domingo, dezembro 30, 2007
sábado, dezembro 29, 2007
quinta-feira, dezembro 27, 2007
domingo, dezembro 23, 2007
sábado, dezembro 22, 2007
Tenho trabalhado com cinema, no atual momento dois roteiros pra dois curtas pra dois projetos diferentes, que não cabe explicar - detesto me publicitar. E hoje, agora, se bem que faz alguns dias, penso no quanto é DESCABIDO a atividade cinematográfica. Leve um leigo pra assistir por trás das cameras a execução de um filme, num estúdio ou externo e depois lhe pergunte o que achou - ele vai dizer o certo: odiou.
Estar dentro de uma produção seja como o diretor, ou ator, ou maquinista é as vezes pensar - que diabo vai dar essas cenas. Parece que nada ali dará num bom filme. Aí depois vem o montador assistindo as cenas brutas ao lado do diretor, e diz - isso dá um baita filme. Tudo porque na edição (montagem) acontece os milagres e finalmente a estória nasce.
Ao ver SANTIAGO, de João Moreira Salles, essa dúvida filosófica me pairou. Angustiado, quase desisti de tudo. Quase parei meus cursos de direção de Arte, direçao de cena, enfim, quase surtei e disse pra mim mesmo; isso não é arte é um ABSURDO. A relação do cinema com o teatro é também intrigadora. Pra Beckett provavelmente não teria diferença. Duvido ele seguir manuais de direção de cinema. Mas ele foi o HOMEM...
Em Santiago, do JMS, é preciso assistir - embora seja um filme sem apelo algum - é um Doc. irreal, uma ficção abstrata - um filme esquecido por 13 anos, refeito depois, que se configurou na explanação do filme sobre o filme - compliquei - pois é preciso ver. Isso se um dia alguém conseguir encontra-lo pra assistir, porque não é filme de ver em cinema, apenas em festival. Jean claude Bernadet explicou bem melhor que eu essa película instigante de Moreira Salles - que o próprio pensou mil vezes se devia ou não exibir.
O fato é que hoje tenho vontade de largar tudo. Não me anima pensar que o cinema é irreal e o que vale mesmo é a edição. Ainda assim, com toda mentira - Alex por Malcom MacDowell é meu vilão arruaceiro cyber punk preferido e senhor Kubrick é genial.
sexta-feira, dezembro 21, 2007
Saudades dos tempos da "não razão". Hoje vivo uma paz insuportável, um tormento na mente, um desassossego martelando o coração - maldita fantasma. Faz-me conviver com uma bala perdida alojada nos miolos.
É horrível...
segunda-feira, dezembro 17, 2007
quinta-feira, dezembro 13, 2007
Ensaios Históricos - Camille - o fim.

Passaram-se 30 anos, por Deus meu caro Renard. Estivemos tentando vê-la esses anos todos, contudo, apenas os gritos solitários nos alcançou. Realmente não entendo o abandono que a família Claudel impós a ela. Ainda se teme o peso da sociedade - é sempre isso, o sangue, o maldito nome herdado, que se preza mais que a vida. Deixaram-na entre paredes frias e mudas, ela conversando com sua sombra, sem trabalhar, sem viver.
Rodin é um pobre diabo que finge ser social, mas todos sabem que existe naquele maldito asilo - aprisionado um pesadelo, somente dele, que lhe rasga a alma, de remorsos doloridos. Eu bem sei, que ele evita passar diante do estúdio, onde ela superou o mestre e abriu portas para outras que virão ainda neste século.
E tudo que ela sempre quis foi deitar-se diante do muro frio de Rodin, jamais derrubá-lo. Ela amava aquele concreto, e não trouxe consigo exércitos para transpor. Ela simplesmente se ajoelhou, recostou sua cabeça na pedra gélida, mas ainda assim, foi abandonada. Ela se arrasou...
E arrasados somos pela covardia nazista devastando tudo, nossas defesas mentais já amargam uma derrota - qual sentido devemos tomar daqui por diante? Me lembro meu caro, da época da razão, atravessamos muitas décadas, pra chegar até a destruição em massa - ser feliz é indigno e ultrajante. E ser artista é uma infantilidade. Quem deseja ver Monalisa no Louvre - somente os nazzi, a mando do Diabo. Eles querem levar toda renascença e fazer uma nova Roma, esquecem que lá no asilo dos loucos - alguém grita em prantos todo o amor para as sombras. Não somos melhores por nossa Resistência em Paris, nas trincheiras pra resguardar nossas avenidas.
Enquanto as bombas caem - ela morre desconhecida e sem valor algum. A arte nesse presente momento é ineficaz e sua existência morreu, junto as milhares de cabeças que apodrecem nos campos europeus. E Camille precedeu esse capítulo já em 1906, quando surtou-se contra si mesma, ou seja, todas suas criações pagãs, suas estátuas, belíssimas, de curvas verdadeiras, muito mais que o calor e o arrepiar da pele. Ela destruiu tudo, porque pressentia isso. Não precisamos mais de galerias e museus, nem de quadros ou esculturas. Sobraram apenas escombros, estamos entre eles - Camille foi enterrada hoje amigo Renard 1943 - os alemães continuam bombardeando nossas cabeças, mas puseram-na numa vala bem funda, porque ninguém sabia quem era aquela franzina e decandente "jovem velha jovem". Abandonada pelo amor dos homens e do ventre.
Carta imaginária de Mallarmé para Jules Renard
Nota - Eu termino essa insolente tentativa ensaísta, com remorsos pessoais que se confudem com Camille e sua vida atribulada que hoje nos dá passagem para viver também o sofrimento. Infelizmente nossa contemporaneidade encontrou uma vazão para os infortúnios da alma, na alienação dos sentimentos. Antes era a razão que se opunha à existência plena da felicidade e da melancolia - agora é o consumismo do Carpe diem.
segunda-feira, dezembro 10, 2007
Ensaios - o porquê deles?
sábado, dezembro 08, 2007
quinta-feira, dezembro 06, 2007
Ensaios Históricos - Kafka por Felice Bauer

