O ser humano, como no filme - Ilha das Flores, com seu polegar e encéfalo desenvolvido se tornou papagaios e maitacas - ou neanderthais melhorados. E já há quem desistiu - de sofrer e se rendeu ao sorriso bobo do carpe diem. Até mesmo o intelecto cansa, chega num dado momento que o desânimo sucumbe (não meu caso) e o corpo já evolui tal sensação.
Porque todo esse discurso amargurado???? - não sei dizer. Nas minhas poucas andanças nesse planeta tangível, quando deixo "my house on Mars" e penetro na sociedade, perambulo pelo mundo mundano, respiros e suspiros o cotidiano e popularesco - fico ressentido porque não me sinto mais pertencente a ELES. Como não ter mais um lugar (recanto) por aqui, como aquela visita que não se sente a vontade no sofá da anfitriã. É triste, é sinal de derrota, me sinto assim, fracassado - como gente de carne e osso. Pena não ter a cortina do teatro pra acabar com esse infeliz espetáculo. E quando li - O Estrangeiro - Mersault, o personagem que camus descreveu tão bem e Sartre viu nele a materialização do próprio existencialista (será) eu me enxerguei nuns traços de "Mersault" e não gostei disso - fiquei chocado por mim.
Então escrevi - "Lá fora chove" e recriei a mim e o próprio Mersault de Camus (humildimente) num outro personagem que não indiquei nome algum - ele é o próprio Estrangeiro - mas com algo de melhor e que faz e se mostra melhor - algo que eu gostaria de ser aqui na superfície, mas não fui (nem pela ficção), estando a ação da literatura (como reparadora) no caso - também fracassado por mim. Bom, se um dia sair esse livreto, quem viver lerá...
(se ainda houver público - cada vez mais gente escrevendo pra outros escritores lerem). Hoje termino sem clímax ou conclusão na linguagem (termina assim de forma interminada)...Inté.
Nenhum comentário:
Postar um comentário