domingo, abril 13, 2008

estórias (versão 2008)

Acordou. Com gosto de sangue na boca, sabido que era sangue porque quando criança após um ferimento lambeu o sangue que escorreu de seus joelhos, lembrou-se disso no exato instante - havia em torno mato, muito mato, um matagal de mais de metro de altura. Havia sido surrado, não se lembrava de nada, mas pelas dores no corpo, quase não deixava firmar pés e pernas, só poderia ter sido socos e pontapés - rastejou feito um quadrúpede velho, comendo terra, parecia que o lugar não tinha fim, dado o capinzão cobrindo-lhe o horizonte, só dele, eis que usando de urros, findou-se em pé; por míseros segundos. Era o suficiente para ver que lá no fundo parecia ter uma muralha. Então, manido de esperança de compreender o acontecido e deixar aquele lugar rastejou com mais agilidade - deveria ser meio-dia, o sol queimava a testa enganando a visão. Calor insuportável, as roupas grudavam com o suor no corpo - tudo estava calejado. E com sacrifício redobrado alcançou a muralha aquecida pelo verão - mas não havia porta. Apoiando as costas na muralha ergueu-se, e de pé pode pela primeira vez ter um panorama da situação. Estava cercado por um quadrado feito de concreto, um terreno baldio aquadradado, com mato crescido acima dos joelhos, sem porta de saída ou entrada - sobre o concreto uma massa fina pintada com uma tinta oleosa. E ficou a pensar, se não havia porta de saída ou entrada - como se encontrava lá - depois disso sentou-se resignado. O motivo agora não era sair, mas o entrar. Ficou ali, pensando, morrendo, pensando morrendo. Sucessivamente.

PS - Em 2007 escrevi contos e estórias. Neste mesmo espaço. Estão no arquivo. Houve um sujeito de uma editora que quis publicar - mas não houve verba pra esse trabalho - bom, não insisti muito - o desânimo ou a falta de vontade de publicar me impediram de correr atrás disso - não tenho vocação de puta realmente. E agora, retorno escrevendo esse micro-conto diretamente no blog. É claro, tenho centenas de outros, mas estes são apenas do blog. É isso...

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