Teus medos não foram os meus. Jamais entendi o temor que lhe afringia em relação a vida conjugal. Teus escritos denunciam uma amargura, um conformismo exato, nem mesmo a metamorfose pode derrubar as muralhas da letargia que li denunciadas em contos que escrevestes. E tuas cartas - sempre uma fuga da realidade para viver o inexistente solitariamente.
Talvez seja por isso, jamais, você nunca antes se atreveu a conceder e dar-me seu cotidiano. Kafka para mim já me foi um ser egoísta, outras vezes, um covarde. Mas isso, foram significados em momentos de raiva e desgostos, pequenos fragmentos derradeiros que nenhuma mulher pode controlar. Logo recuperei a serenidade para depois lhe entender.
Dessa sua necessidade de solidão, que levou teus personagens a jamais lutar contra qualquer situação equivocada, um realismo literário de pouca estima - deixa a impressão que o mundo é imutável - é portanto uma incoerência com seu principal título - A Metamorfose. Não precisou dizer-me que Gregor era seu alter ego em relação a seu pai e muitas vezes pude me ver na pele de outros personagens que criastes para se auto biografar em terceira pessoa, vazando assim sua personalidade atormentada.
Minha condição de mulher relutou contra muito disso. Passamos a vida, entre cartas, e não pude lhe conhecer na indócil presença da rotina. Não tivera eu, chance nenhuma, de viver entre paredes de um lar, assim, desculpe-me, você matou meus sonhos; coisas simplórias, pra tantos homens célebres, mas que para mulheres, mesmo as imponentes e intelectuais ainda se faz tão necessário. Elas até podem esconder, como fizera eu mesma, camuflar na pele do dia a dia, no lirismo da noite, mas todas desejam a sensação do bem estar de um lar doce lar.
terça-feira, novembro 27, 2007
quinta-feira, novembro 22, 2007
Ensaios Históricos - Beckett e Thomas

Eu queria ser uma mosca e passar por ali, mas pela postura becketiana me parece ser uma sabatina. Feito todas as vezes que me imaginei tomando um café na fazenda de Riobaldo conversando com Guimarães. Ah, não vamos misturar as biografias - são todos mestres. 1984, foi-me prudente essa viagem, mesmo sendo onírica. Esse ano tem cheiro de fim de partida (endgame Mr. Beckett - no dice).
Antes que partam vou tirar uma fotografia, sim, preciso reguardar isso pra daqui uns 20 anos escrever memórias de um desmemoriado.
quarta-feira, novembro 14, 2007
Ensaios Históricos - Simone de Beauvoir

Qual o sabor da derrota?
sábado, novembro 10, 2007
Uma idéia na cabeça, uma arma na mão

sexta-feira, novembro 09, 2007
quarta-feira, novembro 07, 2007

quinta-feira, novembro 01, 2007
Bacanal do fim do mundo
domingo, outubro 28, 2007

sábado, outubro 27, 2007
Resmungos
se for pra resmungar que faça
algo inovador
falar do tempo da inocência
qualquer poeta já o poetizou,
é normal que com tempo,
e tempo se vai a Era do ímpeto,
do amor fácil, da crença
e do entusiasmo
isso é o natural, é da vida,
já vistes algum idoso
olhar a Lua ou o pôr-do-sol
com esperança - nem responda,
é tudo pergunta retórica,
eu me canso dessa ciranda,
estou desde criança cir[andando]
que doi, que tonteia
a alma.
sexta-feira, outubro 19, 2007
Harakiri

