sábado, abril 26, 2008

lá fora faz sol (de outono)


Lá fora faz sol (em oposição ao livro que escrevi Lá fora chove). Mas aqui dentro de mim parece sempre turvo e chuvoso. Não sou algum tipo de gótico que ama dias nublados e chuvosos, ao contrário gosto de sentir o sol me abraçando - o sol do outono. No outono o sol é delicado e acalentador. Diferente do Verão, uma brasa em raios, queima e arde - engana a visão, impede a poesia, desnuda os corpos, até mesmo as mentiras e os sorrisos - mas afinal o que seria dessa vida se tudo fosse verdades concretas. O que seria de nós, se não houvesse o abstrato, o ilusório. Eu sou ilusão - há quem saiba disso na pele e na memória - sou amor lírico iludido. Por isso o sol do outono me fascina, porque é ilusão, é mentira, ele não desnuda, porque sempre tem um vento frio lhe acompanhando e depois, ao cair da noite, a temperatura despenca, uma gangorra de sensações - euforias e angústias, tudo num só tempo. O sol do outono, não dá vertigens de realidade, mas uma aquarela em tela de sonhos, lembranças, o sol do outono nos abraça e jamais nos empurra para as sombras. Eu sou um alguém sombrio, sem coerências, sem destino, sem responsabilidades, sem amor vivo, sem razões, sem vida. Mas talvez seja o único a se deixar deleitar pelo tempo da vida - coisa que a humanidade esqueceu. Atrevido não?!
(continuo em desvantagem com a vida - quem sabe algum dia)

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