Como disse estou cansado do mundo e de mim. Cansado das pessoas, das mulheres, como descrito abaixo, cansado de mim e desses "nuances" emblemáticos que me compus durante os anos. Cansado do meu humor duvidoso, das minhas poesias "geniais" e banais, cansado do meu ar de desprezo pela vida e da vida em desprezo pela razão. Cansado da mesmice e de todos que fazem o jogo, cansado de jogar contra a mesmice e ser dela um filho rebelde.
Cansado de ser, de Ser, e não ser, nada, além de uma matéria idiota. E antes que esse texto esteja com jeitão intelecutalizado, resmunguento, devo parar e dizer. Ando pensando tanto, mais tanto em largar tudo e me alojar num templo budista. Tem um em Cotia, lindíssimo, gigante e com belos jardins. Mas minha cabeça não para de pensar, de atormentar-se, e lembrarei que não concordo com muitos dos preceitos budistas. Estaria então mentindo pra mim mesmo ou apenas com segundas intenções, para ter um teto para morar no meu futuro arruinado.
quarta-feira, outubro 17, 2007
Casanova no século XXI (coitado)
Em se comparando os mundos que separam, uns 300 anos, creio que senhor Casanova teria um grande desencanto. Talvez pela própria evolução humana, mas principalmente pelos rumos que as mulheres trilharam. Elas se tornaram tão banais quanto os homens. Elas que sempre tiveram maior sensibilidade e percepção, sofisticação, e foram a ponta do iceberg, quem sabe, a esperança - sucumbiram.
Hoje, não mais, se deixaram enredar pela banalidade e insensibilidade. A revolução sexual que foi conquista, também foi o túmulo feminino. Não há mais nada de especial, não há intelectualidade (o que é incoerente porque são elas que estudam mais), prova que se graduar não significa necessariamente ter conhecimento. Não há sensualidade, porque optam pela mesmice do Ser, pelo emburrecimento, pela soberba modernética, pela imbecilidade dos atos, pelo comum. O bom é ser diferente, é ser incomum (isso já virou clichê pop no orkut)
Antes as mulheres eram subjulgadas, isso no tempo da guilhotina, mas se refugiavam no conhecimento de livros, das poesias, do lirismo, eram as musas de poetas, quando também escondidas no "gineceu" escreviam suas poesias, contos, romances, tocavam flauta, piano, balet, enfim.
Hoje poeta morre de fome, porque não há musas, nem sereias. O mundo está mais pra uma confraria das Bruxas.
sexta-feira, outubro 12, 2007
Resmungos (passado e presente)
Um vento que beija a mão
A violeta que perfuma o ego
pinta e borra nublando a alma
Nada vai mudar...Os sapatos continuam no mesmo lugar
Silêncio dos passos únicos
Incertezas dos gestos
Eternos indos e vindos "
"ele sabe do meu alfabeto,
esse mesmo que não existe,
enquanto invento verbos e estados pra ser.
Eu curiosa enquanto convenciono :. o amo." [fragmentos dela]
Já não tenho ânsia pela vida plena, sinto tua falta, tua insônia culta, divagadora, ameaçadora, tu deixastes em mim tua sementinha, tão inocente, foi-se viver a vida alegre, abstraindo imagens nossas, parou até de poetizar o amor, fechou-te os olhos cintilantes, agora és rainha do lar doutro alguém distante, mas tua obra não ficou ao esmo dos ventos que nos enchem o canto dos olhos de areinha fina, lacrimejando nossas faces, esfumaçando a maquiagem das moças que se enfeitam em fim de tarde para sair e bailar.
Não meu caso, meu jeito, eu não me cuido, sem pouco algum esmero por mim, escrevo essas parcas e abutres palavras sem esperar que leias, eu bem sei, trocamos de vida, tu fostes ter o Viver e eu o Morrer.
Sou a decepção dos deuses, porque não quero viver, isso pra um Deus é um enorme desgosto. Em todo canto, clamam, gritam, choram, prantos de dor e esperança, por mais vida. Mais tempo, mais coisas, curvas, retas, subidas e decidas. Eles não se cansam - cansam nunquinha mesmo? Eu estou tão exausto, que os pensamentos entraram em greve, deixando apenas os emergenciais de plantão. Um deus não pode aceitar, que o súdito de sua divindade escolha não viver. Isso lhe cabe divinamente decidir, mas eu sempre estou pela beirada da normalidade, não é mesmo, do avesso, e decido por mim, por nós, como fiz, feito, fizera, está tudo aí, você poderia me agradecer, com um verso, pelo bem que te deixei conhecer.
A vingança dos deuses é me dar muita vida. Saúde plena, intacta, surreal, a juventude, a pele lisa, caramelizada, com o bâlsamo excêntrico do Universo, deixando a senhora gélida Morte bem distante de meus olhos, meu reino, meu lar, meu céu e mar. E o castigo ainda vem com mais força, porque mantém minha mente em vã possibilidade, infinitamente funcionando, lembro de tudo, de você é claro, consciência a varrer desertos, o castigo é lembrar por demais, é ter a Razão, a emoção, e olhar pro meu redor e nada sentir, não há palavras a descrevê-los, nada excita ou emerge com vontade; é só um desânimo que dá, machuca, ninguém parece bem ou bom, bastante, para tirar-me disso, não há charme, cumplicidade, sintonia, o vento não me leva, não deixo levar, não há querer, não quero, não vou, vou? Não.
Então eu suspiro com o vento contra minha boca.
E eu me arrependo.
Me envergonho de mim.
terça-feira, outubro 09, 2007
domingo, outubro 07, 2007
sexta-feira, outubro 05, 2007
Resmungos
o ar é frio
a paisagem daltônica
as mãos transpiram
o sangue paralisa
as vozes se (re)criam
o céu se envergonha
o coração (é só um músculo)
a boca resseca
os significados esvaziam
a lua, é só o que parece ser
o concreto duela com abstrato
as poesias; inúteis
os ditados faliram-se
provérbios, todos esquecidos
a fome, cala-se
a boca não enxerga mais
os olhos me comem
ouvidos, cabelos, nariz, estão ali e lá
sonhos, eu durmo
noite, acordo
insônia, eu bocejo
na cama, me revigoro
no chuveiro, choro de mentirinha
no vento, expiro
e no contar dos minutos
desisto.
[todo dia é dia de morrer-me]
segunda-feira, outubro 01, 2007
Abismo final
sexta-feira, setembro 28, 2007
Um pequeno Conto e um recado

E eu estou indo a fundo, descendo a ladeira de pedras, descalço, esfolando os pés no chão duro e resistente. Vou escrevendo minhas lamentações, meus desassossegos - que chateação. Eu vivo as melancolias plenamente. Leitores ou fantamas, estou quase terminando meu livro - um monólogo chamado "Nada mais que a verdade". E desenfreado que sou, entre minhas revisões gramaticais perfeccionistas já escrevo outro monólogo - "Além de mim, ninguém". E megalomaniaco que sou, penso noutro livro/monólogo, que será chamado de "Perto do fim". E por finalmente, terminarei minha saga de monólogos infindáveis. Se publicar, não sei, poderão ler. Não há garantias, ser escritor é ser como uma pedra no caminho ou se tropeça ou fica ali até virar pó. E depois disso talvez eu me exile no templo budista de Cotia ou matarei-me finalmente.
Ilustração - Pablo Montevideu
quarta-feira, setembro 26, 2007
Estórias
terça-feira, setembro 25, 2007
HP e MTV for a new notebook limited collection

domingo, setembro 23, 2007
resignado
sexta-feira, setembro 21, 2007
Estórias
terça-feira, setembro 18, 2007
Muros sempre se quebram
intransponível, gélido e "burro"
partiu-se ruindo toda dor
em muitos pedaços estilhaços de lágrimas.
E só restam os entulhos.
E quando sobra apenas escombros de nostalgias
e tão abaixo deles, não se pode respirar,
sufoca, sufocando, sufocante,
ninguém aparece,
nem o Resgate
é sinal da Morte
"lhe," "me," fazendo uma visita. (Maurício Filho)
sábado, setembro 15, 2007
Shouting...

quarta-feira, agosto 29, 2007
in[San]os

Minha In[San]idade mais bela e verdadeira.
domingo, agosto 26, 2007
"All that days"

"That days"
segunda-feira, agosto 20, 2007
contos pra boi dormir
domingo, agosto 19, 2007

Não sei pra que fiz essa coisa aí. Uma ilustração que talvez, inconscientemente representa a atualidade; um nada, sem razão, de valores inexistentes, de carcaças falantes, um conjunto de cópias sobrepostas, colagens de outras colagens, conteúdo insípido, com fins lucrativos. Em todo caso, está aí.
Já não sei mais como me auto assinar, meus alter-egos já não me representam nada.
sexta-feira, agosto 17, 2007
contos pra boi dormir
quarta-feira, agosto 15, 2007
Reis ou Rainha, todos são Mentira

domingo, agosto 12, 2007
Ano UM (despercebido) Um ano de Blog
Mini-conto
sexta-feira, agosto 10, 2007
Mini-conto
quarta-feira, agosto 08, 2007
Mini-conto
terça-feira, agosto 07, 2007
Mini-conto
segunda-feira, agosto 06, 2007
Mini-conto
quinta-feira, julho 26, 2007
Fatos - férias da vida

sábado, julho 21, 2007
No estories

quarta-feira, julho 18, 2007
Estórias
Eles acalorados pela situação evidente, situação tal, faz com que todos permaneçam de um lado, julgam-me incapaz de sensibilizar. Mas que há de errado em ser o defensor do lado ´feio, do mal, do criminoso, do forjador, do algoz ou representante da dor. Alguém terá de ser.
Quando a sociedade, e o poder que a faz, assim pedem a condenação, meu trabalho é perdido. Os valores morais e a necessária punição vencem. Eu cumpro meu papel social, cabido a mim, quando ao lançar-me nessa jornada. Confesso as vezes, torço contra mim, por minha derrota, na verdade, outro de mim; temos tantos personagens vivos e sobrepostos, não é mesmo?!
Se eu perder, não é derrota completa, minha felicidade é inerente a vitória ou não. De qualquer forma eu recebo, ou pelo Estado ou pelo réu. De modo algum sou relapso, nem contra as maiores adversidades, sou do possível e impossível, vou até o fim. Enceno o máximo e busco nas brechas a pena mais justa, interpretando o livro negro de uma forma, vamos dizer, pouco ortodoxa.
Sou advogado, meu último cliente matou trinta e cinco pessoas, em série, depois picotou todas e as cozinhou, para jantá-las. Mas a lei exige um defensor. Ele não tinha chances, nem ao pedir clemência. E quer saber; mereceu a cadeira elétrica. Quem disse que preciso crer na inocência.
domingo, julho 08, 2007
Estórias - Retratos de Outrora
Do jeito dele, foi-se indo, deu o que lhe conhecia desses sentimentos. Vai ver, não acreditava em coisas do coração; sujeito pensava, que era órgão de bombear sangue e o resto culpa era do cérebro, maquinário complexo no topo responsável por erros deles. O amor não era coração, era amor cerebral, do dele sim - do dela não. Pagou-se o preço
Mesmo na incoêrencia, foram-se, vivendo felizes, plenos. Uma coisa poética mesmo, dois corpos, tocavam-se em si, poesias parnasianas, simbólicas, modernas, concretas. A sensualidade deles, não estava apenas no carnal. Era o dom, da cumplicidade e intelectualidade discorrida madrugadas dentro, acalentados por uma brisa, sempre disposta a refrescá-los na noite quente.Sufientes.
Quando o frio pregava sua peça, eram os corpos, em extase, suficientes em si, lhes oferecendo calor, para outra noite a mais. Tudo terminava, quando ele deixava um tanto antes do Sol nascer por total. Nas janelas o orvalho dos deuses ou o hálito dos amantes, dúvida, indecifrável. A porta se batia, o elevador esperava atento, como fossem eles reis. Ela ainda em transe, andava semi nua, pisando em ovos, ressentida pela partida. Tudo era lindo, mas de repente, esfriava. Sentia frio, mas não queria agasalho, precisava demais, um abraço - insufientes.
De certo, sabia, de sua necessidade do sofrer. Deixar a realidade para lá e por uma vez na vida viver o lirismo dos livros amarelados, escritos em línguas de pronúncia delicada. Isso era um sonho, um despertar eterno. Ela se banhava nas águas da manhã, já pensando no próximo encontro com o mago, seu bruxo, seu crime, seu fim. E chorava, a felicidade, a dor, depois escrevia tudo em papel de carta, dobrava e colava um selo. Depositava na janela, esperando o bem-te-vi levasse a mensagem para longe, com intuito de oferecer para alguém distante um pouco de seu amor benevolente.
Ainda, não tarde, pendurava no varal seu, dela, retratos em preto e branco de seu amor maior. Ela amava com os rins, além do coração. Nesses fragmentos ao vento, trechos de poemas ilustrados. O vento dialogava junto a brisa da noite. Esta falava ao vento, o quanto amavam-se. O vento dizia, ele nem tanto. A brisa testemunha ocular, replicava zangada, e dizia, não traga chuva, vai borrar as fotografias. O vento indisciplinado, rancoroso e irado, ventava para ela, uma chuva forte.
Apagava assim cenas de um sonho, dentro do sonho, eterno. Essa chuva, derramava-se dos olhos dela, da amante, da amada, sabida ela, do fim. Hoje, uma é felicidade, outro é nostalgia.
quarta-feira, julho 04, 2007
Estórias
Homem da rua, a rua é sua vida, não tem outra, desconhece novidades, mas pense bem, a vida nas calçadas e praças, dia e noite sem parar é demais por movimentada. Pode não ser sofisticado, mas marasmo não se tem. Essa é minha opinião, vai saber o que o Zé pensa. Mas quem conhece apenas uma realidade, não pensa noutra não. O Zé carrega consigo, uma carroça velha de madeira que vive emperrando em subida e desce a toda nas ladeiras, o que causa acidentes. Em sua traseira seus fiéis filhos, quatro vira-latas, cuidadosamente alimentados por ele. Nessa carroça carrega o lixo que não é lixo. Aquilo que lhe sustenta com o pouco, que a sociedade lhe dá. Ora, a quem a sociedade deve, senão à si própria. Mesmo nas adversidades, comida não falta aos vira-latas, nem que pra isso aperte-se a fome.
Em sua idas e vindas, dentre avenidas e alamedas, conheceu os cem Sóis, daqueles do meio dia às seis da tarde. Sujeito como ele, vindo do interior, ainda ao passar por qualquer igreja faz o nome do pai, do filho e do espírito santo. De tanto andar esqueceu a oração, mas pensa em Deus e pra ele é o que vale. São tantos anos, perdera a privacidade ao dormir em praças com os cães. Sente-se um tanto animalesco, irracional. Se bem pensar, olhar, analisar, as barbas grisalhas e compridas, o rosto preto queimado do Sol, o mal cheiro, as unhas gastas de raspar o asfalto quente e os pés cortados nas botinas velhas, dá um aspecto selvagem, como fizera o caminho inverso da evolução - Involução.
E nesse safari de savanas solitárias dentre os milhões, de outros além, invisíveis a sua jornada, Zé esquecera, que um dia fora humano, dono de rotina, família, mas que de agora por diante, tens única missão de alimentar os cães. O que ele não fizera, foi algo prometido ainda criança, de rezar uma missa, pra sua mãe morta, promessa ao santo - que o tempo esqueceu e a bebida salientou.
E na noite de quarta passada, dentre fogos de artifícios estourados num canto qualquer das esquelotasas torres verticais de concreto, alguém saudara a felicidade, Zé enterrava solenemente a morte de um de teus filhos, dele, aos 20 anos morto - era um mestiço de labrador. Clamou a natureza, ele Zé Galopeiro, o porquê dos cães viverem tão menos que gente.
sábado, junho 30, 2007
Lá fora chovem
Era o que gritava o poeta de rua, homem barbado, grisalho, escuro, não de nascença, mas de queimado do Sol, por vivência das ruas, perambulador de estradas, curvas, o Sol do meio-dia, das quinze horas, do fim de tarde. Cada qual, cada Sol, tem seu valor e sua queimadura. Na face dele, as marcas desses anos todos.
O homem passa teus dias, assim, dessa forma, andarilhando frases arritmadas, sem nexo. Passa-lhe perto, uma senhora, saída da Igreja de crente, perguntando-lhe, quando fora última vez que rezou e depois convidando à adentrar o recinto para a missa. Barrado antes, que aceitasse, pelo segurança que dizia à ambos, só entraria se pagasse o ingresso.
A mulher nada percebeu, o quanto as ordens de seus missionários e pastores era discriminatória. Sua ingenuidade era absurda. Ela, de simpática, queria apenas aumentar o rebanho evangélico de sua Igreja. O segurança, deverás instruído, provavelmente, logo viu, que o homem era um sujeito de rua, sem nada na carteira, muito menos conta em banco. Vejam só, pra rezar nesses palcos de Cristo é preciso comprovar renda; disparates.
Ah, ia me esquecendo, o tal homem queimado de sol, barbado e grisalho. Olhem só, preciso mesmo dizer, ele é lógico que não aceitou o convite da senhora. Agradeceu, por gentileza, já não vista em tempos atuais, em cidades grandiosas como essa. Ele, apesar da insanidade aparente, do cheiro forte de bebida, percebera de verdade, a má intenção do segurança e daquela gente de estirpe pouco branda. Recomendou a senhora que tomasse conta de suas orações para não ser tapeada e disse que continuaria cantando versos pelas esquinas, aos passarinhos.
quinta-feira, junho 28, 2007
Fatos

sábado, junho 23, 2007
Desenfarte
Sujeitinho em desassossego, se esvaziava aos poucos, parecia vomitar palavra por palavra toda enfermidade do mundo, de todas as Eras do homem sapiens, pouco a pouco. A dimensão disso tudo é contrastante. Feito o homem da padaria, que morrera, de infarto, carregado durante anos de tensão, com os filhos problemáticos, mas altas taxas de gordura e nicotina, entupiu-lhe as veias e um belo dia, digo, mal dia, bateu com a caçuleta. A viúva tratou logo de se agregar com entregador de pizzas, dez anos mais jovem e fugida zarpou na vida. Ah, o homem de qual falava, esse é o contrário de um tudo.
Enquanto uns morrem enfastigados, este traste, prestes vai a morrer de vazio. Já não tem mais ar que o comprima, estado de graças, flutua feito astronauta perdido, parece um zanzazão maluco, gravidade nenhuma prende-o em terra. Mas quem enganas - a mim não. A mim teus olhos não são opacos.
De tanto vazio, tem alguma razão de haver. Seja pela decepção com o viver, pela ignorância das pessoas perante-o, sejam por infelicidades quaisquer. De modo faz todos pensarem, nesse tal de infarto, é culpa do mal hábito ou do mal vivido?
E doi forte no braço, dor sobe pro coração, diz quem sobrevive, nunca sabe ao certo, se sai do coração e cai nas pernas - fulminante. É dessa moléstia, uns passam pelo tal coma. Já vi em filme, sujeito entre a vida e a morte, num corredor de luz, algo puxando pra beira de lá mortos - enquanto doutores repuxam o vitimado à base de eletro-choques no peito. O "des-morto" vai que num vai, feito elástico, mas o céu pode menos que a UTI? Não sabe-se, não mesmo.
É fato, de novo, o esvaziado de vida, andava por cima duma ladeirona de pedras, quando sentiu a "não dor", coisa esquisita. Sentia o que ninguém sente, uma "desdor" danada. Caiu rolando pedras abaixo. Morto.
Levado para examinar, abriram nele do peito abaixo um corte, foi que por surpresa de toda medicina, nada havia. O homem estava seco por dentro, nem sangue, nem órgãos, nem veias, nem nada; nada mesmo, nem sonhos.
Era um escuro só.
quarta-feira, junho 20, 2007
Estórias - Ato Final
_Havia dois homens nessa cela, estiveram presos aí por anos, foram-lhe dados a permissão para voltar ao convívio da sociedade.
_eles morreram ontem.
_como aconteceu?
_Pneumonia senhor.
_ não foram tratados?
_foi a friagem do concreto.
_eram perigosos?
_nunca deram um grito sequer em tantos anos.
_Pra quê então uma cela de concreto fria e cinzenta?
_Não sei, coisa lá de cima.
_Se não representavam perigo e jamais deram algum motivo pra tanto...Não consigo entender tamanha injustiça. Esse lugar não cuida de seus doentes, não lhes deram remédios?
_Não pediram.
_E se pedissem, dariam?
_Hum, não.
_E porque não?
_são loucos.
_E sendo loucos devem morrer?
_Sim senhor.
_Quem disse?
_Eles lá de cima.
_Ouviu alguém falando?
_Todos aqui falam.
_Porque acha que eles não gritaram ou pediriam ajuda?
_Porque saberiam que não seriam ajudados.
_sendo assim?
_sendo...
_diga você rapaz
_sendo assim, não eram loucos
_Ah, descobriu - eureca
_ O que é eureca?
_cale-se. Agora entende?
_ainda não.
_Ou finge-se de tolo.
_Eles eram tolos - não gritaram.
_Mas não seriam ajudados por ti.
_Não mesmo.
_ E porquê.
_Não gostava deles.
_Porque, diga-me.
_eram loucos.
_acabou de falar o contrário.
_Como?
_ que não eram loucos.
_É, eu falei. Mas se estavam aqui, nesse hospital, eram loucos sim.
_Você também está, nem por isso é louco, ou estou errado.
_Não - eu tenho consciência das coisas.
_e eles não o tinham.
_será?
_quer descobrir?
_tudo bem.
_Porque não gritaram por ajuda médica?
_Porque não seriam ajudados.
_E eles sabiam, alguém lhes avisou?
_não, deduziram.
_uma dedução é coisa de alguém sem consciência?
_não
_O que me diz?
_O senhor vai me prender?
_poderia
_O senhor vai me crucificar? Vai me algemar? Vai me deixar padecendo numa cela como esta, na qual, esses dois pobres coitados, injustiçados por anos, na escuridão, no frio, na solidão, abstraíndo-se do mundo real, buscando vida, no lugar algum, mas mantendo ainda, mesmo que por sofrimento, a consciência de que eram resultado da discriminação da sociedade.
_O senhor entendeu tudo. Meu trabalho está feito.
_E eles lá em cima. Não terão uma lição?
_Eles - jamais existiram.
segunda-feira, junho 18, 2007
Estórias - Ato um
_ Não lembro mais meu nome...
_ É, eu lembro
_ Pode me dizer então?
_ Pra quê quer saber?
_ Ajudaria entender essa situação.
_ A nossa, é nenhuma.
_ Nenhuma, mas vivemos.
_ É Tomé.
_ O que?
_ Tomé, seu nome.
_ claro...que não - se fosse Tomé lembraria certamente. Não me sinto um Tomé.
_Pois, sinta-se, é um Tomé. E eu sou Pedro.
_nomes bíblicos - porque nos foram dados nomes assim, somos desgraçados por isso.
_ Ele te chamou de Tomé.
_ Ele quem? Fale coisa com coisa.
_ O homem que nos trancou, vestido de branco.
_ Também estamos vestidos de branco, talvez, nós mesmos nos trancamos aqui.
_Como sabe que isso é branco. Isso é uma imundice. A luz foge daqui, vivemos nas trevas.
_ Mas eles nos dão comida.
_ Agora então você acredita.
_ Em que?
_Neles, você acabou de falar.
_ Falei, mas foi súbito, entende.
_ Não. O prato passa por baixo da porta, como prisioneiros. E vem sempre a mesma comida de porcos, odeio.
_ Porque você é assim, tão ríspido.
_Alguém aqui precisa se manifestar.
_ Para as paredes?
_ Não seja ironico comigo, ou te dou um pontapé na cara.
_ Faria isso comigo, seu unico amigo, ouvinte, nas trevas.
_Não, acho que não, mas é que você me irrita com sua conformidade.
_Somos imutáveis, Tomé.
_Pedro.
_ O que foi?
_ Não idiota, Pedro sou eu.
_ Eu sei, ja me disse.
_ Você bagunça tudo, até o que é evidente.
_Me diga - de que adianta nomes, se nas trevas somos nada. Só temos a nós mesmos.
_ Não foi tu mesmo que disse a pouco que talvez ajudaria.
_ Tomé, Tomé.
_Sou PEDRO, já disse, seu asno.
_ calma, falo comigo, não consigo.
_ você é um maluco.
_ De fato, por isso nos prendem.
_ Ta vendo, você acredita neles.
_ Sempre há mais alguém. O mundo é grande.
_ Como sabe, estamos aqui por Eras.
_você contou o tempo?
_ pelo tamanho de nossos cabelos, barba, pelas dores nos dentes, pelas estações do ano, pelas goteiras das paredes cinzentas e gélidas, pela quantidade de resfriados que pegamos nesse iceberg de concreto, pelos arranhões no chão, pelos gritos e uivos desesperosos, pelo choro de impotência...
_Pare...
_Porque, tem medo de saber a verdade, preferes teu mundo imaginário?
_Sim, é muito melhor.
_ você bem sabe, que é tudo falso. E você chora toda madrugada, por que não podes matar-se.
_Não?
_Quem é você, e eu?
_ Estamos confusos, repetitivos, vivendo personagens
_Ou falamos com nossas sombras.
_Sombras na escuridão.
_Sinal de luz, amigo, até mesmo aqui, a luz penetra.
_E porque não nos salva?
_Não merecemos?
_E merecemos isso.
_Não me respondeu, teu sonhador bastardo.
_ O que amigo?
_Porque não "te matas, a ti mesmo?"
_Como deixaria ti, sozinho nesse inferno.
_Então você tem consciência?
_Sim, eles que não.
domingo, junho 10, 2007
estórias
Dois homens na porta falavam sim, na verdade, o mais baixo, gordinho de bigode contava um causo, de alguém outro alguém. Um ninguém qualquer, parecia desconhecido ao gordinho de bigode, dado seu grau de intimidade ao contar a tal coisa ao outro homem - mais alto, de boné e sujo de tinta - pintor de paredes certamente.
O baixinho de bigode parecia cantar e não contar - melodiava feito repente, a tal estória -
Era homem só, de qualquer lugar
desses que se vê por cá e Lá
tinha mulher e filhos
tidos na época certa
menina moça esperta,
menino forte a beça
Deu de querer ser escritor,
passou a ler toda biblioteca,
no quarto ficava trancado
escrever, ler, escrever sem parar
acabou emudecido. Ora só
você que não me creia, mas o homem
esqueceu de falar, por um bom tanto tempo,
que de tal desatento
mudo passou, a ser sua condição.
Aí então, ralhei com eles, ali dois homens fechados em conversa, falando de alguém desconhecido, como se fosse conversa séria. O de bigode me olhou feio, como se falasse, não falou, pensou, talvez, na verdade eu imagino isso- acabou de chegar e já se intrometendo. Queria saber, porque alguém que lê e escreve, fica assim mudo do nada. O homem mais alto de boné abriu a boca grande, sem dentes - isso é pergunta?
Então desatei a dizer - já fui escritor de versos, leitor de poemas, e posso muito bem falar, vejam só, estou falando sim. E é claro, que o que fiz, foi apenas lhe perguntar. Assim, os dois homens com jeito de desentendidos me disseram: meu amigo, bendito seja teu suco de maracujá, pois, está a precisar. Mas o que conto é só uma estória.
Pois, era isso, de início, que perguntei, se era estória - e me olharam um tanto assustados. O de boné retrucou - sabe o que é isso, é nervoso de cidade grande, é muito cimento e concreto. O de bigode, apaziguou, dizendo - sou um contador de causos. Mas, mais vejam, eles se indagaram a mim - o senhor disse aí, dentre tantas faladeiras, que é escritor, leitor, mas e então.
E então, no dia que recuperei a voz, da rouquidão de alma doente, saí para pagar. E pagar o que??? - outro gritou de dentro do bar. Pagar a promessa que fizera.